|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TV por assinatura pode ter conteúdo nacional
Projeto que está em elaboração na Câmara dos Deputados também prevê a restrição do capital estrangeiro na montagem de pacotes de canais
Proposta é controversa; de um lado, as emissoras se opõem à definição de cotas e, de outro, teles estrangeiras querem maior participação
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As novas regras da TV por assinatura no Brasil, em elaboração na Câmara dos Deputados,
podem fixar cotas de conteúdo
nacional nesse tipo de serviço e
proibir o capital estrangeiro de
controlar empresas de montagem de pacotes de canais. Ele
ficaria autorizado, porém, a
atuar na distribuição de TV a
cabo no país.
Essa proposta ainda não é
consenso no setor. Enquanto a
definição de cotas de conteúdo
nacional não agrada as emissoras de televisão, as teles estrangeiras trabalham para ter direito de controlar tanto a fase de
montagem de pacotes de canais
como sua distribuição.
A batalha em torno dessas regras se dá na Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação
da Câmara, que prepara um
projeto para regularizar o que
os deputados convencionaram
chamar de "serviço de acesso
condicionado". Ou seja, a comercialização de conteúdo audiovisual por meio de aparelho
de TV, celular, computadores e
outros tipos de tecnologia.
No caso das cotas, a intenção
é determinar que 10% dos canais de uma TV por assinatura
sejam brasileiros. Além disso,
fixa que cada pacote de canais
teria de veicular pelo menos 50
horas de conteúdo nacional durante o período que vai de 6h às
24h.
As TVs se queixam principalmente da exigência de que, nessas 50 horas de conteúdo nacional, haveria também uma
cota para produções independentes e regionais. Algo que poderia chegar até a 21 horas para
os independentes e 7 horas nos
regionais.
O projeto da comissão vai dividir o segmento de TV por assinatura em quatro tipos de
áreas empresariais:
1) Uma empresa na área de
produção de conteúdo audiovisual, como noticiário, novelas,
programas, filmes e seriados,
setor liberado, como hoje, para
o capital estrangeiro;
2) Uma de programação, ou
seja, o serviço de montagem de
grades de programas de um determinado canal de TV. Exemplos de hoje: a programação de
um canal da HBO, SporTV ou
ESPN. Livre para capital estrangeiro, mas a gestão seria
exclusiva de brasileiros natos
ou naturalizados há mais de
dez anos;
3) Outra para cuidar do empacotamento, a montagem de
pacotes de canais a serem vendidos a uma TV paga. Esse setor
não poderia ser controlado pelo capital estrangeiro e sua gestão teria de ser entregue também a brasileiros natos ou naturalizados e
4) E uma quarta responsável
pela distribuição, que viria a ser
a fase final do processo, de levar
até as residências os pacotes de
canais por meio de cabo, satélite, sistema de microondas ou
outro tipo de tecnologia. Livre
para o capital estrangeiro, inclusive as empresas de telecomunicações, hoje proibidas de
atuar no serviço por cabo, mas
liberadas por satélite e microondas.
As empresas de telecomunicação estrangeiras preferem
que empacotamento e distribuição sejam um tipo de serviço só, como ocorre hoje, com
uma diferença. Ficariam liberados para atuar na TV por assinatura a cabo.
O presidente da Comissão de
Ciência, Tecnologia e Comunicação, Julio Semeghini (PSDB-SP), diz compreender as reações, avalia que o projeto é um
ponto de partida para negociações e acredita já haver pelo
menos um consenso de que é
necessário proteger o conteúdo
nacional. "O formato, se por cotas ou outro sistema, poderá ser
negociado."
Em relação às pressões para
manter unificados os serviços
de empacotamento e distribuição, Semeghini acredita que será possível convencer as teles
da idéia de separá-los.
Segundo a Folha apurou, a
divisão foi uma forma de compensar as emissoras de TV, à
frente Globo, que eram inicialmente contra aceitar a entrada
das teles no serviço a cabo.
Semeghini e o deputado Jorge Bittar (PT-RJ), relator do
projeto na comissão, apostam
que as mudanças propostas vão
estimular produções nacionais,
aumentar a concorrência no
setor e criar condições para
uma redução no preço das assinaturas.
Dados levantados por eles
indicam que enquanto aqui no
país esse tipo de serviço tem
uma penetração de apenas 8%,
na Argentina chega a 54%, no
Chile a 25% e no México a 23%.
Hoje, no Brasil, existem cerca de 5 milhões de assinantes
de TV paga. Os parlamentares
apostam numa expansão a médio prazo desse número para
30 milhões de assinantes com
as mudanças propostas, que
abririam o setor para mais concorrentes, como as empresas
de telecomunicação.
Um dos entraves para a expansão do setor, na visão dos
deputados, é exatamente a baixa concorrência, o que impede
uma maior disputa pelo cliente
e faz os preços das assinaturas
serem mais elevados no país.
Comparação feita pela comissão aponta que no Brasil o
preço por canal, excluídos os
canais abertos veiculados pelo
serviço, gira entre R$ 1,92 e R$
6,84, enquanto em Portugal essa faixa vai de R$ 1,07 a R$ 1,24,
na Espanha fica entre R$ 1,51 e
R$ 2,20 e na Argentina varia de
R$ 0,63 a R$ 0,80.
Texto Anterior: Luiz Gonzaga Belluzzo: Os "correrias" do Primeiro Mundo Próximo Texto: Frase Índice
|