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ARTIGO
Alta nas taxas ameaça famílias e empresas
PAUL KRUGMAN
"Sim, a república está em perigo", disse um amigo.
"Mas o que vai acontecer com as
taxas de juros?"
Está bem, vamos dar uma folga
à política. Nos últimos dois anos
as taxas estiveram muito baixas.
Em junho passado a taxa dos títulos para dez anos atingiram seu
mais baixo nível em 48 anos. Três
semanas atrás a taxa continuava
abaixo de 4%, nível visto pela última vez em 1963.
Se a economia se recuperar plenamente, as taxas de juros aumentarão acentuadamente. Em
seu relatório Perspectivas Econômicas Mundiais, a ser divulgado
hoje, o FMI (Fundo Monetário
Internacional) pede que o Federal
Reserve (banco central americano) prepare a economia para taxas maiores, para "evitar a ruptura do mercado financeiro, tanto
internamente como no exterior".
Mas até onde as taxas vão subir?
Não vamos entrar na "kremlinologia" de Greenspan, esmiuçando
os resmungos do presidente em
busca de pistas sobre a próxima
medida do Fed. Perguntemos, em
vez disso, quanto as taxas vão subir se e quando as condições normais de oferta e demanda voltarem ao mercado de títulos.
Meus cálculos continuam me
levando para uma taxa de 7% para os títulos de dez anos, e uma taxa de hipoteca de 8,5% -com
uma possibilidade substancial de
que os números sejam ainda
maiores. As taxas atuais estão em
cerca de 4,4% e 5,8%, respectivamente. Você pode ver por que o
FMI está preocupado com a "ruptura do mercado financeiro".
Por que 7%? Bem, nos últimos
20 anos o rendimento médio dos
títulos de dez anos ficou na verdade ao redor de 7%.
Alguns dizem que, ao contrário
das taxas do passado, as futuras
não incluirão um prêmio para inflação esperada. De fato, nos últimos 20 anos o índice médio de inflação foi de 3%, consideravelmente maior que a experiência recente. Mas nos primeiros três meses de 2004 os preços subiram a
um índice anual de mais de 5%.
Mais realistas, os investidores
esperam uma inflação considerável nos próximos dez anos. A
margem entre os títulos protegidos contra inflação, cujos pagamentos são indexados ao CPI (Índice de Preços ao Consumidor, na
sigla em inglês), e os títulos comuns indicam uma taxa esperada
de 2,5% para a próxima década.
Durante muitos anos os defensores dos cortes fiscais insistiram
que as leis normais da oferta e da
demanda não se aplicam ao mercado de títulos, em que os empréstimos do governo -ao contrário dos empréstimos feitos por
famílias ou empresas - não afetam as taxas de juros.
Risco déficit
Mas isso não se discute entre
economistas sérios. Por exemplo,
um livro-texto de Gregory Mankiw, o atual economista-chefe da
Casa Branca, declara -em itálico- que "quando o governo reduz a poupança nacional entrando em déficit orçamentário, a taxa
de juros sobe".
Estimativas dizem que o déficit
público deverá elevar as taxas de
juros para dez anos em cerca de
um ponto percentual. Como indiquei antes, os déficits gêmeos, orçamentário e comercial, fariam
soar alarmes se os EUA fossem
um país do Terceiro Mundo. Por
enquanto os EUA têm o benefício
da dúvida, mas, se os mercados financeiros decidirem que nos
transformamos em uma república de bananas, o céu é o limite para as taxas de juros.
Muitas famílias e empresas terão grande dificuldade se as taxas
de juros realmente subirem tanto
quanto estou sugerindo. É por isso que o FMI está pedindo que o
Fed se manifeste.
Suspeita-se que o Fundo, que,
como Alan Greenspan, tende a
transmitir mensagens em código,
está disparando um tiro contra o
arco de Greenspan. Vários analistas acusaram o presidente do Fed
de promover uma bolha da dívida
nos últimos anos, assim como o
acusam de alimentar a bolha das
ações na década de 90.
Apenas dois meses atrás,
Greenspan esforçou-se para enfatizar os benefícios financeiros das
taxas de hipotecas ajustáveis, e
não fixas. Vamos esperar que
poucas famílias tenham considerado isso um conselho útil.
Paul Krugman, economista, é colunista
do "New York Times" e professor na Universidade Princeton (EUA).
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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