São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2004

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RECEITA ORTODOXA

Ministro nega que esteja em discussão dentro do governo a possibilidade de uma inflação maior em 2005

Mudar a meta não está em pauta, diz Palocci

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, disse ontem que a revisão da meta de inflação para 2005 não está na pauta de discussões do governo. Segundo ele, o direito de propor mudanças na meta faz parte da democracia, mas reiterou que o assunto não está em debate no governo.
"Vou fazer o debate sempre que for chamado para tal, mas essa não é uma pauta do governo. Isso não está na pauta do governo, não está sendo debatido", declarou Palocci. Questionado se a meta de 4,5% para 2005 não seria muito baixa, ele respondeu: "Isso não está na pauta. É um assunto resolvido, foi debatido".
O ministro ainda disse que não recebeu pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que a equipe econômica revise a meta para o ano que vem. "O presidente não me pediu nada sobre meta de inflação", afirmou.
Apesar das negativas públicas de Palocci, Lula tem debatido internamente a eventual mudança de meta de inflação de 2005. O presidente já deixou claro para o ministro que gostaria de alterá-la, mas também fica contrariado com o vazamento de discussões delicadas.
Nesse contexto, Palocci ganha argumento para tentar não alterar a meta. Mas ele está isolado na cúpula do governo. Ontem, o presidente pediu a seus ministros e auxiliares que evitassem tratar desse assunto com jornalistas.

Senado
As declarações de Palocci foram feitas após reunião com líderes dos partidos no Senado para tratar de mudanças na medida provisória da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) sobre produtos importados. O encontro foi no gabinete do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).
Mercadante é o principal entusiasta da proposta de alterar a meta de inflação do ano que vem de 4,5% para 5,5% (que é o alvo do governo para 2004). "Todos têm direito de propor. Assim é a democracia", disse Palocci ao ser questionado sobre a proposta de Mercadante.
Evitando um confronto com o ministro, o senador avaliou suas declarações dizendo que o debate sobre a meta de inflação necessariamente ocorrerá no futuro. "O assunto estará na pauta do CMN [Conselho Monetário Nacional] no futuro necessariamente e nessa oportunidade a meta do ano que vem pode ser alterada. Eu lutarei para que seja."
Ele lembrou que a decisão sobre a alteração da meta de inflação compete ao CMN. Em junho, o conselho terá que estabelecer a meta para 2006 e pode rever a meta de 2005. "O conselho ainda não tomou essa decisão. O que nós temos é um debate legítimo e democrático, com sugestões que inspirem a decisão do CMN", afirmou Mercadante.
Na avaliação do líder governista, a meta de 5,5% para o próximo ano é mais realista e garantiria mais credibilidade ao regime brasileiro. "Se a gente olhar para nossa história econômica, só em dois anos, em 1947 e 1998, o Brasil teve inflação abaixo de 5,5%. Esse é um argumento bastante consistente", afirmou.
O senador acrescenta que, depois das eleições nos Estados Unidos, a economia internacional pode promover uma elevação nas taxas de juros, o que teria efeitos sobre a economia brasileira. "Nesse caso, se a meta de inflação no Brasil for muito baixa, isso significa juros mais altos, crescimento menor e mais desemprego."


Colaborou Kennedy Alencar, da Sucursal de Brasília

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