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LUÍS NASSIF
O negócio do software livre
A ascensão do software livre (SL) não é meramente
uma reação contra o predomínio da Microsoft. Significa uma
mudança radical no próprio
modelo de negócios do setor e de
apropriação de conhecimento
pelas empresas desenvolvedoras.
Como é o modelo atual? A empresa X, cliente, tem conhecimento sobre determinado processo que ela pretende informatizar. O conhecimento é dela.
Então, ela contrata uma desenvolvedora e transfere esse conhecimento, para que seja transformado em programa.
A desenvolvedora compra um
software proprietário, fechado,
paga pelas licenças e desenvolve
o produto.
O cliente paga pelo desenvolvimento, mas o conhecimento
fica com o desenvolvedor, que
cria uma biblioteca com todos
os conhecimentos que vai adquirindo dos sucessivos clientes
e a utiliza em seus trabalhos futuros. O conhecimento é do
cliente; o copyright, do desenvolvedor.
O cliente Y quer um processo
similar ao do cliente X, com algumas mudanças. O desenvolvedor vai à sua biblioteca, pega
os módulos já desenvolvidos, faz
as implementações propostas e
vende como se fosse um desenvolvimento novo.
O software livre vem para
substituir essas duas formas de
propriedade intelectual: o software proprietário (as licenças
do fabricante) e o desenvolvimento -paga pela informatização da sua idéia e ainda deixa
a idéia para o desenvolvedor.
No sistema de SL, o jogo é outro. Alguém inicia o desenvolvimento ou de um sistema operacional, ou de um banco de dados, ou de um aplicativo qualquer.
A partir desse tiro inicial, a comunidade vai se formando, todos trabalhando em rede. A empresa X contrata um desenvolvedor e encomenda a informatização de determinado processo.
O desenvolvedor vai até a comunidade e se informa se existe algum desenvolvimento similar.
Se existir, ele baixa em seu computador e adiciona as implementações solicitadas pelo cliente. Depois, devolve as implementações para o grupo.
O grupo se comunica por meio
de salas virtuais, utilizando listas de discussão ou salas de
chats. Com o avanço da banda
larga e das redes corporativas,
dezenas de desenvolvedores, às
vezes centenas, ficam ligados,
em tempo integral, trocando informações, conselhos e implementações.
Nesse modelo, a apropriação
do conhecimento sai das mãos
do proprietário da licença e do
desenvolvimento para a sociedade.
O conhecimento que estou
acumulando sobre SL faz parte
desse modelo. Entendi melhor
sua natureza entrando em uma
lista de discussão aberta, em que
pessoas anônimas colocavam
suas opiniões livremente. Não
precisei entrevistar uma fonte, ir
atrás de uma literatura para
aprender.
Bastou provocar o grupo, suportar algumas bestas-feras comuns em grupos de discussão
aberta e recolher pepitas de ouro
em meio ao cascalho. É ou não é
uma revolução do conhecimento?
Deboche
Do presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários),
Luiz Leonardo Cantidiano, ontem, em "O Globo": "A CVM
tem que olhar mais para o pequeno investidor. O investidor
grande e qualificado sabe se defender. Não me venha aqui reclamar na CVM se fez um mau
negócio e escolheu um mau sócio".
Não dá mais para o governo
Lula fingir que não existe o problema CVM. O que está ocorrendo é uma humilhação para
a consciência jurídica nacional
e uma demonstração de falta
de governo.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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