São Paulo, sábado, 21 de abril de 2007

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Sem álcool nos EUA, Brasil não exporta milho

Com dólar a R$ 2,03, o país não seria competitivo

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O que seria do mercado de milho, hoje, sem a utilização do produto como matéria-prima para a produção de álcool nos Estado Unidos?
Leonardo Sologuren, da consultoria Céleres, analisou os dados de esmagamento e utilização de milho no setor de produção de álcool nos Estados Unidos nos últimos 26 anos. A conclusão é que o mercado do produto seria bem diferente hoje, inclusive para o Brasil.
Entre os impactos que a produção de álcool trouxe sobre o produto foi o forte crescimento de demanda interna nos Estados Unidos, que, na safra 2005/6, foi 99,6 milhões de toneladas superior à de 1979/80. Sem o álcool, a demanda interna norte-americana para todos os demais setores teria crescido apenas 55,6 milhões de toneladas.
O setor de álcool, que há 26 anos consumia apenas 1,8 milhão de toneladas de milho, foi responsável pelo consumo de 45,7 milhões na safra 2005/6. Deve chegar a 54,6 milhões em 2006/7.
A demanda norte-americana mexeu com a relação estoques-consumo interno. Historicamente, os estoques representam pelo menos 21% do consumo. Na safra atual, estão perigosamente em 7,5%.
Sem o álcool, os Estados Unidos, que estão diminuindo a participação no mercado externo, teriam exportado mais. Nas contas de Sologuren, o país teria colocado no mercado externo mais 136 milhões de toneladas do que colocou nos últimos 26 anos.

Estoques baixos demais
A produção norte-americana, que já se aproxima dos 300 milhões de toneladas, poderia ser de apenas 243 milhões. Já a área destinada ao produto, que foi de 31,7 milhões de hectares na safra passada, poderia ter sido de apenas 28,7 milhões e, mesmo assim, garantiria a demanda interna e exportações.
Na safra 2007/8, que está sendo semeada, a área é de 36,6 milhões de hectares, a maior desde 1944.
A situação seria bem diferente também para o Brasil, que deverá exportar 7 milhões de toneladas neste ano. Sem a utilização de milho na produção de álcool nos Estados Unidos, o Brasil não teria como exportar. Isso porque o preço médio por bushel (25,2 quilos) estaria na média histórica de US$ 2,30, ao contrário dos US$ 3,80 atuais (contrato de setembro).
Sem preços elevados e com o dólar a apenas R$ 2,028, o país deixaria de ser competitivo no mercado exterior.
A busca de energia no milho nos Estados Unidos mudou também a relação estoques-consumo do mercado global. Atualmente em 11%, os estoques mundiais poderiam estar em 34% em relação ao consumo, diz Sologuren.


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