São Paulo, sábado, 21 de abril de 2007

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Bolívia volta a assustar Brasil sobre gás

Governo vizinho anunciou corte de parte do envio ao país, mas, no fim da noite, disse que retomou campos invadidos

Segundo autoridades do país, envio do produto para Brasil e Argentina será normalizado até o meio-dia de hoje


DA REDAÇÃO

Por causa das invasões e de bloqueios nos últimos dias nos campos de gás natural, o governo da Bolívia anunciou que reduziu, na madrugada de ontem, a quantidade do combustível enviado ao Brasil e à Argentina.
O corte, no entanto, durou pouco, já que o Exército anunciou na noite de ontem que retomou o controle de uma estação da Transredes, que transporta o gás para a Argentina.
Segundo a agência Reuters, uma autoridade boliviana afirmou que o envio de gás aos dois países será retomado até o meio-dia de hoje. O ministro da Defesa, Walker San Miguel, disse que as forças militares e policiais retomaram o controle das instalações petrolíferas que haviam sido invadidas por manifestantes. Alfredo Rada, da pasta do Interior, afirmou que a retomada foi pacífica.
Desde a última terça-feira, uma pessoa morreu e dezenas ficaram feridos em um conflito que envolve duas províncias do sul do país.
A assessoria da Petrobras na Bolívia não conseguiu confirmar se tinham sido encerrado os bloqueios aos acessos ao campo de San Alberto, operado pela empresa brasileira. No início da noite, ela disse que estavam bem os cerca de 60 funcionários que não podiam deixar suas instalações. Pelo menos cem manifestavam impediam a entrada ao campo.
Na manhã de ontem, a YPFB, a estatal boliviana do setor, disse que o envio diário de gás à Petrobras seria reduzido de 24,6 milhões de m3 para 24 milhões m3. No caso, ele envolvia o contrato da Comgás (da britânica BG Group), que, apesar de vir junto no gasoduto Brasil-Bolívia, é uma operação à parte. O acordo da Comgás prevê o envio diário de 0,65 milhão de m3.
O vice-presidente da YPFB, Sebastián Daroca, afirmou que os cortes atingiram o ramal de Cuiabá (não operado pela Petrobras), que não receberia gás -atualmente a Bolívia envia diariamente 1,2 milhão de m3.
O ministro Silas Rondeau (Minas e Energia) disse que um plano de contingência só seria necessário a partir da próxima quinta-feira. Petrobras e Comgás descartaram riscos imediatos de desabastecimento.
O Brasil importa da Bolívia de 24 milhões a 26 milhões de m3 diários de gás, que abastecem São Paulo, os Estados do Sul e parte do Centro-Oeste.
A Argentina seria a principal afetada pelo corte na produção. Dos 5 milhões de m3 enviados diariamente pela Bolívia, ela receberia 1,2 milhão de m3.

Bloqueio
De acordo com Daroca, os cortes não foram provocados pelo bloqueio iniciado na quinta-feira no campo de San Alberto, operado pela Petrobras, mas pela invasão do campo de Pocitos, administrada pela Shell. As instalações na cidade de Yacuiba foram invadidas na terça.
Por causa da invasão, o sistema de bombeamento de Pocitos não estava funcionando, o que impedia o transporte do gás do campo da Petrobras.
Sem poder enviá-la, a Petrobras poderia parar a partir de domingo a sua produção em San Alberto, o segundo principal campo que tem na Bolívia. Ela reduziu ontem de 10 milhões de m3 para 3,4 milhões de m3 a sua produção diária.

Royalties
No cerne do conflito, está a disputa entre duas províncias do Departamento de Tarija (sul, onde estão as principais reservas do país) pela região de Chimeo. Na prática, a disputa é pelos US$ 80 milhões de royalties gerados pelo campo de Margarita, o terceiro principal da Bolívia (atrás de San Antonio e San Alberto, operados pela Petrobras).
Há três anos, as províncias de Gran Chaco e O'Connor disputam a posse do local. As invasões realizadas nos últimos dias foram feitas por moradores dessas localidades para pressionar o governo a tomar decisão favorável as suas províncias.
Ontem, o vice-presidente boliviano, Álvaro García Linera, esteve reunido com os representes de O'Connor para tentar encontrar uma solução para o conflito. Os dirigentes de Gran Chaco, que também foram convidados, preferiram não comparecer.
"Os limites não se negociam, se respeitam. Não há nada para negociar. Nós não podemos dialogar com alguém que pretende nos tirar o nosso território", afirmou Luís Alberto Jiménez, que faz parte de um comitê que defende a posse de Chimeo para Gran Chaco.
Já o prefeito de Entre Ríos (capital de O'Connor), Teodoro Suruguay, defendeu a posse de Chimeo para a sua província. "Nós comprovaremos com documentos que somos donos da região de Chimeo. Hoje mais do que nunca as autoridades de governo têm que valorizar os documentos. Porque as decisões judiciais se ganham com provas, e não com chantagens."


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