São Paulo, segunda-feira, 21 de junho de 2004

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FOLHAINVEST

MERCADO FINANCEIRO

Para economistas, ata que será divulgada na quinta deve sinalizar futura manutenção dos juros

Analistas esperam Copom mais pessimista

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) deverá sinalizar interrupção mais prolongada da queda dos juros. Essa é a expectativa de economistas para a ata que sai na quinta-feira, menos de uma semana antes da reunião do banco central dos Estados Unidos, que deve elevar os juros do país.
Analistas afirmam não esperar alta do câmbio e do risco-país nos próximos dias apenas por causa da proximidade da reunião do Fomc (o comitê de política monetária dos EUA).
A esperada elevação de 0,25 ponto percentual dos juros americanos já foi embutida nos preços. Não deve repercutir muito no mercado, se não surgirem fatos novos, dizem economistas.
O Banco Central deve anunciar amanhã a rolagem de títulos cambiais que vencem no dia 1º de julho. A expectativa é que o BC oferte ao mercado pelo menos parte do vencimento, o que pode reduzir a volatilidade no câmbio.
O mercado especula também a possibilidade de o governo fazer em breve uma captação externa.
Para alguns economistas, a ata da reunião passada deve vir mais pessimista do que a anterior.
Apesar de a maioria dos bancos e consultorias ter mantido a projeção de 15% para a taxa básica de juros da economia, a Selic, no final do ano, poucos se surpreenderiam se os juros se mantiverem em 16% na virada para 2005.
A estabilidade por mais alguns meses da Selic se justificaria, segundo analistas, porque a inflação preocupa e parte das incertezas externas que provocaram a interrupção da queda dos juros não se dissipou.

Juros mais altos
Há quem afirme que a ata poderá fazer uma avaliação tão negativa do cenário externo a ponto de deixar em aberto a possibilidade de o Copom vir a elevar os juros mais adiante.
"Por enquanto, 16% estão compatíveis com o rendimento que se tem no exterior, mas se os juros longos dos Estados Unidos subirem e se aproximarem da Selic é possível que venham a elevar os juros aqui", diz o economista de um banco estrangeiro.
"Se isso ocorrer, o BC vai ter de se decidir entre deixar o câmbio, que estará pressionado, ou ir embora e subir a taxa."
Para boa parte dos analistas, porém, a alta de juros no Brasil ainda é improvável, mesmo que as projeções de inflação estejam acima do centro da meta.
O argumento é que, se a alta do câmbio e do petróleo persistir, o BC poderá usar a banda acima da meta central para acomodar os reflexos daqueles aumentos.
"É possível que o Copom seja mais claro na ata quanto à sua visão do choque de oferta [alta do petróleo e do dólar] e se usará a margem que a meta oferece. Talvez registrem que a inflação esperada fique entre 7% e 7,5%", diz Guilherme Nóbrega, economista do Banco Fibra.
A ata deve concentrar as atenções em uma semana em que há alguns índices de preços no Brasil e poucos indicadores a serem divulgados nos Estados Unidos.
Hoje saem o IGP-10 e o IPC-S. Amanhã, a segunda prévia do IGP-M. Na quarta-feira, será a vez do IPCA-15. Nos EUA, o principal dado é o PIB americano do primeiro trimestre, na sexta-feira.
"A ata deve perder importância. Passou o ciclo de queda de juros. Vamos desligar de taxa de juros e focar mais em juros reais, no "spread" cobrado do consumidor. Vamos mais para o lado micro", diz Luiz Antonio Vaz das Neves, diretor de pesquisa da corretora Planner.


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