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São Paulo, quinta-feira, 21 de agosto de 2003

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Reajustes nos salários registram pior resultado do Real, diz Dieese

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria dos reajustes salariais negociados no primeiro semestre deste ano ficou abaixo da inflação. Os acordos trabalhistas atingiram, nesse período, o pior resultado desde o Plano Real, quando o governo encerrou a política que garantia reposição automática das perdas inflacionárias. E mais: triplicou o número de acordos em que os reajustes salariais foram negociados em até três parcelas.
Pesquisa nacional do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) mostra que 54% dos 149 acordos firmados de janeiro a junho obtiveram reajustes abaixo do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do IBGE -ou seja, 81 acordos salariais não conseguiram nem sequer zerar a variação do índice nos 12 meses anteriores a cada data-base.
O pior resultado havia sido constatado pelo Dieese em 1999, quando 45% das categorias não tinham conseguido repor as perdas da inflação. Naquele ano, ocorreram o fim da política de câmbio controlado do governo FHC e a primeira maxidesvalorização do real.
Nos acordos feitos pelas categorias com data-base no primeiro semestre deste ano, 24,8% tiveram reajustes iguais ao INPC e 20,8%. Para fazer o estudo, o Dieese compara os reajustes com a inflação medida pelo INPC porque esse é o indicador usado nas negociações salariais, além de servir de referência desde 1979 para reajustar o salário mínimo e os benefícios previdenciários.
"A pressão da inflação, que subiu no último trimestre de 2002, combinada com o desempenho pífio da economia, os juros altos e as elevadas taxas de desemprego se refletiu de forma negativa nas negociações salariais", diz José Silvestre Prado de Oliveira, economista e técnico do Dieese.
O levantamento também mostra que cresceu significativamente o número de categorias que obtiveram reajustes com menos cinco pontos percentuais abaixo do INPC - foram 17% no primeiro semestre deste ano contra 1,2% em igual período de 2002.
"A inflação acumulada nos 12 meses chegou a 20,44% em junho [medida pelo INPC]. Os sindicatos encontram dificuldades para negociar reposições com percentuais de inflação nesse patamar", diz Prado de Oliveira.
Isso pode explicar, na sua avaliação, o crescimento no número de acordos trabalhistas que parcelaram a reposição da inflação. De 1997 a 2002, o Dieese constatou que entre 2% e 9% do total de acordos analisados parcelaram os reajustes concedidos.
No primeiro semestre deste ano, os reajustes parcelados atingiram 33% (ou 49) dos acordos salariais realizados. Entre esses acordos, cerca de dois terços ficaram abaixo do INPC. "Além de não conseguir a inflação nos salários, o trabalhador também teve prejuízo porque o acordo foi parcelado", diz o economista. Caso dos professores da rede particular de São Paulo. A tendência deve se manter no segundo semestre.


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