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Lula quer capitalizar Petrobras para pré-sal
Presidente deverá permitir que os trabalhadores usem dinheiro do FGTS para uma nova rodada de investimento na estatal
Para permitir capitalização, será preciso mudar a lei; mesmo quem já tem ações compradas com o fundo poderá aplicar na empresa
Eraldo Peres - 2.set.08/Associated Press
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Lula, os ministros Lobão (atrás, à dir.) e Dilma e o presidente da Petrobras, Jose Gabrielli (de óculos, à esq.), na plataforma P-34
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pessoas com conta no FGTS
(Fundo de Garantia do Tempo
de Serviço) poderão usar esses
recursos numa nova rodada de
investimentos na Petrobras.
A Folha apurou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
decidiu permitir o uso do FGTS
na capitalização que fará na Petrobras para explorar o petróleo da camada pré-sal.
Quem já tem ações da estatal
compradas por meio do FGTS
também poderá voltar a aplicar
na empresa. Em 2000, houve
uma única rodada na qual o governo permitiu o uso do FGTS
para a compra de ações da Petrobras.
Foi um excelente negócio: de
2000 até a última quarta-feira,
o investimento rendeu 766,8%
-o ganho foi 742,5% superior
ao de quem ficou com o dinheiro "parado" no FGTS, segundo
cálculos do consultor Mario
Avelino, presidente do Instituto FGTS Fácil.
Como revelou a Folha, Lula
já decidiu que a União fará uma
capitalização da Petrobras a
fim de elevar sua participação
nos lucros da empresa, que
tendem a aumentar bastante
com a exploração do pré-sal.
Será preciso mudar a lei para
permitir uma nova rodada do
FGTS para investimentos na
estatal. O Palácio do Planalto
acredita que a medida amenizará a crítica de prejuízo aos
acionistas minoritários com a
capitalização que a União fará
na Petrobras.
Estatal "enxuta"
O governo acha que será
grande a procura por ações da
Petrobras quando for apresentada, no mês que vem, a proposta de novo marco regulatório para o setor de petróleo.
Lula vai criar uma estatal
"enxuta", segundo suas palavras, para administrar as reservas do pré-sal que ainda não foram leiloadas. Mas a Petrobras,
diz o governo, continuará a ser
a grande empresa exploradora
porque ela tem a tecnologia
mais desenvolvida para esse tipo de serviço.
Lula também avalia que permitir o uso do FGTS será uma
medida popular, atraindo a
classe média e trabalhadores da
tradicional base sindical do petismo para participar dos lucros futuros da Petrobras com
o pré-sal. Ou seja, haveria adesão a um programa de longo
prazo do governo, que, assim,
reforçaria o apoio político a sua
proposta de mudança da Lei do
Petróleo.
Com a participação de mais
pessoas, o governo ganha também um argumento para evitar
que as novas regras definidas
por Lula sejam alteradas depois
por outra administração.
A Petrobras é uma estatal de
capital misto, público e privado. Pela lei, quando há capitalização de uma empresa, abre-se
obrigatoriamente a possibilidade de os acionistas minoritários aumentarem sua participação.
Como a União pretende usar
os recursos das áreas do pré-sal
já leiloadas, terá um cacife muito maior do que os demais acionistas. O uso do FGTS, diz um
auxiliar do presidente, "vai dar
bala" para que acionistas minoritários e privados capitalizem
a empresa.
Capitalização anterior
Em 2000, no governo do tucano Fernando Henrique Cardoso, mais de 312 mil trabalhadores usaram recursos do
FGTS para comprar ações da
Petrobras por meio de fundos
de investimento -os chamados
Fundos Mútuos de Privatização (FMP-FGTS).
Com isso, ajudaram a financiar os investimentos feitos pela empresa em pesquisa e exploração, o que inclui a descoberta do petróleo da região do
pré-sal.
No total, esses investidores
aplicaram R$ 1,6 bilhão em valores da época. Atualizado pela
inflação (IPCA), isso vale hoje
R$ 2,8 bilhões.
Atualmente, há 45 fundos
FMP-FGTS registrados na
CVM (Comissão de Valores
Mobiliários) com 103.016 cotistas e patrimônio líquido total
de R$ 8,432 bilhões.
Mas esse dinheiro não está
aplicado totalmente em ações
da Petrobras -parte é composta, por exemplo, por títulos públicos, sem contar recursos que
estão no caixa para pagamento
de despesas administrativas.
A regra tem de ser mudada
porque, pela legislação atual, os
trabalhadores não podem colocar mais recursos, já que a adesão aos FMP-FGTS foi feita por
meio de oferta única.
Hoje, esses acionistas detêm
2,2% do capital social da Petrobras, que é de R$ 78,967 bilhões, segundo dados publicados pela empresa. Já a participação da União é de 32,2%, e a
da BNDESPar, de 7,6%. Há ainda outros acionistas minoritários e estrangeiros.
A BNDESPar é uma empresa
de participação em investimentos privados do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Trocando em miúdos: o governo hoje controla o capital
votante da Petrobras e, portanto, manda na gestão da empresa. Lula indica o presidente da
estatal. No entanto, cerca de
60% do capital total da Petrobras está em mãos de investidores privados.
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