São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2008

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Aos poucos, BC dos EUA muda de papel

DE WASHINGTON

Na recessão de 1921, os fazendeiros americanos foram bater na porta do Congresso. Estavam quebrados e precisavam de dinheiro. Os políticos apelaram para o Fed (Federal Reserve), que respondeu: "Não é nosso problema". O Legislativo acabaria criando os Federal Land Banks, de financiamento agrícola.
Na década seguinte, no auge da Depressão, com mutuários se tornando inadimplentes a ritmo perigoso, o Congresso foi de novo ao BC, que respondeu: "Não é nosso problema". Os políticos criaram então os Federal Home Loan Banks, de financiamento imobiliário.
Agora, o sistema financeiro está em apuros -e quem está batendo na porta do Congresso para salvar os bancos é o Fed, que já investiu quase um terço de seu dinheiro em operações resgate de instituições financeiras. Nos próximos dias, a Casa controlada pela oposição democrata responderá se o problema é seu ou não.
Há uma inversão de valores aqui, e Allan Meltzer não está feliz. Professor da Universidade Carnegie Mellon e a maior autoridade do país em estudos do BC, atividade que exerce há meio século, foi ele quem contou as histórias acima, em programa da rádio pública NPR.
A inversão de papéis "é um problema", disse. "Se há uma questão de governabilidade, quem tem de resolver é o Congresso, não o Fed." Para Meltzer, o enredo é sempre o mesmo. "Alguém chega ao secretário do Tesouro ou ao presidente do Fed e diz: "Se não fizermos assim, vamos ter uma depressão terrível. E vai ser conhecida como a Depressão de Bernanke. E, se você não agir, vai ser um desastre"."
Membros do Congresso, democratas e republicanos, começam a se incomodar com o que enxergam como extensão dos tentáculos do BC. Por lei, suas atribuições são muitas e de interpretação ampla. Entre elas, "lidar com o problema de pânicos bancários", "supervisionar e regulamentar instituições bancárias" e "manter a estabilidade do sistema financeiro e conter riscos sistêmicos aos mercados financeiros". (SD)


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