São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 2008

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Lula quer preservar áreas que geram mais empregos

Planalto priorizará recursos para setores como construção civil e agricultura

Avaliação da Fazenda é que ápice da crise poderá ocorrer no segundo semestre de 2009, em um momento político delicado para Lula

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a equipe econômica iniciaram discussões ontem em São Paulo para tentar preservar em 2009 os setores que geram mais empregos. A avaliação levada ao presidente pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, é que a crise na economia real no Brasil deverá ter seu pico no segundo semestre do ano que vem.
Ou seja, aconteceria num momento político do mandato de Lula no qual o presidente não deseja ver abalos na popularidade. Lula quer terminar o seu mandato em 2010 com cacife político para tentar embalar a eventual candidatura presidencial da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Uma crise na economia real no final de 2009, com eventual onda de desemprego, poderia se alongar para 2010, o último ano do petista no poder.
Segundo a Folha apurou, a avaliação amadurecida na Fazenda é a seguinte: o crescimento de 2008 está garantido, o primeiro semestre de 2009 ainda se beneficiará do embalo do crescimento deste ano e o segundo semestre do ano que vem poderá ser o pior momento para a economia real no Brasil se o governo não adotar medidas preventivas.
Daí o discurso de Lula de preservar a construção civil e a agricultura, bem como dar crédito para manter o mercado interno em movimento. Houve uma inflexão na forma como a cúpula do governo enxerga os eventuais efeitos da atual crise econômica internacional. Publicamente, está mantida a linha otimista, aquela que fala que o Brasil será mais preservado. Internamente, a ordem do presidente é segurar o crescimento do ano que vem.
Quando indagados, ministros não gostam de escolher qual será a prioridade: manter um duro controle sobre a inflação ou estimular o crescimento da economia. Afirmam que as duas ações não são excludentes, porque a inflação corrói o poder de compra do cidadão, e os brasileiros não compram mais se não houver expansão econômica.
No entanto, a prioridade de Lula é assegurar o crescimento. O presidente vai adotar medidas para tentar sustentar um crescimento, no próximo ano, de 4% do PIB (Produto Interno Bruto). Ministros dizem reservadamente que algo acima de 3,5% já seria suficiente para passar um momento de crise sem sufoco.
O governo já adotou medidas pontuais para a falta de liquidez deste momento no sistema financeiro nacional. Agora, seria a vez de programar medidas de crédito para setores que empregam bastante. Na avaliação da equipe econômica, a agricultura poderá se transformar numa espécie de âncora para o Brasil atravessar 2009. Por isso, Lula está preocupado em liberar crédito para a safra agrícola do ano que vem.
Na construção civil, já chegaram ao governo sinais de que as grandes empresas poderão interromper os projetos previstos para o segundo semestre do ano que vem. Contratos do setor já prevêem entregas neste final de ano e no início do próximo. Como investimentos do setor são feitos antecipadamente, Lula deseja uma ação forte dos bancos oficiais, sobretudo da Caixa Econômica Federal, para garantir agora os projetos do ano que vem.


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