São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 2006

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BNDES aceita financiar companhia aérea

Recursos solicitados ao banco deverão ser usados para investimentos pela Varig, mas não para a compra da empresa

Novo comprador afirma que continuidade das operações da empresa depende de decisão da Justiça dos EUA sobre 25 aeronaves


RAPHAEL GOMIDE
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) admitiu ontem financiar investimentos da Varig Operacional, desde que o arrematante do leilão, NV Participações -consórcio formado pelo TGV (Trabalhadores do Grupo Varig) e investidores-, cumpra os requisitos e demostre a sustentabilidade financeira do seu plano.
A boa-vontade do banco oficial, porém, pode não ser suficiente para salvar a empresa. Na opinião do coordenador do TGV , Márcio Marsillac, "a existência da Varig depende da decisão da corte de Nova York", hoje, que decide se estende a proteção contra arresto de 25 aeronaves. Segundo o presidente da Varig, Marcelo Bottini, a empresa vai pedir mais 72 horas à Justiça americana.
De acordo com o presidente do BNDES, Demian Fiocca, nenhum valor de empréstimo foi apresentado. Marsillac, entretanto, afirmou que o pedido de financiamento será de pelo menos US$ 150 milhões, montante necessário para recuperação da empresa. Além disso, os trabalhadores querem recursos para reestruturar a frota.
Fiocca ressaltou que o pedido não diz respeito a dinheiro para a compra da empresa. Ele afirmou que o TGV informou aos técnicos ter investidores, mas não deu os nomes.
Marsillac frisou que os funcionários não precisam de recursos do BNDES para honrar o depósito em juízo de US$ 75 milhões até sexta-feira. Ele disse que os investidores estão trabalhando para converter as garantias em dinheiro.
As exigências do BNDES incluem o detalhamento do plano, garantias do fluxo de caixa futuro da empresa e o nome dos investidores, mantidos em segredo pelo TGV até agora.
"Eles não solicitaram recursos para a compra, mas para novos investimentos que venham a fazer. Isso é trabalho cotidiano do BNDES. E claro, é preciso detalhar, mas vamos dar o tratamento que damos a qualquer investidor, com rigor bancário", explicou Fiocca. Pela manhã, representantes do TGV foram à sede do BNDES, no Rio, e, mesmo sem ter agendado encontro, se reuniram com técnicos do banco para tratar do assunto.
Ficou acertado que o TGV deve apresentar o plano detalhado de negócios hoje ou amanhã no máximo. Somente nesse momento, o TGV vai informar ao banco o nome dos investidores. O grupo de funcionários continua a negociar com José Carlos Rocha Lima, ex-presidente da VarigLog e sócio da Syn Logística.
Há pressa e o BNDES se dispõe a acelerar o processo de análise, como fez no caso da compra da VEM e da VarigLog pela TAP, quando o procedimento demorou duas semanas.
"Temos a disposição de fazer a operação rapidamente. Naquele caso, tínhamos a fiança da TAP, que era quase equivalente a ter o Tesouro de Portugal como fiador," Fiocca disse que o tempo vai depender da qualidade da proposta.

Arrendadores
Para Marsillac, a Varig passa por momento de grande estresse com os arrendadores de aeronaves. A audiência de hoje na Corte de Falências de Nova York é considerada fundamental para a continuidade da empresa. O juiz Robert Drain, que cuida do caso, já estendeu a liminar que protege os aviões da Varig de arresto diversas vezes, mas na semana passada deu à ILFC o direito de retomar nove aeronaves. A decisão de hoje se refere a cerca de 25 aviões.
"É inadmissível ter a homologação da proposta na noite de segunda-feira e na quarta-feira ficar sem aviões", disse.


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