São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2004

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LUÍS NASSIF

O negócio do software livre

A ascensão do software livre (SL) não é meramente uma reação contra o predomínio da Microsoft. Significa uma mudança radical no próprio modelo de negócios do setor e de apropriação de conhecimento pelas empresas desenvolvedoras.
Como é o modelo atual? A empresa X, cliente, tem conhecimento sobre determinado processo que ela pretende informatizar. O conhecimento é dela. Então, ela contrata uma desenvolvedora e transfere esse conhecimento, para que seja transformado em programa.
A desenvolvedora compra um software proprietário, fechado, paga pelas licenças e desenvolve o produto.
O cliente paga pelo desenvolvimento, mas o conhecimento fica com o desenvolvedor, que cria uma biblioteca com todos os conhecimentos que vai adquirindo dos sucessivos clientes e a utiliza em seus trabalhos futuros. O conhecimento é do cliente; o copyright, do desenvolvedor.
O cliente Y quer um processo similar ao do cliente X, com algumas mudanças. O desenvolvedor vai à sua biblioteca, pega os módulos já desenvolvidos, faz as implementações propostas e vende como se fosse um desenvolvimento novo.
O software livre vem para substituir essas duas formas de propriedade intelectual: o software proprietário (as licenças do fabricante) e o desenvolvimento -paga pela informatização da sua idéia e ainda deixa a idéia para o desenvolvedor.
No sistema de SL, o jogo é outro. Alguém inicia o desenvolvimento ou de um sistema operacional, ou de um banco de dados, ou de um aplicativo qualquer.
A partir desse tiro inicial, a comunidade vai se formando, todos trabalhando em rede. A empresa X contrata um desenvolvedor e encomenda a informatização de determinado processo. O desenvolvedor vai até a comunidade e se informa se existe algum desenvolvimento similar. Se existir, ele baixa em seu computador e adiciona as implementações solicitadas pelo cliente. Depois, devolve as implementações para o grupo.
O grupo se comunica por meio de salas virtuais, utilizando listas de discussão ou salas de chats. Com o avanço da banda larga e das redes corporativas, dezenas de desenvolvedores, às vezes centenas, ficam ligados, em tempo integral, trocando informações, conselhos e implementações.
Nesse modelo, a apropriação do conhecimento sai das mãos do proprietário da licença e do desenvolvimento para a sociedade.
O conhecimento que estou acumulando sobre SL faz parte desse modelo. Entendi melhor sua natureza entrando em uma lista de discussão aberta, em que pessoas anônimas colocavam suas opiniões livremente. Não precisei entrevistar uma fonte, ir atrás de uma literatura para aprender.
Bastou provocar o grupo, suportar algumas bestas-feras comuns em grupos de discussão aberta e recolher pepitas de ouro em meio ao cascalho. É ou não é uma revolução do conhecimento?

Deboche
Do presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Luiz Leonardo Cantidiano, ontem, em "O Globo": "A CVM tem que olhar mais para o pequeno investidor. O investidor grande e qualificado sabe se defender. Não me venha aqui reclamar na CVM se fez um mau negócio e escolheu um mau sócio".
Não dá mais para o governo Lula fingir que não existe o problema CVM. O que está ocorrendo é uma humilhação para a consciência jurídica nacional e uma demonstração de falta de governo.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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