São Paulo, domingo, 21 de junho de 2009

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Cannes começa com 40% menos inscritos

Redução nos gastos com publicidade nos EUA e na Europa faz com que agências e anunciantes diminuam gastos no festival

Brasil é o terceiro país em número de peças inscritas, mas custo de participação -de até 2.175 por peça-diminui a concorrência


Divulgação
Fachada do Palais des Festivals em Cannes; número de trabalhos brasileiros inscritos caiu 38% na comparação como ano passado

CRISTIANE BARBIERI
ENVIADA ESPECIAL A CANNES

No ano em que os investimentos em publicidade devem cair 12% no mundo, segundo a consultoria PricewaterhouseCoopers, o Festival Internacional de Publicidade de Cannes abre sua 56ª edição bem mais magra, de acordo com todos os indicadores de desempenho.
A crise atingiu em cheio agências e anunciantes, principalmente dos EUA e da Europa, que consideraram não ser de bom tom abusar dos gastos, numa região em que o papaia do café da manhã chega a custar US$ 90 (cerca de R$ 177), como no Eden Roc. Encravado no alto de um rochedo, o hotel fica a dez minutos de barco de Cannes, em Cap d'Antibes, e recebeu encontros entre publicitários e seus clientes, como o almoço oferecido pela FCB, do grupo Publicis, no ano passado.
O maior evento do mundo na área, que movimentou US$ 480 bilhões globalmente no ano passado, começa hoje com queda estimada de 40% no número de participantes. A organização do festival espera cerca de 6.000 inscritos, ante os 10 mil do ano passado. Cada inscrição custa 2.175, ou 999 para quem tem até 30 anos de idade.
Já o número de peças inscritas sofreu redução de 20%, indo de quase 30 mil, em 2008, para 22,6 mil neste ano. As taxas de inscrição dos trabalhos variam de 270 para peças de rádio a 1.150 para a categoria Titanium & Integrated, de mídias integradas. Os valores foram reajustados em 7%, em média, em relação a 2008.
Apesar de o Brasil continuar como o terceiro país em número de inscrições, elas diminuíram 38% em relação a 2008 e ficaram em 1.519 trabalhos apresentados ao júri. O país está atrás de EUA e Alemanha. Com a queda, o investimento das agências brasileiras no festival somou R$ 1,6 milhão, ante R$ 2,3 milhões de 2008.
Além de o número de peças ter diminuído, algumas agências brasileiras cancelaram completamente a ida ao festival. Premiada como agência do ano em Cannes, em 2001, a F/Nazca decidiu não participar de nenhuma competição neste ano cuja inscrição fosse paga.
"A agência deve muito de sua reputação à visibilidade alcançada através desses concursos", escreveu em comunicado Fábio Fernandes, presidente da F/Nazca. "Nossa decisão reflete apenas o sentimento de que 2009 deverá ser um ano para orientar todos os recursos (...) ao foco dos negócios."
A Neogama também cancelou sua participação em função da crise e diversas agências grandes inscreveram poucas peças. No entanto, a DM9DDB divide com a Almap o recorde de 155 inscrições, cada. "Ajudaria muito se as inscrições fossem mais baratas, mas a tendência é priorizar a ida a festivais relevantes", diz Sérgio Valente, presidente da DM9DDB.
Além do comedimento no festival, as festas memoráveis que o acompanham minguaram neste ano. A DDB, que há dez anos fazia uma das mais sofisticadas festas num píer da orla de Cannes, com direito a disputa pelos ingressos no eBay, cancelou o evento neste ano por conta da crise. Não foi a única. A Publicis, a Leo Burnett e o grupo editorial Havas também cortaram festas de relacionamento.
"Além de [ter seminários] voltados ao que os inscritos precisam saber, de um jeito prático, estamos ajudando-os a acharem modos mais baratos de aproveitar Cannes", disse Terry Savage, presidente do conselho do festival, à Folha.
Segundo Savage, além de descontos em passagens aéreas, o festival organizou meios de hospedagens alternativos e mais em conta. "Cannes significa aprender com os líderes e seus pares, e não com refeições e garrafas de vinho caras", argumenta Savage.


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