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RECEITA ORTODOXA
Ministro nega que esteja em discussão dentro do governo a possibilidade de uma inflação maior em 2005
Mudar a meta não está em pauta, diz Palocci
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho, disse ontem que a
revisão da meta de inflação para
2005 não está na pauta de discussões do governo. Segundo ele, o
direito de propor mudanças na
meta faz parte da democracia,
mas reiterou que o assunto não
está em debate no governo.
"Vou fazer o debate sempre que
for chamado para tal, mas essa
não é uma pauta do governo. Isso
não está na pauta do governo, não
está sendo debatido", declarou
Palocci. Questionado se a meta de
4,5% para 2005 não seria muito
baixa, ele respondeu: "Isso não está na pauta. É um assunto resolvido, foi debatido".
O ministro ainda disse que não
recebeu pedido do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva para que
a equipe econômica revise a meta
para o ano que vem. "O presidente não me pediu nada sobre meta
de inflação", afirmou.
Apesar das negativas públicas
de Palocci, Lula tem debatido internamente a eventual mudança
de meta de inflação de 2005. O
presidente já deixou claro para o
ministro que gostaria de alterá-la,
mas também fica contrariado
com o vazamento de discussões
delicadas.
Nesse contexto, Palocci ganha
argumento para tentar não alterar
a meta. Mas ele está isolado na cúpula do governo. Ontem, o presidente pediu a seus ministros e auxiliares que evitassem tratar desse
assunto com jornalistas.
Senado
As declarações de Palocci foram
feitas após reunião com líderes
dos partidos no Senado para tratar de mudanças na medida provisória da Cofins (Contribuição
para o Financiamento da Seguridade Social) sobre produtos importados. O encontro foi no gabinete do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).
Mercadante é o principal entusiasta da proposta de alterar a meta de inflação do ano que vem de
4,5% para 5,5% (que é o alvo do
governo para 2004). "Todos têm
direito de propor. Assim é a democracia", disse Palocci ao ser
questionado sobre a proposta de
Mercadante.
Evitando um confronto com o
ministro, o senador avaliou suas
declarações dizendo que o debate
sobre a meta de inflação necessariamente ocorrerá no futuro. "O
assunto estará na pauta do CMN
[Conselho Monetário Nacional]
no futuro necessariamente e nessa oportunidade a meta do ano
que vem pode ser alterada. Eu lutarei para que seja."
Ele lembrou que a decisão sobre
a alteração da meta de inflação
compete ao CMN. Em junho, o
conselho terá que estabelecer a
meta para 2006 e pode rever a meta de 2005. "O conselho ainda não
tomou essa decisão. O que nós temos é um debate legítimo e democrático, com sugestões que
inspirem a decisão do CMN",
afirmou Mercadante.
Na avaliação do líder governista, a meta de 5,5% para o próximo
ano é mais realista e garantiria
mais credibilidade ao regime brasileiro. "Se a gente olhar para nossa história econômica, só em dois
anos, em 1947 e 1998, o Brasil teve
inflação abaixo de 5,5%. Esse é
um argumento bastante consistente", afirmou.
O senador acrescenta que, depois das eleições nos Estados Unidos, a economia internacional pode promover uma elevação nas
taxas de juros, o que teria efeitos
sobre a economia brasileira.
"Nesse caso, se a meta de inflação
no Brasil for muito baixa, isso significa juros mais altos, crescimento menor e mais desemprego."
Colaborou Kennedy Alencar,
da Sucursal de Brasília
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