|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bolívia volta a assustar Brasil sobre gás
Governo vizinho anunciou corte de parte do envio ao país, mas, no fim da noite, disse que retomou campos invadidos
Segundo autoridades do país, envio do produto
para Brasil e Argentina será normalizado até
o meio-dia de hoje
DA REDAÇÃO
Por causa das invasões e de
bloqueios nos últimos dias nos
campos de gás natural, o governo da Bolívia anunciou que reduziu, na madrugada de ontem,
a quantidade do combustível
enviado ao Brasil e à Argentina.
O corte, no entanto, durou
pouco, já que o Exército anunciou na noite de ontem que retomou o controle de uma estação da Transredes, que transporta o gás para a Argentina.
Segundo a agência Reuters,
uma autoridade boliviana afirmou que o envio de gás aos dois
países será retomado até o
meio-dia de hoje. O ministro da
Defesa, Walker San Miguel,
disse que as forças militares e
policiais retomaram o controle
das instalações petrolíferas que
haviam sido invadidas por manifestantes. Alfredo Rada, da
pasta do Interior, afirmou que a
retomada foi pacífica.
Desde a última terça-feira,
uma pessoa morreu e dezenas
ficaram feridos em um conflito
que envolve duas províncias do
sul do país.
A assessoria da Petrobras na
Bolívia não conseguiu confirmar se tinham sido encerrado
os bloqueios aos acessos ao
campo de San Alberto, operado
pela empresa brasileira. No início da noite, ela disse que estavam bem os cerca de 60 funcionários que não podiam deixar
suas instalações. Pelo menos
cem manifestavam impediam a
entrada ao campo.
Na manhã de ontem, a YPFB,
a estatal boliviana do setor, disse que o envio diário de gás à
Petrobras seria reduzido de
24,6 milhões de m3 para 24 milhões m3. No caso, ele envolvia
o contrato da Comgás (da britânica BG Group), que, apesar
de vir junto no gasoduto Brasil-Bolívia, é uma operação à parte. O acordo da Comgás prevê o
envio diário de 0,65 milhão de
m3.
O vice-presidente da YPFB,
Sebastián Daroca, afirmou que
os cortes atingiram o ramal de
Cuiabá (não operado pela Petrobras), que não receberia gás
-atualmente a Bolívia envia
diariamente 1,2 milhão de m3.
O ministro Silas Rondeau
(Minas e Energia) disse que um
plano de contingência só seria
necessário a partir da próxima
quinta-feira. Petrobras e Comgás descartaram riscos imediatos de desabastecimento.
O Brasil importa da Bolívia
de 24 milhões a 26 milhões de
m3 diários de gás, que abastecem São Paulo, os Estados do
Sul e parte do Centro-Oeste.
A Argentina seria a principal
afetada pelo corte na produção.
Dos 5 milhões de m3 enviados
diariamente pela Bolívia, ela
receberia 1,2 milhão de m3.
Bloqueio
De acordo com Daroca, os
cortes não foram provocados
pelo bloqueio iniciado na quinta-feira no campo de San Alberto, operado pela Petrobras, mas
pela invasão do campo de Pocitos, administrada pela Shell. As
instalações na cidade de Yacuiba foram invadidas na terça.
Por causa da invasão, o sistema de bombeamento de Pocitos não estava funcionando, o
que impedia o transporte do
gás do campo da Petrobras.
Sem poder enviá-la, a Petrobras poderia parar a partir de
domingo a sua produção em
San Alberto, o segundo principal campo que tem na Bolívia.
Ela reduziu ontem de 10 milhões de m3 para 3,4 milhões de
m3 a sua produção diária.
Royalties
No cerne do conflito, está a
disputa entre duas províncias
do Departamento de Tarija
(sul, onde estão as principais
reservas do país) pela região de
Chimeo. Na prática, a disputa é
pelos US$ 80 milhões de royalties gerados pelo campo de
Margarita, o terceiro principal
da Bolívia (atrás de San Antonio e San Alberto, operados pela Petrobras).
Há três anos, as províncias de
Gran Chaco e O'Connor disputam a posse do local. As invasões realizadas nos últimos
dias foram feitas por moradores dessas localidades para
pressionar o governo a tomar
decisão favorável as suas províncias.
Ontem, o vice-presidente boliviano, Álvaro García Linera,
esteve reunido com os representes de O'Connor para tentar
encontrar uma solução para o
conflito. Os dirigentes de Gran
Chaco, que também foram convidados, preferiram não comparecer.
"Os limites não se negociam,
se respeitam. Não há nada para
negociar. Nós não podemos
dialogar com alguém que pretende nos tirar o nosso território", afirmou Luís Alberto Jiménez, que faz parte de um comitê que defende a posse de
Chimeo para Gran Chaco.
Já o prefeito de Entre Ríos
(capital de O'Connor), Teodoro
Suruguay, defendeu a posse de
Chimeo para a sua província.
"Nós comprovaremos com documentos que somos donos da
região de Chimeo. Hoje mais do
que nunca as autoridades de
governo têm que valorizar os
documentos. Porque as decisões judiciais se ganham com
provas, e não com chantagens."
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Conflito deixou governo em estado de alerta Índice
|