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Taxa é retrocesso, dizem bancos estrangeiros
Instituto de Finanças Internacionais afirma que governo opta pela taxação quando deveria atacar "problema fiscal" do país
Para FMI, medida pode se mostrar inócua, porque o capital especulativo tem meios de entrar no país evitando o novo imposto
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
A nova taxa de 2% cobrada
sobre investimentos especulativos no Brasil foi apontada como "retrocesso" e considerada
possivelmente inócua por investidores e instituições oficiais, entre elas o FMI (Fundo
Monetário Internacional).
Para o IIF (Instituto de Finanças Internacionais, na sigla
em inglês), que reúne os maiores bancos do mundo, o governo brasileiro optou pela taxação quando deveria atacar "o
problema fiscal" no país.
Na visão do instituto, os capitais especulativos são atraídos
hoje para o Brasil por causa da
elevada taxa de juros praticada
pelo Banco Central (8,75% ao
ano). Ela seria mantida alta por
conta da ainda frágil situação
das contas públicas, que precisam ser financiadas com dinheiro de investidores.
Para Ramón Aracena, economista do IIF voltado para o
Brasil, a taxação representa um
"retrocesso" no conjunto de
medidas que o Brasil tomou
nos últimos anos para estabilizar sua economia.
"Apesar disso, vemos o Brasil
de maneira muito positiva, mas
agora com mais atenção por
conta de mudanças de políticas", disse Aracena.
Já o diretor para o Hemisfério Ocidental do FMI, Nicolas
Eyzaguirre, disse que a medida
pode ser inócua para controlar
o volume de entrada de capital
especulativo.
"Esse tipo de mecanismo
oferece algum poder de manobra, mas não muito. Com a engenharia financeira atual, não é
muito difícil disfarçar fluxos de
dólares puramente especulativos como se fossem provenientes de comércio exterior ou
mesmo de investimentos produtivos", disse.
"As experiências em vários
países mostram que, com o passar do tempo, os sistemas [que
são taxados] acabaram se tornando muito porosos."
Antes da adoção da nova taxa, o IIF fez a previsão de que o
Brasil receberá 21% mais dólares neste ano, em um total de
US$ 42,7 bilhões (ante US$
34,7 bilhões no ano passado).
Nos emergentes em geral, os
ingressos serão de US$ 349 bilhões em 2009, o que representa recuo de 46,3% sobre 2008.
Financiamentos
A principal razão da expectativa de forte entrada de dólares
no Brasil é exatamente o fluxo
de investimentos especulativos
que o governo quer controlar.
Segundo o IIF, eles passariam
de US$ 8,9 bilhões em 2008 para US$ 29 bilhões neste ano.
Em muitos casos, bancos e
investidores nos países ricos
vêm aproveitando a enxurrada
de dólares que os bancos centrais despejam no mercado a
custo quase zero a fim de recuperar suas economias para
transferir parte desse dinheiro
para investimentos em países
emergentes.
Alguns analistas também levantam a possibilidade de o
mercado de financiamentos como um todo para o Brasil acabar sendo afetado, já que muitos investidores que financiam
companhias brasileiras são os
mesmos que têm aplicações especulativas na Bovespa ou em
títulos do governo.
Para que sejam compensados indiretamente, muitos deles poderão incluir a diferença
da nova taxa no custo dos empréstimos, encarecendo os financiamentos às empresas.
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