São Paulo, quinta-feira, 21 de maio de 2009

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Chineses criticam ações do Brasil

Ministério do Comércio da China diz que produtos exportados são alvo de processos antidumping

Para a China, o Brasil deveria facilitar duas coisas: vistos a trabalhadores chineses e papelada para abrir uma empresa no país


RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Os empresários chineses estão "preocupados e insatisfeitos" pela quantidade de processos por dumping contra a entrada de produtos da China no Brasil, segundo o Ministério do Comércio do país. E o Brasil deveria facilitar a concessão de vistos para trabalhadores chineses, além de desburocratizar a papelada para abrir uma empresa no país para atrair mais investimentos da China.
As opiniões são de Xu Yingzhen, subdiretora-geral do Departamento de Assuntos de Américas e Oceania do Ministério do Comércio. Em uma rara entrevista, ainda que por escrito, ela sai da habitual retórica de que "tudo está ótimo" no comércio. Ela diz que o Brasil é um dos países que mais iniciam processos de dumping (venda por preço abaixo do custo para afastar concorrentes) contra a China e que as matérias-primas dominam parte das exportações brasileiras em outros mercados além da China.
As respostas foram encaminhadas à reportagem da Folha poucas horas após a partida do presidente Lula -como se o anfitrião estivesse esperando a saída do convidado para colocar os problemas na mesa. A seguir, trechos da entrevista.

 

FOLHA - Há uma crescente insatisfação no Brasil por conta da relação comercial em que basicamente só exportamos matérias-primas, especialmente ferro e soja, mas importamos manufaturas da China, com barreiras contra produtos industrializados. Como isso pode mudar?
XU YINGZHEN
- O mercado chinês é bastante aberto e tem seguido estritamente as políticas da OMC. A China deseja que o Brasil possa fornecer mais produtos competitivos e aumentar sua participação aqui. Sabemos que as exportações de petróleo cru e derivados de ferro aos EUA, à Holanda e à Argentina também constituem uma parcela bem grande do comércio do Brasil. A estrutura de produtos para o comércio é, em grande parte, decidida pela demanda e pela oferta dos países.

FOLHA - O que se pode fazer?
XU
- A China entende a vontade do Brasil de exportar mais para o mercado chinês e deseja tomar medidas em conjunto.
Como governo, temos vontade de criar várias plataformas para ajudar empresas nos dois países a se entender melhor e a procurar mais oportunidades no comércio bilateral.

FOLHA - Do outro lado, que barreiras a China enfrenta para exportar ao Brasil? As atuais barreiras acontecem por reciprocidade?
XU
- A China tem encontrado barreiras comerciais. Tarifas e taxas de administração, restrições de importação, barreiras técnicas para comércio, medidas de correção de comércio. O Brasil começou 42 processos antidumping contra produtos chineses. Desde 2008, o Brasil iniciou investigações antidumping em nove áreas. É um dos países que mais iniciaram processos desse tipo.

FOLHA - O que aconteceu?
XU
- Durante a visita do presidente Hu Jintao ao Brasil, em 2004, os países assinaram memorando de comércio e investimentos. Nesse texto, o Brasil reconhece a China como economia de mercado. Como o Brasil não implementou esse reconhecimento, vários processos antidumping usam valores de um terceiro país, que não são baseados nos valores normais dos produtos chineses.
Companhias chinesas já manifestaram muita preocupação e expressaram insatisfação sobre esses processos do Brasil.

FOLHA - O que o Brasil precisaria fazer?
XU
- Desejamos que cumpra a promessa no documento e reconheça o status de economia de mercado à China. Torcemos para que o Brasil tome medidas mais enérgicas a fim de criar um melhor ambiente de investimentos para atrair companhias chinesas e simplificar requerimentos administrativos e os procedimento de aprovação. E que facilite os trâmites para a concessão de vistos para empregados chineses.

FOLHA - A crise nos países desenvolvidos pode ajudar o interesse das empresas chinesas pelo Brasil?
XU
- Devido à desaceleração econômica, testemunhamos o interesse cada vez maior de empresas chinesas pelo mercado brasileiro. Muitas instituições financeiras têm apresentado interesse em cooperação sino-brasileira. O governo chinês apoia empresas chinesas que cooperam com o Brasil e apoia empresas chinesas competitivas a instalar fábricas no Brasil, sob o princípio da igualdade e dos benefícios mútuos.

FOLHA - A China se tornou o mais importante sócio comercial do Brasil após o aumento das importações de ferro e soja. Como são commodities, seus preços são bastante flutuantes. Como se pode manter o crescimento desse comércio bilateral?
XU
- O minério de ferro é importante e nosso rápido desenvolvimento necessita dele. A China se tornou o maior mercado do ferro brasileiro. A soja é o produto agrícola mais importante pela recente melhoria dos padrões de vida do povo chinês.
As companhias siderúrgicas devem pensar a longo prazo e pensar em mecanismos de benefícios mútuos.


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