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São Paulo, sábado, 21 de junho de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Em jantar na segunda-feira no Iedi, empresários vão pedir ousadia a Meirelles no corte da taxa

Indústria cobra mais ação do BC sobre juro

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), influente instituto de pesquisa dos industriais brasileiros, vai jogar duro com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, no jantar previsto para segunda-feira, em São Paulo.
Os empresários irão cobrar mais ousadia do Banco Central na redução dos juros e menos passividade na política cambial. "A recessão econômica que está aí justificaria uma redução mais efetiva dos juros", afirma Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.
Pelas contas do Iedi, os juros básicos da economia poderiam ter baixado três pontos percentuais (de 26,5% para 23,5% ao ano) na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) desta semana.
Segundo recente avaliação do Iedi, a indústria brasileira está em recessão. Sua estimativa de crescimento da produção industrial, que era de 1,5%, baixou para 0,5% em 2003.
De acordo com Gomes de Almeida, a redução de apenas 0,5 ponto percentual na Selic frustrou as expectativas dos empresários e só vai retardar ainda mais a recuperação da economia. A avaliação do Iedi é que o Brasil ainda terá pela frente pelo menos mais três meses de recessão porque a redução dos juros foi tímida.
Os efeitos da política monetária não são instantâneos. Uma mudança sobre os juros só será sentida na economia, segundo Gomes de Almeida, no prazo de três a quatro meses. "Se o BC tivesse dado um refresco agora, nós só sentiríamos os efeitos em outubro."

Pressão contra perdas
Outro tema importante do jantar será a política cambial. O Iedi estima que o Brasil perderá cerca de US$ 4 bilhões neste ano em exportações devido à valorização do real. Os cálculos são feitos com base no dólar a R$ 3,30, considerado um patamar próximo do ideal pelo Iedi.
Um terceiro tema do jantar deverá ser a ameaça de reindexação da economia com as recentes reposições salariais concedidas pela Justiça do Trabalho, um dos argumentos usados pelo Banco Central para justificar a manutenção dos juros em patamar elevado.
O Iedi discorda dessa avaliação do Banco Central. Assim como há dissídios como repasses integrais da inflação, há dissídios com repasses abaixo da inflação, como sempre ocorreu.
O empresário Ivoncy Ioschpe, presidente do Iedi, diz que quem tem de se pronunciar sobre isso é a Justiçado Trabalho. "O empresário não gosta nem de aumento de custos nem de repasse de preços", diz Ioschpe.
O jantar de segunda-feira com o Iedi foi pedido pelo próprio Meirelles. O Iedi tem sido um dos maiores críticos das políticas monetária e cambial adotadas pelo Banco Central.



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