São Paulo, quarta-feira, 21 de outubro de 2009

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Taxa é retrocesso, dizem bancos estrangeiros

Instituto de Finanças Internacionais afirma que governo opta pela taxação quando deveria atacar "problema fiscal" do país

Para FMI, medida pode se mostrar inócua, porque o capital especulativo tem meios de entrar no país evitando o novo imposto

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

A nova taxa de 2% cobrada sobre investimentos especulativos no Brasil foi apontada como "retrocesso" e considerada possivelmente inócua por investidores e instituições oficiais, entre elas o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Para o IIF (Instituto de Finanças Internacionais, na sigla em inglês), que reúne os maiores bancos do mundo, o governo brasileiro optou pela taxação quando deveria atacar "o problema fiscal" no país.
Na visão do instituto, os capitais especulativos são atraídos hoje para o Brasil por causa da elevada taxa de juros praticada pelo Banco Central (8,75% ao ano). Ela seria mantida alta por conta da ainda frágil situação das contas públicas, que precisam ser financiadas com dinheiro de investidores.
Para Ramón Aracena, economista do IIF voltado para o Brasil, a taxação representa um "retrocesso" no conjunto de medidas que o Brasil tomou nos últimos anos para estabilizar sua economia.
"Apesar disso, vemos o Brasil de maneira muito positiva, mas agora com mais atenção por conta de mudanças de políticas", disse Aracena.
Já o diretor para o Hemisfério Ocidental do FMI, Nicolas Eyzaguirre, disse que a medida pode ser inócua para controlar o volume de entrada de capital especulativo.
"Esse tipo de mecanismo oferece algum poder de manobra, mas não muito. Com a engenharia financeira atual, não é muito difícil disfarçar fluxos de dólares puramente especulativos como se fossem provenientes de comércio exterior ou mesmo de investimentos produtivos", disse.
"As experiências em vários países mostram que, com o passar do tempo, os sistemas [que são taxados] acabaram se tornando muito porosos."
Antes da adoção da nova taxa, o IIF fez a previsão de que o Brasil receberá 21% mais dólares neste ano, em um total de US$ 42,7 bilhões (ante US$ 34,7 bilhões no ano passado).
Nos emergentes em geral, os ingressos serão de US$ 349 bilhões em 2009, o que representa recuo de 46,3% sobre 2008.

Financiamentos
A principal razão da expectativa de forte entrada de dólares no Brasil é exatamente o fluxo de investimentos especulativos que o governo quer controlar. Segundo o IIF, eles passariam de US$ 8,9 bilhões em 2008 para US$ 29 bilhões neste ano.
Em muitos casos, bancos e investidores nos países ricos vêm aproveitando a enxurrada de dólares que os bancos centrais despejam no mercado a custo quase zero a fim de recuperar suas economias para transferir parte desse dinheiro para investimentos em países emergentes.
Alguns analistas também levantam a possibilidade de o mercado de financiamentos como um todo para o Brasil acabar sendo afetado, já que muitos investidores que financiam companhias brasileiras são os mesmos que têm aplicações especulativas na Bovespa ou em títulos do governo.
Para que sejam compensados indiretamente, muitos deles poderão incluir a diferença da nova taxa no custo dos empréstimos, encarecendo os financiamentos às empresas.


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