São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 2002

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Dólar ignora calmante e dispara mais 2,33%

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em mais um dia de nervosismo no mercado, o dólar fechou em alta de 2,33%, a R$ 2,77. No mês, a valorização da moeda é de 10%.
O principal motivo para a tensão foi o anúncio da Moody's de que deverá rebaixar a nota do Brasil. Também pesou a nova estagnação de José Serra (PSDB) nas pesquisas eleitorais. Uma vitória de Serra agrada ao mercado por representar a continuidade da atual política econômica.
A Bovespa caiu 5,08%, a sua maior baixa desde setembro.
O dia-a-dia do mercado nesta semana têm sido de especulação e do que, no jargão dos operadores, é chamado de "efeito manada" -cria-se uma sensação de que o cenário irá piorar e todos correm para se proteger do pior. Investidores buscam proteção cambial, crescem as remessas de dólares para o exterior e, no cenário externo, há um movimento de venda de papéis brasileiros. Empresas, com dificuldades em rolar suas dívidas, devido à deterioração dos indicadores, têm optado por quitá-las e intensificam a busca pela moeda. O temor é de que o país possa dar um calote. Os vencimentos de títulos públicos estão muito concentrados no fim deste ano, devido a uma má atuação do BC na rolagem da dívida pública e às incertezas de um ano eleitoral. Os investidores exigem papéis de curto prazo e foram atendidos pelo BC. Os C-Bonds, títulos da dívida externa, caíram 6,3%.
O BC voltou a intervir no câmbio ontem. Vendeu dólares, meia hora antes do término do pregão. Foi a terceira intervenção desde sexta-feira, quando o governo anunciou o "pacote calmante" para tentar conter o nervosismo.
Desta vez, segundo estimativas dos operadores, a venda pode ter atingido US$ 150 milhões.
"O BC agiu certo. Hoje [ontem" não havia como insistir em tentar conter a alta", diz Alan Gandelman, da Ágora. "Ele tem de esperar a "manada" passar. Não adianta se colocar na frente."
Boa parte dos operadores concorda, mas avalia, também, que o BC terá de adotar novas medidas, do contrário a moeda não interromperá sua trajetória de alta tão cedo. Ele poderá elevar ainda mais a alíquota para o depósito compulsório ou voltar a oferecer título cambiais. Após o fechamento dos pregões, as negociações do mercado eletrônico apontavam para um dólar acima dos R$ 2,80 hoje.



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