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RECEITA HETERODOXA
Depois de reunião conturbada, Fundo aceita acordo, de US$ 12,5 bi, que não contém metas obrigatórias
FMI aprova programa "light" para Argentina
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A DUBAI
A diretoria do FMI (Fundo Monetário Internacional) aprovou
ontem em Dubai um novo acordo
de US$ 12,5 bilhões para a Argentina pelos próximos três anos.
O Fundo cita "a volta do crescimento sustentado e o combate à
pobreza" como objetivos centrais
do entendimento. O novo programa não contém metas de inflação
e tem objetivos apenas indicativos
de prazos para mudanças estruturais acertadas com o Fundo.
O acordo foi aprovado numa
reunião conturbada, na qual alguns países europeus -nenhum
deles do G-7- se abstiveram para demonstrar sua insatisfação
com a suavidade das metas. Em
nota divulgada depois do encontro, o FMI admitiu correr riscos.
"O Fundo reconhece que diversos
riscos estão associados ao programa proposto", diz a nota. "Elementos-chave das reformas fiscal
e bancária, essenciais para a sustentabilidade, só serão formulados numa etapa posterior."
O acordo pede a reestruturação
da dívida pública argentina e espera que o novo programa vá
abrir espaço para que o governo
renegocie seus débitos.
A Argentina precisa reestruturar 152 tipos diferentes de bônus,
emitidos em distintas moedas,
cláusulas diferentes e espalhados
pelo mundo.
Ontem pela manhã, o secretário
do Tesouro dos EUA, John Snow,
cobrou do ministro da Economia
argentino, Roberto Lavagna,
"maior rapidez" na negociação
com o setor privado.
Lavagna disse que as conversas
devem começar em outubro. A
intenção do governo argentino é
pedir um período de graça de até
70% de desconto no valor de face
dos papéis. A dívida do país soma
US$ 183 bilhões.
O acordo aprovado ontem prevê que essas negociações devem
ser "consistentes com a sustentabilidade de médio prazo" da Argentina. "O desejo é que sejam
concluídas até meados de 2004",
diz o documento do Fundo.
Em relação à inflação, o FMI limitou-se a indicar que a média
anual não deveria ultrapassar um
dígito -poderá chegar ao teto de
9,9%. "A implementação [do
acordo] está nas mãos das autoridades argentinas", disse Anoop
Singh, diretor para o Hemisfério
Ocidental do FMI. "Tivemos a garantia pessoal do presidente [Néstor Kirchner] de que os pontos
acertados serão atendidos."
Anne Krueger, vice-diretora-gerente do Fundo, disse que o
Fundo reconhece "vários riscos"
associados ao programa. "As reformas fiscal e bancária são cruciais para a sustentabilidade do
acordo, e a ação das autoridades
argentinas será fundamental para
minimizar esses riscos", afirmou.
A diretoria do Fundo confirmou a exigência de um superávit
primário (economia para pagar
juros da dívida) de 3% do PIB
(Produto Interno Bruto) apenas
em 2004. As metas para 2005 e
2006 seriam definidas durante as
revisões do programa.
Segundo o FMI, o governo argentino se comprometeu a enviar
ainda neste ano um projeto de reforma tributária ao Congresso e a
adotar medidas para "fortalecer o
sistema bancário" também até o
final de 2003.
Sobre os reajustes de tarifas das
empresas de serviço público argentinas -algumas congeladas
desde 2001 -, o acordo diz apenas que há um "compromisso das
autoridades" de enviar um projeto ao Congresso para a criação de
uma agência executiva para controlar o setor.
Além da meta de superávit fiscal
para 2004, o documento do FMI
divulgado ontem traz apenas as
estimativas de crescimento do
país: 5,5% em 2003 e 4% ao ano
entre 2004 e 2006.
Colaborou Elaine Cotta,
de Buenos Aires
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