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EFEITO CONTRÁRIO
Para senador, inflação mais alta em 2005 possibilitaria corte no juro
Mercadante defende meta maior
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Crítico da política econômica, o
líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), disse
que o cenário externo, citado pelo
Banco Central para explicar a decisão de não reduzir sua taxa de
juros, justifica a elevação da meta
de inflação de 2005.
"Nós estamos claramente vivendo uma crise do petróleo, um
choque de custos, além da antecipação dos efeitos da alta futura
dos juros americanos", avaliou
ontem o senador. Pelo sistema de
metas de inflação adotado no
país, as metas podem ser revistas
em casos de choques de oferta
-o exemplo mais comum são as
altas bruscas do dólar, que encarecem as importações.
Mercadante vem defendendo
publicamente que o CMN (Conselho Monetário Nacional) mantenha em 2005 a meta deste ano:
um IPCA de 5,5%. Pelas regras
atuais, o BC buscará no próximo
ano uma taxa de 4,5%.
"Se o Brasil quer priorizar o
crescimento econômico, tem de
haver uma meta que seja realizável", argumentou. Seu raciocínio:
se a meta atual já torna difícil a
queda dos juros, hoje de 16% ao
ano, pior será se o BC optar por
um objetivo ainda mais ambicioso em meio a uma conjuntura
desfavorável.
A política monetária é ineficaz
para combater elevações de preços decorrentes de choques de
custos. Em casos assim, ou se tolera uma inflação maior ou os juros
têm de ficar nas alturas para compensar os efeitos do choque
atuando sobre os outros preços.
Na ata da reunião do Copom de
março, o BC reconheceu que os
aumentos de preços ocorridos no
país no começo deste ano podem
ter tido relação com choques de
oferta (e não de demanda), o que
até então não havia sido admitido
claramente.
Em 2003
Mercadante descartou, porém,
a necessidade de alterar a meta de
inflação deste ano -se necessário, disse, pode-se usar a margem
de tolerância de 2,5 pontos percentuais. Repetindo o discurso do
governo, considerou também que
não está em risco a previsão de
crescimento econômico de 3,5%
neste ano.
O senador ficou surpreso, porém, ao ser informado pela Folha
de que o dólar havia passado dos
R$ 3,20 ontem. "Já fechou?", perguntou. Um assessor correu a um
computador e voltou confirmando que o dólar havia fechado em
R$ 3,21.
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