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POLÊMICA
Dornbusch, professor do MIT, responde às críticas do ex-economista-chefe do Banco Mundial ao FMI
Stiglitz versus FMI: mais uma opinião
RUDI DORNBUSCH
A Ásia está demonstrando taxas
de crescimento miraculosas, uma
vez mais. A Coréia do Sul, um dos
países mais atingidos pela crise de
97/98, já tem um nível de Produto
Interno Bruto (PIB) 12% superior
ao que tinha antes da crise. Qual é
a lição? As políticas do Fundo
Monetário Internacional (FMI)
funcionam; a noção de incompetência e de soluções inadequadas
apontada por Joseph Stiglitz em
seu artigo é completamente frívola e, evidentemente, egoísta.
O que mais ofende no texto, e a
maior inverdade, é a sugestão de
que a equipe do FMI consiste de
"estudantes de terceira categoria
das universidades de primeira linha". (Será que o mesmo se aplica
aos ex-colegas dele no Banco
Mundial?). Em Harvard e no
MIT, bem como em todas as demais escolas importantes, os doutores recém-titulados que não
conseguem empregos nas cinco
maiores universidades mundiais
optam pelo FMI e pelo Banco
Mundial. E isso é uma vantagem,
na verdade. As pessoas com mais
chance de serem escolhidas inicialmente pelas universidades para cargos acadêmicos provavelmente serão um tanto teóricas demais para o trabalho mais cru da
condução política. Stiglitz mesmo, com sua predileção pelas exceções intrigantes de preferência
à regra geral, é um exemplo claro.
Nem o FMI nem o Banco Mundial precisam de teóricos; o que
lhes serve melhor são veterinários
rurais bem treinados. Como o
grande Edwin Kemmerer, de
Princeton -o Jeffrey Sachs dos
anos 20-, disse: "Na periferia, a
enxada impera".
A alegação de Stiglitz de que a
ignorante e arrogante equipe do
FMI empregou medicamentos
drasticamente errados -orçamentos sob estrito controle e altas
taxas de juros- e transformou
uma situação difícil em um desastre generalizado é tão contraditória quanto errada. O que ele quer
dizer? Diante de governos que estavam sofrendo golpes da ordem
de 50% (ou mais) do PIB em suas
finanças públicas devido à falência de bancos e à inadimplência
generalizada, políticas fiscais
frouxas deveriam ser a regra? Ante o colapso das divisas devido à
pressão causada pela fuga de capitais, as taxas de juros deveriam ter
sido cortadas a fim de baratear o
custo de tirar dinheiro do país e
derrubar ainda mais o câmbio?
Estranho, muito estranho. Nos últimos cem anos, a regra vem funcionando sem erro: a estabilização começa com as taxas de câmbio e as finanças públicas. Os investidores recuperam a confiança
e reconduzem seu dinheiro aos
países onde vêem política fiscal
conservadora e taxa de juros elevada. Basta fazê-lo por alguns meses e tudo volta aos trilhos. Era essa a política da Liga das Nações
nos anos 20, com grande sucesso,
e desde sempre vem sendo a política do FMI. Continua a funcionar.
A Coréia do Sul está florescendo, e o mesmo vale para o resto da
Ásia. As taxas de juros caíram depois de alguns meses, com o retorno de capitais estabilizando e
propiciando altas de câmbio; as
finanças públicas puderam começar a ser relaxadas assim que os
investidores compreenderam que
o fim do mundo não estava chegando. Nos países em que a orientação do FMI foi seguida prontamente e sem hesitação, a recuperação foi mais rápida. Mas em lugares como a Indonésia, onde as
autoridades vacilaram, a crise
continua.
Quando os países chegam de
maca ao FMI não é hora de idéias
bonitinhas. Políticas drásticas são
necessárias para evitar a hemorragia, o colapso da moeda e a irreparável depressão econômica. A
estabilização não é um concurso
de popularidade ou um seminário de pesquisa. Hoje, nenhum
ministro das Finanças optaria pela Clínica Stiglitz de Medicina Aliterativa; eles pedem que as ambulâncias os levem ao FMI. E quando o fazem, os mercados recuperam a confiança rapidamente e
daí é só um pequeno passo para a
normalização.
Stiglitz se queixa de que ninguém o ouviu, exceto o dr. Mahatir, outro charlatão. Não surpreende! É verdade que Stiglitz é
um economista renomado, que
um dia deve ganhar um Nobel
por sua contribuição teórica à explicação dos fracassos do mercado.
Mas ninguém jamais o considerou um economista político, e
muito menos alguém que tenha a
mais remota idéia sobre macroeconomia e estabilização. Afinal,
ele é ex-economista-chefe do
Banco Mundial que, em meio à
crise asiática, sugeriu que a China
desvalorizasse sua moeda, com a
provável consequência de causar
um novo colapso por toda a Ásia.
Ainda bem que ninguém o ouviu.
A Ásia vai bem. A principal lição para o FMI é que da próxima
vez eles deveriam aplicar exatamente a mesma receita e desfrutar de sucesso igualmente espetacular. Parabéns à brilhante equipe
do Fundo Monetário Internacional.
Rudi Dornbusch é professor de economia e
administração internacional do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
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