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Chineses criticam ações do Brasil
Ministério do Comércio da China diz que produtos exportados são alvo de processos antidumping
Para a China, o Brasil
deveria facilitar duas coisas: vistos a trabalhadores chineses e papelada para abrir uma empresa no país
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Os empresários chineses estão "preocupados e insatisfeitos" pela quantidade de processos por dumping contra a entrada de produtos da China no
Brasil, segundo o Ministério do
Comércio do país. E o Brasil deveria facilitar a concessão de
vistos para trabalhadores chineses, além de desburocratizar
a papelada para abrir uma empresa no país para atrair mais
investimentos da China.
As opiniões são de Xu Yingzhen, subdiretora-geral do Departamento de Assuntos de
Américas e Oceania do Ministério do Comércio. Em uma rara entrevista, ainda que por escrito, ela sai da habitual retórica de que "tudo está ótimo" no
comércio. Ela diz que o Brasil é
um dos países que mais iniciam
processos de dumping (venda
por preço abaixo do custo para
afastar concorrentes) contra a
China e que as matérias-primas
dominam parte das exportações brasileiras em outros mercados além da China.
As respostas foram encaminhadas à reportagem da Folha
poucas horas após a partida do
presidente Lula -como se o
anfitrião estivesse esperando a
saída do convidado para colocar os problemas na mesa. A seguir, trechos da entrevista.
FOLHA - Há uma crescente insatisfação no Brasil por conta da relação
comercial em que basicamente só
exportamos matérias-primas, especialmente ferro e soja, mas importamos manufaturas da China, com
barreiras contra produtos industrializados. Como isso pode mudar?
XU YINGZHEN - O mercado chinês é bastante aberto e tem seguido estritamente as políticas
da OMC. A China deseja que o
Brasil possa fornecer mais produtos competitivos e aumentar
sua participação aqui. Sabemos
que as exportações de petróleo
cru e derivados de ferro aos
EUA, à Holanda e à Argentina
também constituem uma parcela bem grande do comércio
do Brasil. A estrutura de produtos para o comércio é, em grande parte, decidida pela demanda e pela oferta dos países.
FOLHA - O que se pode fazer?
XU - A China entende a vontade do Brasil de exportar mais
para o mercado chinês e deseja
tomar medidas em conjunto.
Como governo, temos vontade
de criar várias plataformas para
ajudar empresas nos dois países a se entender melhor e a
procurar mais oportunidades
no comércio bilateral.
FOLHA - Do outro lado, que barreiras a China enfrenta para exportar
ao Brasil? As atuais barreiras acontecem por reciprocidade?
XU - A China tem encontrado
barreiras comerciais. Tarifas e
taxas de administração, restrições de importação, barreiras
técnicas para comércio, medidas de correção de comércio. O
Brasil começou 42 processos
antidumping contra produtos
chineses. Desde 2008, o Brasil
iniciou investigações antidumping em nove áreas. É um dos
países que mais iniciaram processos desse tipo.
FOLHA - O que aconteceu?
XU - Durante a visita do presidente Hu Jintao ao Brasil, em
2004, os países assinaram memorando de comércio e investimentos. Nesse texto, o Brasil
reconhece a China como economia de mercado. Como o
Brasil não implementou esse
reconhecimento, vários processos antidumping usam valores de um terceiro país, que não
são baseados nos valores normais dos produtos chineses.
Companhias chinesas já manifestaram muita preocupação e
expressaram insatisfação sobre
esses processos do Brasil.
FOLHA - O que o Brasil precisaria
fazer?
XU - Desejamos que cumpra a
promessa no documento e reconheça o status de economia
de mercado à China. Torcemos
para que o Brasil tome medidas
mais enérgicas a fim de criar
um melhor ambiente de investimentos para atrair companhias chinesas e simplificar requerimentos administrativos e
os procedimento de aprovação.
E que facilite os trâmites para a
concessão de vistos para empregados chineses.
FOLHA - A crise nos países desenvolvidos pode ajudar o interesse das
empresas chinesas pelo Brasil?
XU - Devido à desaceleração
econômica, testemunhamos o
interesse cada vez maior de
empresas chinesas pelo mercado brasileiro. Muitas instituições financeiras têm apresentado interesse em cooperação
sino-brasileira. O governo chinês apoia empresas chinesas
que cooperam com o Brasil e
apoia empresas chinesas competitivas a instalar fábricas no
Brasil, sob o princípio da igualdade e dos benefícios mútuos.
FOLHA - A China se tornou o mais
importante sócio comercial do Brasil
após o aumento das importações de
ferro e soja. Como são commodities,
seus preços são bastante flutuantes.
Como se pode manter o crescimento
desse comércio bilateral?
XU - O minério de ferro é importante e nosso rápido desenvolvimento necessita dele. A
China se tornou o maior mercado do ferro brasileiro. A soja é
o produto agrícola mais importante pela recente melhoria dos
padrões de vida do povo chinês.
As companhias siderúrgicas
devem pensar a longo prazo e
pensar em mecanismos de benefícios mútuos.
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