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RECEITA FEDERAL
Secretário é acusado pelo Ministério Público de obstruir investigação da Corregedoria do órgão na qual é suspeito
Rachid vira réu em processo de improbidade
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O secretário da Receita Federal,
Jorge Rachid, virou réu num processo de improbidade administrativa acolhido pela Justiça Federal no último dia 4.
Rachid é acusado pelo Ministério Público de obstruir investigação realizada pela Corregedoria
do órgão na qual ele é um dos
principais suspeitos de supostas
irregularidades na autuação da
construtora OAS em 1994.
De acordo com a assessoria da
Receita Federal, "todos os questionamentos contidos na ação do
Ministério Público Federal são refutados de forma contundente na
defesa prévia apresentada pela
Advocacia Geral da União em fevereiro".
A multa contra a construtora
baiana caiu de R$ 1,1 bilhão para
R$ 25 milhões. Na defesa da OAS,
estavam os auditores Paulo Baltazar Carneiro e Sandro Martins Silva- este foi assessor especial de
Rachid até 2003.
Com a redução do valor da autuação contra a OAS, os dois auditores "anfíbios" (ora estão na Receita ora na iniciativa privada
contra o Fisco) ganharam R$
18,35 milhões.
Inflado
A comissão de inquérito criada
em 2003 levantou indícios de que
o auto teria sido inflado artificialmente pela equipe de fiscalização,
integrada por três pessoas e da
qual Rachid fazia parte na época
como auditor, para permitir que
Silva e Carneiro ganhassem milhões de reais com a redução da
multa.
De acordo com dados levantados pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal, desde
2003 Rachid e a cúpula da Receita
têm agido para evitar as investigações conduzidas pela comissão de
inquérito criada naquele ano pelo
ex-corregedor Moacir Leão.
Em diálogos gravados pela Polícia Federal na época, com autorização judicial, um amigo de Rachid, o auditor Flávio Franco Corrêa e um assessor direto do secretário, Leonardo Couto, conversam ao telefone sobre o caso.
"Porra, eu não sei por que isso aí
já não teve um desfecho [...]. Pega
essa porra e enfia na mão do ministro [da Fazenda]. O ministro
lê, conversa com o procurador da
Fazenda [Manoel Felipe Rego],
para dar respaldo, o caralho, porque o procurador vai fazer evidentemente tudo aquilo que você
achar que tem que fazer", disse
Corrêa a Couto no dia 2 de agosto
de 2003.
Pouco tempo depois dessa conversa, o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, solicitou parecer à Procuradoria Nacional da Fazenda, o que foi feito
por Manoel Felipe no dia 13 do
mesmo mês.
No documento, Felipe interpretou que o corregedor não teria poderes para investigar o secretário
da Receita.
No curso das investigações do
caso OAS, Rachid foi intimado a
depor, mas só o fez nove meses
após a convocação.
Em junho último, o mandato de
Leão como corregedor da Receita
venceu. Palocci poderia tê-lo renovado por mais três anos, mas
não manteve Leão no cargo. Para
seu lugar, designou Marcos Rodrigues de Melo, escolhido por
Rachid.
No dia 6 de outubro do ano passado, Jorge Rachid assinou uma
portaria pela qual determinou
que integrantes de comissão de
inquérito que atuassem como peritos cedidos à Justiça ou a outras
repartições do serviço público teriam que informar a seus superiores na Receita Federal repasses de
documentos requisitados por esses órgãos.
Por essa portaria, o auditor nessa situação pode ser afastado de
comissão de inquérito.
Inquérito
Segundo o Ministério Público, o
único servidor no país nessas condições, na época em que a portaria foi editada, era o presidente da
comissão de inquérito do caso
OAS, o auditor Washington
Afonso Rodrigues.
No dia 24 de fevereiro deste ano,
a comissão de inquérito notificou
Rachid no caso OAS, quando ele
passou a ser acusado formalmente de suposta irregularidade.
Uma semana depois da notificação, no dia 2 de março, a corregedoria afastou os três integrantes
da comissão de inquérito.
Na semana seguinte, a corregedoria abriu dois procedimentos
de inquérito contra o ex-presidente da comissão que investigava o caso OAS.
A alegação da abertura do primeiro inquérito foi que a comissão havia passado informações
para o Ministério Público. Os documentos foram requisitados pelo Ministério Público e serviram
de base para o processo movido
contra Rachid.
O segundo inquérito seria pelo
fato de a comissão não ter chegado, após três anos de investigação,
à fase de indiciamentos.
(LEONARDO SOUZA E RUBENS VALENTE)
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