São Paulo, terça-feira, 21 de julho de 2009

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Dólar cai a R$ 1,90, menor valor em 10 meses

Em cinco dias, moeda acumula desvalorização de quase 5%, com maior otimismo sobre retomada da economia global

Analistas creem em correção no câmbio, em consequência do aumento nas importações nos próximos meses; Bolsa de SP avança 2,08%

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Na sua sexta baixa consecutiva, o dólar comercial recuou 1,30% e terminou o dia vendido a R$ 1,903, a menor cotação desde 26 de setembro do ano passado, quando estava em R$ 1,851. Em pouco mais de uma semana, a depreciação acumulada é de quase 5%.
Enquanto a economia global parece caminhar para o fim da recessão, a moeda americana também retorna paulatinamente para os níveis anteriores ao recrudescimento da crise internacional, marcado pela quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, nos EUA, em 15 de setembro de 2008.
A Bolsa de Valores de São Paulo também foi um retrato do otimismo, ontem: subiu 2,08%, para 53.154 pontos.
Embora a maioria dos analistas concorde que a retomada mundial deve começar entre o final deste ano e o começo de 2010, muitas dúvidas ainda cercam o ritmo de recuperação. Os investidores, entretanto, têm descartado a segunda parte dessa sentença e se atêm à percepção de que os riscos de uma piora expressiva do cenário são menores a cada dia que passa. Aí, ficam à vontade para diversificar as suas carteiras, colocando dinheiro em destinos considerados mais arriscados, como o Brasil.
O movimento observado nas últimas semanas é o oposto do que se verificou a partir de setembro do ano passado. Assustados com os prejuízos sofridos nos EUA e na Europa com aplicações no mercado imobiliário, os grandes investidores fugiram dos mercados emergentes para se refugiar nos títulos do governo americano, tidos como relativamente seguros.
O problema é que o retorno oferecido por esses papéis está baixo demais. Então, passado o pânico, os investidores voltam a aceitar um pouco mais de risco em troca de rendimentos maiores.
Essa queda do dólar ante o real não surpreende Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria, que desde o final do ano passado previa que a moeda americana voltaria ao nível de R$ 1,85. "A taxa de câmbio tende a convergir para os fundamentos no médio e no longo prazo", afirma. Ou seja, os fatores conjunturais -como o medo de um crash global- podem até mexer fortemente com as cotações em alguns momentos, mas é o fluxo, o qual espelha as condições da economia do país, que determina os valores de equilíbrio.
A expectativa de Blanche é que a moeda termine 2009 em R$ 1,85. Até agora, o bom desempenho da balança comercial brasileira,cujo superávit no ano até a semana passada é 14,3% maior do que o do mesmo período de 2008, também tem ajudado bastante a empurrar as cotações da moeda americana para baixo. Nos próximos meses, esse cenário deve mudar um pouco, na avaliação de Blanche. "As importações, que vinham recuando mais do que as exportações, devem crescer, pois espera-se um reaquecimento da economia brasileira", diz. A maior parte das compras feitas pelo país é de insumos industriais e máquinas.
Embora o Banco Central esteja atuando bastante no mercado de câmbio para impedir uma oscilação mais forte da moeda americana, ainda pode haver volatilidade, afirma Felipe Pellegrini, gerente da mesa de operações da corretora Confidence. "Nos próximos dias, deve haver uma correção de preços, pois a baixa das últimas sessões foi bem acentuada", diz. "Os prognósticos são bons, mas não acredito que a divisa se firme abaixo de R$ 1,89 tão cedo. São necessários mais sinais de melhora da economia global para isso."


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