São Paulo, sábado, 21 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Computador de mão deixa 5 mi na mão

Pane que durou várias horas em serviço dos aparelhos Blackberry muda rotina de executivos nos Estados Unidos

Problema revela grande dependência de usuários em relação ao aparelho; empresa canadense não revela motivos da pane


BRAD STONE
DO "NEW YORK TIMES"

Na terça-feira, às 20h na Costa Leste dos EUA, problemas técnicos impediram que mais de 5 milhões de usuários de BlackBerrys no país obtivessem acesso ao seu muito apreciado serviço de e-mail sem fio. O acesso só foi restaurado dez longas horas mais tarde.
O blecaute do BlackBerry -que une telefone, agena eletrônica, internet, processador de texto- causou sofrimento a muita gente e revelou até que ponto muitas pessoas se tornaram dependentes de seus aparelhos eletrônicos portáteis, emocional e profissionalmente.
Stuart Gold estava em Phoenix, a negócios, quando o serviço sofreu um apagão. Diretor de marketing da Omniture, empresa de software, ele percebeu que os e-mails que tentava enviar haviam subitamente aparecido marcados com um ameaçador X vermelho.
Ele não se orgulha do que aconteceu em seguida. "Eu tive um chilique. Comecei a desmontar o aparelho. Ligava. Desligava. Tirei a bateria e a limpei na camisa. Estava correndo como louco pelo meu quarto de hotel. Foi muito triste. Amo essa coisa."
Às 6h de quarta-feira, muito ansioso quanto à perspectiva de ter de passar um dia inteiro em viagem e sem conexão, Gold acordou e foi imediatamente testar o aparelho. Ainda mudo.
Às 7h, o BlackBerry começou a vibrar com sinais de atividade.
"Soltei um suspiro de alívio."
Muita gente supunha que estivesse sofrendo sozinha.
Lynn Moffat acreditava que houvesse administrado um golpe fatal ao seu BlackBerry ao derrubá-lo, na manhã de terça-feira, em Nova York. Moffat, diretora da New Theater Workshop, descobriu pelo rádio que os problemas eram generalizados. "Fiquei tão aliviada por não ser problema só meu, e sim de todos os meus irmãos e irmãs em BlackBerry."
Outras pessoas passaram por ciclos complexos de emoções, entre as quais certa dose de paranóia. Zach Nelson, presidente-executivo do grupo de software NetSuite, havia levado sua equipe de vendas para uma viagem de lazer em Barbados quando subitamente deixou de receber em seu BlackBerry e-mails dos outros 600 funcionários da companhia. "Comecei a pensar que as pessoas não tinham aparecido para trabalhar por estarem revoltadas já que não haviam sido convidadas para ir comigo ao Caribe."
A Research in Motion, a empresa canadense que produz o BlackBerry, não foi rápida em oferecer informações sobre os motivos do problema, divulgando anteontem um comunicado no qual explicava que "a causa primária está sendo investigada, no momento". Parte do problema, no entanto, pode ser o rápido crescimento do serviço. A Research in Motion afirma que seu quadro de assinantes cresceu em 3 milhões nos últimos 12 meses, para um total de 8 milhões de usuários, em parte devido à popularidade do modelo BlackBerry Pearl, ultrafino.
Os usuários do BlackBerry já passaram por sustos no passado. Em junho, problemas técnicos interromperam o serviço por duas vezes, ainda que os dois defeitos tenham durado apenas algumas horas e estivessem limitados a determinadas operadoras de telefonia móvel que os vendem.
Uma disputa de patentes ameaçava fechar as portas do serviço BlackBerry em definitivo, mais de um ano atrás. Ainda que a Research in Motion tenha negado quaisquer violações de patente, ela evitou a crise por meio de um acordo no valor de US$ 612,5 milhões. Na época, os fiéis usuários do BlackBerry se apavoraram pensando em como viveriam sem o serviço.
Agora eles já sabem. Os sintomas incluem sensação de isolamento, forte tentação de reagir com hostilidade nos contatos com o pessoal de assistência técnica da empresa e um severo anseio, não muito diferente do que uma pessoa sente ao abandonar as drogas.
Elaine Del Rossi, diretora de vendas da HTH Worldwide, uma seguradora, reagiu ao corte de sua "coleira virtual" com diversos telefonemas apavorados ao escritório, por acreditar que o sistema de e-mail de sua empresa tivesse caído.
"Deixei de fumar há 28 anos", ela disse, "e foi mais fácil do que ficar sem o meu BlackBerry".
Mas alguns usuários viram o episódio de maneira diferente e trataram o silêncio como um presente inesperado. Barry Frey, vice-presidente sênior da Cablevision, desceu de um avião na terça-feira e sua reação representa blasfêmia para os devotos do BlackBerry: "Respirei fundo e desfrutei da sensação", disse o executivo americano.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

Texto Anterior: Bebidas: Cervejarias disputam uso da marca Budweiser na Europa
Próximo Texto: Empresários têm que ir para a rua, diz consultor
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.