São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 2006

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Foco

Na Alemanha, passageiros acham que embarcaram no último vôo internacional

João Wainer/Folha Imagem
Passageiros em vôo da Varig que saiu de Munique sob boato de que seria última decolagem


JOÃO WAINER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Enquanto a Espanha sofria para vencer a Tunísia de virada por 3 x 1 pela Copa do Mundo em Stuttgart, brasileiros que embarcavam na Alemanha no vôo da Varig RG-8773 com destino a São Paulo sofriam com a falta de informação e boatos que circulavam pela sala de embarque do Aeroporto de Munique.
Duas horas antes do embarque, o Boeing-777 da Varig já estava conectado ao finger do portão H48. O primeiro sinal de quebra da normalidade foi quando cerca de 15 tripulantes da equipe que havia acabado de trazer o avião do Brasil voltaram ao saguão vestindo roupas a paisana e puxando as clássicas valises quadradas que os tripulantes usam com um porta-ternos azul dobrado ao meio, levando o uniforme sobre elas, e voltaram direto para dentro da aeronave.
Em poucos minutos o boato de que seria o último vôo da empresa já havia tomado conta do salão e dezenas de passageiros enchiam de perguntas a funcionária da Lufthansa que não falava português e parecia pouco saber sobre a situação econômica da aérea brasileira.
Diante da confusão, uma funcionária da Varig se aproximou e anunciou aos gritos que estava tudo normal e que o vôo sairia normalmente. Nenhum dos passageiros acreditou, e uma enorme fila formou-se em frente ao guichê.
Podia-se ouvir de tudo nessa fila. Alguns diziam que, se 15 tripulantes extras embarcaram, 15 passageiros ficariam de fora, já que o vôo estava lotado. Outros diziam que, se o juiz emitisse decisão contrária à venda da empresa, aquele vôo não sairia e todos teriam que sair do avião e arcar com as próprias despesas de hospedagem e reembarque. Quando lembravam que em plena Copa seria quase impossível achar vagas em hotéis e outros vôos, o desespero aumentava.
Quando o embarque foi anunciado, todos se apressaram a ocupar seus assentos.
A tripulação se esforçava para mostrar normalidade e mantinha o tempo todo o sorriso no rosto. Diante das perguntas insistentes dos passageiros sobre ser aquele o último vôo da empresa, mostravam-se otimistas: "Temos fé de que não será", diziam.
Mais incerteza se criou quando foi anunciado um atraso de uma hora na saída. A informação oficial era que havia muito vento e seriam aumentados os espaços de tempo entre uma decolagem e outra. Novamente, nenhum passageiro acreditou. Às 22h30, uma hora depois do previsto, o Boeing-777 decolou sob aplausos de alguns passageiros.
Na aterrissagem em Cumbica, novos aplausos e a sensação de que se encerrava ali um importante ciclo da aviação brasileira.


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