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Lula ataca países ricos em reunião da ONU
Na África, presidente critica subsídios agrícolas e atuação das nações desenvolvidas na crise financeira e no aquecimento global
Brasileiro defende taxação do petróleo e afirma que subsídios agrícolas são "como uma droga que entorpece produtores"
FÁBIO ZANINI
ENVIADO ESPECIAL A ACRA (GANA)
Pelo segundo dia consecutivo em sua visita à África, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva soltou farpas contra o mundo desenvolvido, desta vez carregando nas críticas aos subsídios agrícolas dos países ricos, à
falta de comprometimento
com o combate ao aquecimento global e ao gerenciamento da
crise financeira internacional.
As frases mais fortes, pronunciadas na cerimônia de
abertura da Unctad (conferência da ONU sobre desenvolvimento), em Acra (Gana), ficaram para um dos alvos preferidos do brasileiro, os subsídios
agrícolas, para quem eles são
"como uma droga que entorpece e vicia seus próprios produtores, mas cujas maiores vítimas são os agricultores das nações mais pobres".
Lula adotou, segundo um auxiliar que o acompanha, uma
claríssima estratégia de defender sua política de promoção de
biocombustíveis partindo para
o ataque contra possíveis detratores, especialmente no
mundo rico -muito embora a
crítica de que os biocombustíveis tiram terra para o cultivo
de alimentos venha também de
ícones do socialismo terceiro-mundista, como o ex-presidente de Cuba Fidel Castro. "Não
há contradição entre a busca de
fontes alternativas de energia e
o desenvolvimento de padrões
agrícolas que garantam a segurança alimentar", disse. Mais
cedo, ele pediu que os países ricos, em vez de taxarem o álcool
brasileiro, taxem o petróleo.
Além da crítica aos subsídios
dos ricos, pronunciada no discurso de abertura da reunião da
Unctad, Lula apontou os "problemas de boa governança financeira nas economias mais
ricas do mundo" como a causa
da crise de crédito global.
"Não são os países pobres
que devem pagar os custos dos
ajustes. A globalização, que já
traz em si tantas vertentes de
assimetria, não pode transferir
prejuízos para as economias
em desenvolvimento", disse.
O brasileiro foi uma espécie
de convidado de honra da reunião da Unctad. Lula, um dos
únicos chefes de Estado presentes à abertura do evento, foi
também um dos únicos três dirigentes a discursar, ao lado do
anfitrião, o presidente ganense,
John Kufuor, e do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Lula também alfinetou os ricos por colocarem em risco o
cumprimento das chamadas
metas do milênio, concebidas
para aliviar a pobreza mundial
até 2015. "Muitos países pobres, especialmente na África,
têm dificuldades para cumprir
as metas do milênio. A despeito
das promessas, poucos países
desenvolvidos lograram dedicar 0,7% de seu PIB à ajuda oficial ao desenvolvimento."
Antes, em discurso na abertura de um escritório da Embrapa (Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária) em
Gana, destinado a transferir
tecnologia a países africanos,
Lula voltou as baterias para o
combate ao aquecimento global. Segundo ele, os países ricos
não estão cumprindo seus
compromissos firmados no
protocolo de Kyoto. "Até agora,
fizeram muito pouco para
cumprir o acordo."
Outra promessa não cumprida, segundo ele, foi a de os ricos
oferecerem compensações para países pobres que não desmatarem suas florestas.
Lula admitiu que não imaginava que os biocombustíveis
teriam "muitos adversários".
Afirmou que, embora o Brasil
tenha descoberto recentemente reservas de petróleo, o compromisso de seu governo com
os biocombustíveis continua.
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