São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2008

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Lula ataca países ricos em reunião da ONU

Na África, presidente critica subsídios agrícolas e atuação das nações desenvolvidas na crise financeira e no aquecimento global

Brasileiro defende taxação do petróleo e afirma que subsídios agrícolas são "como uma droga que entorpece produtores"

FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A ACRA (GANA)

Pelo segundo dia consecutivo em sua visita à África, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva soltou farpas contra o mundo desenvolvido, desta vez carregando nas críticas aos subsídios agrícolas dos países ricos, à falta de comprometimento com o combate ao aquecimento global e ao gerenciamento da crise financeira internacional.
As frases mais fortes, pronunciadas na cerimônia de abertura da Unctad (conferência da ONU sobre desenvolvimento), em Acra (Gana), ficaram para um dos alvos preferidos do brasileiro, os subsídios agrícolas, para quem eles são "como uma droga que entorpece e vicia seus próprios produtores, mas cujas maiores vítimas são os agricultores das nações mais pobres".
Lula adotou, segundo um auxiliar que o acompanha, uma claríssima estratégia de defender sua política de promoção de biocombustíveis partindo para o ataque contra possíveis detratores, especialmente no mundo rico -muito embora a crítica de que os biocombustíveis tiram terra para o cultivo de alimentos venha também de ícones do socialismo terceiro-mundista, como o ex-presidente de Cuba Fidel Castro. "Não há contradição entre a busca de fontes alternativas de energia e o desenvolvimento de padrões agrícolas que garantam a segurança alimentar", disse. Mais cedo, ele pediu que os países ricos, em vez de taxarem o álcool brasileiro, taxem o petróleo.
Além da crítica aos subsídios dos ricos, pronunciada no discurso de abertura da reunião da Unctad, Lula apontou os "problemas de boa governança financeira nas economias mais ricas do mundo" como a causa da crise de crédito global.
"Não são os países pobres que devem pagar os custos dos ajustes. A globalização, que já traz em si tantas vertentes de assimetria, não pode transferir prejuízos para as economias em desenvolvimento", disse.
O brasileiro foi uma espécie de convidado de honra da reunião da Unctad. Lula, um dos únicos chefes de Estado presentes à abertura do evento, foi também um dos únicos três dirigentes a discursar, ao lado do anfitrião, o presidente ganense, John Kufuor, e do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Lula também alfinetou os ricos por colocarem em risco o cumprimento das chamadas metas do milênio, concebidas para aliviar a pobreza mundial até 2015. "Muitos países pobres, especialmente na África, têm dificuldades para cumprir as metas do milênio. A despeito das promessas, poucos países desenvolvidos lograram dedicar 0,7% de seu PIB à ajuda oficial ao desenvolvimento."
Antes, em discurso na abertura de um escritório da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em Gana, destinado a transferir tecnologia a países africanos, Lula voltou as baterias para o combate ao aquecimento global. Segundo ele, os países ricos não estão cumprindo seus compromissos firmados no protocolo de Kyoto. "Até agora, fizeram muito pouco para cumprir o acordo."
Outra promessa não cumprida, segundo ele, foi a de os ricos oferecerem compensações para países pobres que não desmatarem suas florestas.
Lula admitiu que não imaginava que os biocombustíveis teriam "muitos adversários". Afirmou que, embora o Brasil tenha descoberto recentemente reservas de petróleo, o compromisso de seu governo com os biocombustíveis continua.


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