São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2008

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Plano abre espaço a "barganha" política

Genérico, com duas páginas e meia, texto enviado ao Congresso deve receber emendas para ajudar também os mutuários

Casa Branca quer "margem" para ajustar medidas; congressistas dizem que texto não pode resgatar só o sistema bancário

DA REDAÇÃO

A proposta de um pacote de US$ 700 bilhões, enviada na sexta-feira à noite ao Congresso pelo Tesouro americano, tem só duas páginas e meia. O projeto é genérico no tocante à função da nova agência, que irá comprar os papéis podres. Também dará poderes ilimitados ao governo para comprar e vender títulos hipotecários e mantê-los sob seu controle por tempo indeterminado.
O documento não especifica, por exemplo, de quais instituições o governo comprará títulos nem o que poderá exigir ou obter em troca. Segundo o "Wall Street Journal", o objetivo ao entregar um plano "enxuto" foi o de buscar flexibilidade para ajustes à medida que as condições do mercado mudem.
Mas tal decisão pode dificultar a aprovação no Congresso, pois representará oportunidade para que sejam apresentadas emendas. Democratas, que detêm o controle das duas Casas, e até republicanos questionam a abrangência das medidas e a falta de mecanismos para supervisão dos gastos.
"[A proposta] é uma boa base para um plano que possa estabilizar rapidamente os mercados", disse o senador democrata Charles Schumer. "Mas ela não inclui proteção visível para os contribuintes e os mutuários. Esperamos conversar com o Tesouro para saber se eles pensam nessas questões."
Foi a mesma linha defendida pelo candidato democrata à presidência, Barack Obama. "Nós temos de assegurar que tudo que nosso governo faça tem de funcionar não apenas para Wall Street mas também para o cidadão comum", disse em discurso na Flórida.
O republicano John McCain, do mesmo partido do atual presidente, George W. Bush, também fez ressalvas. "A crise financeira requer liderança e ação para restaurar os fundamentos sadios dos mercados, colocar nossa economia no seu passo e eliminar essa carga para as famílias trabalhadoras de classe-média dos EUA."
O plano foi criticado pelo vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2001, Joseph Stiglitz, em entrevista a um jornal alemão. O economista classificou o projeto de "monstruoso" para os contribuintes norte-americanos e afirmou que o plano "não é mais do que uma solução de curto prazo".
"Colocamos os investimentos de risco nas mãos dos contribuintes. [Como nenhum investidor quer tais investimentos], a embrulhamos ao contribuinte", afirmou Stiglitz.
Segundo cálculos do jornal "The New York Times", o plano de US$ 700 bilhões terá um custo estimado de US$ 2.000 por cidadão americano.
Esse montante que será gasto na compra de papéis podres (títulos de má qualidade) supera com folga o custo até o momento do governo americano na Guerra do Iraque -estimados US$ 560 milhões.
Ao propor elevar o teto para o endividamento do governo de US$ 10,6 trilhões para US$ 11,3 trilhões -valor que corresponde a cerca de 75% do PIB do país, de US$ 15 trilhões-, o governo suscita ainda mais preocupação com sua capacidade de investimentos nos próximos anos. Muitos economistas dizem que o pacote não evitará a recessão nos EUA, uma vez que o sistema financeiro estará debilitado para emprestar às empresas e aos consumidores.
Em evento em São Paulo ontem, o presidente Lula voltou a criticar o governo norte-americano. Segundo ele, os EUA demoraram a tomar uma atitude. "Finalmente, ontem [sexta], o presidente George Bush assinou um pacote colocando cerca de US$ 500 bilhões [foram US$ 700 bilhões] para comprar os títulos podres das empresas que estavam quebrando."


Com agências internacionais


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