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OUSADO OU GRADUAL?
Maior corte desde 99 surpreende a maioria dos analistas e o setor produtivo; Fiesp elogia com moderação
BC reduz juros para 22% e alivia pressões
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central promoveu ontem a maior redução da taxa básica de juros desde maio de 1999.
Ao cortar 2,5 pontos percentuais,
deixou a Selic em 22% ao ano. A
decisão surpreendeu a maioria
dos analistas do mercado financeiro e o setor produtivo, que esperavam uma redução menor.
A expectativa era de uma queda
de apenas 1,5 ponto percentual. A
decisão do Copom (Comitê de
Política Monetária) aliviou as
pressões e as críticas contra o BC,
que partiam da indústria, do comércio e de dentro do governo.
Foi o terceiro mês seguido de redução nos juros. Nas duas ocasiões anteriores, porém, o BC foi
bastante criticado por ter promovido cortes que seriam insuficientes para a retomada do crescimento econômico.
Nas últimas semanas, o presidente do BC, Henrique Meirelles,
se defendeu das críticas classificando de "gradualista" a política
de redução da taxa Selic. Ou seja,
os juros cairiam, mas aos poucos.
Essa declaração foi entendida por
analistas como um sinal de que,
dificilmente, o corte seria maior
do que 1,5 ponto.
A queda da taxa para 22% ao
ano era vista como desejável pela
cúpula do governo, pois faz com
que ela volte para o mesmo patamar de novembro de 2002, no início da transição de governo. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, disse que a decisão de ontem foi técnica, não política.
O BC limitou-se a informar que
o corte de ontem faz parte "de
uma estratégia gradualista de flexibilização da política monetária". Segundo nota da instituição,
"dados divulgados desde a última
reunião do Copom" confirmam
que a manutenção dos juros em
níveis elevados trouxe "resultados
positivos" no combate à inflação.
Apesar de não terem sido citados pelo BC, três dados divulgados desde a última reunião do Copom mostram, além do controle
da inflação, a forte desaceleração
da economia:
1) a renda média do trabalhador
caiu 16,4% no mês passado, em
relação a julho de 2002;
2) as vendas do comércio recuaram 5,37% em junho passado, na
comparação com o resultado de
junho de 2002;
3) a indústria está tecnicamente
em recessão, depois de registrar
dois trimestres seguidos de queda
na produção.
Ou seja, a queda na renda faz as
pessoas comprarem menos. O
consumo menor traz prejuízos ao
comércio, que reduz as encomendas à indústria. Isso faz com que
os industriais diminuam a produção. A situação piora com os juros
altos, que encarecem o crédito.
É justamente esse cenário recessivo que ajuda a conter a inflação.
E a inflação, por sua vez, tem dado
sinais de queda. Segundo pesquisa feita pelo BC entre analistas de
mercado, a expectativa é que o
IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), índice que serve
de parâmetro para as metas do
governo, registre alta de 9,74%
neste ano. No mês passado, projetava-se 10,81%.
"Não posso deixar de elogiar essa queda e dizer que o Banco Central mantém o gradualismo, a
cautela. Acredito que houve um
entendimento de que era possível
fazer uma redução com responsabilidade", afirmou o presidente
da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio Lafer Piva. Mas ele lembrou
que, mesmo com a diminuição, o
Brasil ainda tem uma das taxas
mais elevadas do mundo.
Para Emílio Alfieri, da ACSP
(Associação Comercial de São
Paulo), trata-se do primeiro passo
para a recuperação da economia.
"A partir de outubro podemos esperar sinais de melhora para vendas no crediário se os juros continuarem a cair", diz.
A taxa Selic é aquela que remunera os empréstimos feitos entre
os bancos. Por isso, serve de referência para os juros cobrados pelos bancos de seus clientes e tem
influência sobre o desempenho
de toda a economia.
Por essa razão, a decisão do BC
pode colaborar para aumentar o
otimismo de empresários e consumidores, estimulando a retomada do crescimento.
Como os juros praticados efetivamente nas relações cotidianas
são maiores do que a Selic, o efeito
no bolso do consumidor pode ser
menor. Segundo estimativa da
Anefac (Associação Nacional dos
Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), os juros
médios cobrados pelo comércio,
por exemplo, devem cair de
6,67% ao mês para 6,5%. Mas especialistas dizem que a redução
da Selic tem um efeito psicológico, de diminuir o temor de perder
o emprego, que pode estimular as
pessoas a gastarem mais.
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