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OPINIÃO ECONÔMICA
Desnacionalização da economia
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Em discurso pronunciado na
semana passada, por ocasião de
encontro com empresários do
setor de construção pesada, em
Brasília, o presidente da República negou taxativamente que
esteja ocorrendo desnacionalização da economia. "Está havendo, sim, participação do capital externo, mas não predomínio", disse.
Os dados a respeito dessa
questão são ainda bastante incompletos. Mas há informações
que parecem contradizer o ponto de vista do presidente.
Agora em julho, a revista
"Exame" divulgou o seu levantamento anual sobre as
maiores empresas do Brasil. Esse levantamento contém informações que lançam alguma luz
sobre a evolução recente da
participação do capital estrangeiro na economia do país.
O aumento da participação
relativa das empresas estrangeiras é impressionante. Em
1996, das receitas das maiores
empresas do Brasil (privadas e
estatais), 44,1% foram de empresas estrangeiras, contra 32%
em 1994. Um crescimento de 12
pontos percentuais em apenas
dois anos!
No mesmo período, em função
das privatizações, a participação das empresas estatais caiu
de 24% para 20,2% das vendas
das maiores empresas.
A participação das privadas
nacionais caiu de forma ainda
mais acentuada, de 44% em
1994 para 35,7% em 1996, o que
é atribuído, em grande parte, à
onda de fusões e aquisições na
qual o capital externo apareceu
com frequência na ponta compradora.
Desde que a "Exame" começou os seus levantamentos
anuais, em 1974, nunca foi tão
elevado o peso relativo das empresas estrangeiras. O recorde
anterior havia sido registrado
em 1975, quando a participação
das estrangeiras alcançou
41,8%. O crescimento recente da
sua participação se deve não só
à aquisição de empresas nacionais, como a Metal Leve, a Arno, a Iochpe-Maxion, a Lacta e
tantas outras, mas também ao
aumento das vendas em setores
dominados por filiais de capital
externo, como automóveis, higiene e limpeza, computação e
farmacêutica.
Os resultados desse levantamento, embora impressionantes, não chegam a constituir
uma surpresa completa. Afinal,
nos anos recentes, estabeleceu-se um quadro macroeconômico em que as empresas brasileiras foram obrigadas a competir em bases desiguais.
As elevadíssimas taxas de juro
e as restrições ao crédito tiveram efeitos arrasadores sobre
muitas firmas nacionais, especialmente as de menor porte,
que têm menos acesso a crédito
em moeda estrangeira. A forte
valorização cambial, combinada com uma aceleração improvisada da abertura às importações, submeteu os produtores
domésticos, de forma abrupta, a
uma intensa competição externa, que acabou se revelando
destrutiva para muitas empresas.
Além disso, o sistema tributário não foi inteiramente adaptado à abertura externa, e conserva características, notadamente os tributos em cascata,
que prejudicam os produtores
nacionais relativamente a seus
competidores do exterior.
A prevalecerem essas tendências e políticas, os anos 90 acabarão ficando na história como
um período de forte desnacionalização e aumento da dependência externa do país. E,
quando se escrever algum dia a
biografia de Fernando Henrique Cardoso, talvez se conclua
que um título apropriado seja
"Dependência: da Teoria à
Prática".
Paulo Nogueira Batista Jr., 42, professor da
Fundação Getúlio Vargas e pesquisador-visitante do Instituto de Estudos Avançados da
Universidade de São Paulo, escreve às quintas-feiras nesta coluna.
E-mail: pnbjr@ibm.net
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