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Disputa na F-1 revela táticas distintas das montadoras
Para Ferrari, campeonato é a única
publicidade; Renault investe menos
Valor total investido pelas escuderias na categoria, cuja temporada termina amanhã em SP, foi de
US$ 2,8 bilhões em 2006
JEAN-JACQUES LARROCHELLE
DO "MONDE"
A quantia provoca vertigens:
US$ 2,8 bilhões, de acordo com
a revista "Business F1", é o orçamento investido em 2006 pelas escuderias que disputam o
campeonato mundial da F-1.
O que leva as montadoras de
automóveis (Honda, Toyota,
Mercedes-DaimlerChrysler,
BMW, Renault e, em escala diferente, Ferrari) a investir tamanha soma em uma competição que se transformou em
campo de duelo entre elas?
Quais são os retornos?
Amanhã, no circuito de Interlagos, em São Paulo, o último GP da temporada decidirá
quem fica com os títulos mundiais de pilotos e de construtores. O combate final será travado entre Ferrari e Renault
-duas marcas e duas abordagens diferentes.
Desde que a F-1 começou, a
Ferrari só esteve ausente em
um GP -a primeira corrida
realizada em Silverstone, em 13
de maio de 1950. Sob esse critério, a constância da escuderia é
uma exceção. A marca, que não
está entre as montadoras cujos
produtos se destinam ao público geral devido ao volume limitado de produção -apenas
5.000 carros por ano- e ao preço dos modelos, é a única a não
destinar verbas à publicidade
de seus produtos.
Esse papel é desempenhado
quase que exclusivamente pela
F-1, graças à repercussão considerável que as corridas geram
na mídia, o que evita que a empresa precise investir para divulgar seus produtos.
A Ferrari ocupa posição privilegiada no universo da F-1, e
isso vai além de uma simples
questão de imagem: em 2005,
mesmo que os carros vermelhos da equipe houvessem terminado na 10ª -e não na 3ª-
posição no campeonato de
construtores, o faturamento da
empresa com as provas da categoria superaria o da Renault, a
escuderia campeã.
Investimento alto
Estimado em US$ 330 milhões pela revista "Business
F1", o orçamento anual que a
escuderia italiana consagra à F-1 representa um quarto do faturamento total do grupo em
2005. Essa desproporção é
compensada pelo dinheiro auferido em cotas publicitárias e
pelos "royalties" (direitos e licenças) recebidos pelo uso da
marca em produtos derivados,
vendidos em 60 unidades da
cadeia Ferrari Stores.
Presente em mais de 52 mercados, a Ferrari vende 90% de
sua produção para exportação.
As 210 concessionárias que formam sua rede mundial, das
quais 12 na China, 32 nos Estados Unidos e 36 no Oriente Médio, indicam até que ponto os
bólidos vermelhos da equipe
exercem impacto e poder de
atração, não importa que resultados obtenham nas pistas, como destacam pessoas ouvidas
em Maranello, a sede da empresa, na Itália: "A ligação entre
a Ferrari e as pistas de corrida é
tão forte que ela não influencia
as vendas. Os fãs da Ferrari
continuam sendo fãs sempre,
mesmo que a equipe não esteja
vencendo. O fator que faz com
que aumentem nossas vendas
é, acima de tudo, o lançamento
de um novo modelo".
O caso da Renault é completamente diferente. Com faturamento da ordem de 41 bilhões em 2005, a parcela destinada pela montadora à F-1 (estimada em 239 milhões) é
modesta se comparada ao caso
da Ferrari.
A empresa francesa não conseguiu estabelecer vínculo firme entre seu investimento e o
retorno que ele possa gerar em
termos de vendas.
Promovido ao comando do
grupo Renault-Nissan em abril
de 2005, Carlos Ghosn ainda
assim garante que "a F-1 continua a oferecer bom retorno aos
seus participantes e, em especial, aos vencedores".
A obtenção do título mundial, no entanto, nem sempre
pode ser explorada pela escuderia campeã. Assim, a campanha publicitária "Renault e
Alonso, campeões do mundo",
lançada ao final da temporada
de 2005, optou por não reforçar igualmente a condição da
empresa como campeã mundial de construtores e, por isso,
teve de ser retirada de circulação quando o espanhol Fernando Alonso anunciou que
deixaria a escuderia para, em
2007, defender a McLaren.
Um consolo para a Renault,
ao menos, foi que a venda de
produtos derivativos com a
marca da montadora e de sua
escuderia rendeu cerca de 20
milhões.
Mas resta um paradoxo a resolver: a montadora campeã e
séria candidata ao bicampeonato não oferece modelo esportivo em suas concessionárias, ao contrário das demais
montadoras contra as quais
concorre nas pistas -uma lacuna que Carlos Ghosn diz estar impaciente para preencher.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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