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EFEITO CONTRÁRIO
Segundo o mercado, Banco Central admitiu fragilidade da economia ao manter juros; dólar vai a R$ 3,214
Turbulência aumenta com decisão do BC
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Se a intenção do Banco Central
era acalmar os mercados ao manter a taxa básica de juros em 16%,
o tiro saiu pela culatra. O dólar
atingiu ontem R$ 3,214, seu maior
valor em 13 meses. O risco-país foi
a 758 pontos (alta de 8,75%). A
Bolsa de Valores de SP caiu 2,4%,
e os juros futuros subiram.
Fatores externos também contribuíram para a deterioração dos
mercados, mas a decisão do BC
teve um efeito preponderante.
Na quarta-feira, o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve os juros básicos da economia
em razão da "volatilidade recente" nos mercados.
A decisão foi encarada ontem
como uma admissão de que o
Brasil é vulnerável aos efeitos da
turbulência que atinge os mercados internacionais.
Nas últimas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o
ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda) e o próprio presidente
do BC, Henrique Meirelles, vinham dizendo que a turbulência
externa não ameaçava o Brasil.
"É como se o BC tivesse "comprado" a turbulência do mercado,
assumindo o quanto ela o preocupa", disse Adolpho Nardy Filho,
diretor do banco Cruzeiro do Sul,
referindo-se à decisão do Copom.
"Como o mercado está muito especulativo, qualquer sinalização
dessas é motivo para pressionar o
dólar e o risco-país."
Os efeitos negativos do Copom
somaram-se a um cenário externo desfavorável -as Bolsas caíram na Europa, e o risco-país dos
principais emergentes subiu.
Na BM&F, a taxa do contrato
DI -que acompanha os juros
praticados entre bancos- com
vencimento em janeiro, o prazo
mais negociado, saltou de 17,05%
para 17,76% anuais. As taxas desses contratos são importantes para as empresas planejarem seus
investimentos.
"Estamos num período ruim de
contágio, de muita volatilidade.
Para o mercado melhorar, temos
de ter um cenário de petróleo acomodado e uma idéia mais clara de
como o banco central americano
agirá em relação à sua taxa de juros", diz Clive Botelho, diretor financeiro do Banco Santos.
Lá fora, apesar de o petróleo não
ter alcançado outro preço recorde, o dia também foi negativo. As
preocupações dos investidores internacionais seguem focadas na
expectativa em torno da alta dos
juros nos EUA e da pressão sobre
o preço do petróleo. O Embi+,
média do risco-país dos emergentes, subiu 4,99%.
A queda de ontem da Bolsa de
Valores de São Paulo reflete a expectativa do mercado de que os
juros voltem a subir no último trimestre do ano. No mês, a Bolsa
acumula queda de 6,9%.
Em meio ao turbulento dia, o
Tesouro Nacional realizou leilão
de compra e venda de títulos públicos prefixados (LTNs).
Analistas afirmaram que o governo atendeu a demanda de instituições financeiras que necessitavam vender LTNs, mas não encontravam compradores no mercado. Quando isso ocorre, as taxas dos papéis caem, e fundos que
os carregam podem ter perda de
rentabilidade. O Tesouro retirou
do mercado cerca de R$ 386 milhões em papéis prefixados.
Nos últimos dias, a volatilidade
do mercado financeiro no Brasil
-medida de quanto os preços
dos ativos variam a cada dia-
disparou. Índice calculado por
Octavio Vaz, da Questus Asset
Management, mostra que a volatilidade da Bolsa era, ontem, 40%
maior do que há uma semana.
"A volatilidade do mercado está
muito forte. Um sinal disso é que,
há três dias, os preços dos ativos
têm começado o dia sempre muito descolados dos preços de fechamento da véspera. Isso mostra
que os investidores não estão confortáveis com as suas posições",
disse. Esse desconforto é reflexo
de uma percepção cada vez maior
de risco, tanto do cenário externo
quanto do doméstico.
Além da volatilidade, outra medida desse temor crescente é a
busca por ativos de curtíssimo
prazo, cujos preços sempre tendem a oscilar menos.
Tem aumentado, por exemplo,
o volume de recursos destinados
à compra de títulos que vencem
em uma ou duas semanas, no máximo.
Colaborou Érica Fraga,
da Reportagem Local
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