São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2004

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CONTAS EXTERNAS

Ingresso de capital no Brasil em abril foi de US$ 381 milhões, o pior resultado desde outubro de 2003

Investimento estrangeiro no país cai 46%

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A instabilidade do mercado financeiro, no Brasil e no exterior, fez com que o fluxo de investimento estrangeiro direto para o Brasil se reduzisse em 46% em abril em relação a março, de acordo com o Banco Central. No mês passado, o ingresso de capital externo ficou em US$ 381 milhões, o resultado mais baixo registrado no país desde outubro de 2003.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que as turbulências do mercado causaram uma "redução no fluxo de investimentos para países emergentes".
"Depois que passar essa volatilidade, os resultados devem melhorar", afirmou.
Essa "volatilidade" dos mercados financeiros foi também a justificativa do BC para, apesar das pressões, não reduzir os juros básicos da economia.
Anteontem, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) anunciou que manteria a taxa Selic (básica de juros) em 16% ao ano por mais um mês.
O aumento do preço do petróleo e a possibilidade de alta dos juros norte-americanos têm causado instabilidade nos mercados. Esses eventos poderiam, entre outras coisas, levar a uma queda no fluxo de capital para países emergentes.
Os resultados alcançados até agora podem fazer com que o BC altere sua projeção para o ingresso de investimento estrangeiro no país neste ano. Atualmente a estimativa é de US$ 13 bilhões, mas, entre janeiro e abril, entraram somente US$ 3,1 bilhões.
Segundo Lopes, o país deve receber US$ 600 milhões em investimentos neste mês -US$ 450 milhões já haviam entrado até ontem. Assim, para que a estimativa de US$ 13 bilhões se confirmasse, seria necessário que a entrada de capital externo, até o final do ano, ficasse em US$ 1,3 bilhão por mês. No primeiro quadrimestre, a média mensal ficou em US$ 775 milhões.
Desses R$ 3,1 bilhões em investimentos que o Brasil recebeu entre janeiro e abril, US$ 605 milhões se referem às chamadas conversões. Conversões são operações em que uma empresa paga suas dívidas com suas próprias ações. Na prática, é como se o credor fosse transformado em acionista da empresa.
No mesmo período de 2003, as conversões de dívidas em investimentos somaram US$ 381 milhões. Lopes afirma que o crescimento nesse tipo de transação reflete o maior endividamento do setor privado ocorrido desde o ano passado.
No primeiro quadrimestre de 2003, os vencimentos da dívida externa totalizaram US$ 7,267 bilhões, contra US$ 11,668 bilhões observados neste ano. Com mais dívidas vencendo, aumentou, segundo Lopes, a conversão desses débitos em investimentos.
Para compensar a queda no fluxo de investimentos, registrou-se, no mês passado, um pequeno aumento nos empréstimos obtidos por empresas brasileiras no exterior. Em abril, o setor privado conseguiu renovar 67% das parcelas que venceram no período. Em março, essa proporção havia ficado em 46%.
De acordo com Lopes, muitas empresas anteciparam suas captações para o início do ano, preferindo não fazer operações entre março e abril, quando os juros praticados no mercado internacional registraram alta.
Essa alta e o aumento do risco-Brasil, que serve de referência para os empréstimos contraídos pelo setor privado no exterior, elevaram o custo dos financiamentos para as empresas brasileiras.


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