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LUÍS NASSIF
As auditorias e o novo mercado
O caso Enron colocou no foco das atenções mundiais o
papel das empresas de auditoria.
Não apenas a questão do conflito de interesses entre auditoria e
consultoria, mas as novas formas de avaliar empresas.
As empresas de auditoria passaram a dar consultoria com o
advento dos sistemas de automação das empresas. Os sistemas de ERP (de automação administrativa e industrial das empresas) necessitavam da empresa de auditoria para destrinchar
os processos internos. Com o
tempo, as grandes empresas passaram a solicitar às auditorias
que rodassem o sistema, interferissem no design. E aí começaram a surgir parcerias com grandes fabricantes de softwares, e aí
também começaram os problemas das empresas de auditoria.
Especialmente quando surgem o
e-business e o capital de risco.
A consultoria passou a custar
mais caro do que a própria auditoria, gerando o conflito de interesses. Mas como administrar os
conflitos de interesse?
Depois dos últimos episódios, a
tendência das maiores empresas
de auditoria é vender a sua parte
de consultoria. A própria Arthur
Andersen já havia vendido sua
divisão pouco antes da tragédia
Enron. A Pricewaterhouse é outra que caminha para essa decisão.
No Brasil, os casos Nacional e
Econômico fizeram a CVM (Comissão de Valores Mobiliários)
baixar a resolução 308, instituindo o rodízio de auditores,
para evitar essa cumplicidade.
Na opinião da Price brasileira,
a solução deveria ser mais bem
discutida. Seu argumento é que
não é o rodízio que vai instituir a
independência. Mais que isso, as
empresas de auditoria definem
competências, bancos de dados,
especializações. Com o tempo,
aprendem os macetes das empresas auditadas, centram a
análise nos pontos mais frágeis
de controle.
Quando se institui rodízio de
auditores de uma mesma auditoria, os bancos de dados são
preservados, diz ela. Quando se
institui rodízio de auditorias,
quem entra na área tem que começar do zero, ficando muito
mais sujeito a burlas.
Na sua opinião, o que a CVM
deveria fazer seria punir severamente os erros, em vez de soluções de atacado que, em sua opinião, pioram a situação.
Os novos conceitos de governança corporativa, o controle social sobre as empresas e os novos
critérios de formação de valor estão a exigir mudanças substantivas nos demonstrativos e balanços contábeis.
As demonstrações são pouco
claras, inacessíveis aos leigos, e
há um sem-número de novos fatores que têm que ser contabilizados para uma melhor avaliação das empresas.
Os balanços se limitam a levantar os ativos tangíveis das
empresas. Nos últimos anos a pirâmide de valor se inverteu. O
valor maior está no conhecimento, não nos ativos. No entanto todos os procedimentos de análise
de receita continuam centrados
na economia do tangível.
Há toda uma literatura discutindo a questão do levantamento do capital intelectual, algo
que não consegue ser captado
pelas demonstrações contábeis.
O tema foi levantado com mais
ênfase no período de explosão especulativa da Nasdaq. Mesmo
tirando o componente especulativo, havia uma diferença monumental entre o valor contábil
e o valor de mercado das empresas, demonstrando que o avaliador não captava o valor que o
mercado racionalizava.
Uma das consequências foi a
consagração do método do "fluxo de caixa descontado" como
critério de valor. Ou seja, avaliar
quanto a empresa pode render
em um determinado período e
trazer a valor presente de acordo
com determinadas taxas de desconto -maiores para setores de
maior volatilidade, menores para setores mais estáveis. A moderna visão de avaliação é que a
empresa tem que reportar aquilo
que é valor, independentemente
de ser tangível ou não.
Um segundo desafio é mudar a
linguagem, para permitir, por
exemplo, a uma ONG saber o
que lhe interessa. Daí a questão
do balanço social. Mas quem
precisa definir as novas linguagens é o regulador.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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