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Receita em queda deve sepultar meta fiscal
Arrecadação federal cai pelo 11º mês consecutivo no mês passado; recuo de janeiro até setembro é de R$ 40 bi ou 7,8%
Até agosto, Tesouro havia atingido só 62% da economia de R$ 42,7 bi, meta do ano; em 2008, meta de R$ 63,4 bi foi ultrapassada em julho
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com nova queda da arrecadação tributária e sem a ajuda
dos dividendos das estatais para reforçar o caixa, o resultado
do Tesouro Nacional desabou
no mês passado e praticamente
sepultou as chances de cumprimento da meta fiscal fixada para este ano.
Dados preliminares, ainda
sob análise da área técnica do
governo, apontam que o superavit primário federal -a parcela do Orçamento poupada
para o abatimento da dívida pública-, que chegou a R$ 3,7 bilhões em agosto, caiu para algo
próximo de zero em setembro,
com a possibilidade de haver
deficit.
Nesse tipo de cálculo, que envolve receitas e despesas acima
de R$ 50 bilhões mensais, são
comuns variações na casa do
R$ 1 bilhão nas duas variáveis,
dependendo dos critérios de
contabilização utilizados.
O número final, qualquer que
seja, ficará longe das necessidades da área econômica, que dependia de um saldo forte para
manter as esperanças de atingir o superavit primário prometido para o ano, já reduzido
em razão dos efeitos da crise
econômica global e das medidas adotadas para enfrentar a
recessão.
Até agosto, o Tesouro -incluídos Banco Central e Previdência Social- havia cumprido
apenas 62,1% da economia de
R$ 42,7 bilhões fixada como objetivo de 2009. No ano passado,
a meta de R$ 63,4 bilhões já havia sido ultrapassada, com folga, em julho.
Embora seja a primeira em
dez anos, a virtual frustração do
superavit deste ano não chega a
preocupar os analistas e os investidores, uma vez que a queda da arrecadação era previsível com a retração da indústria
e dos investimentos no início
do ano em decorrência dos efeitos da crise internacional.
No entanto, a demora na recuperação da receita, culminada com a expansão das despesas, já alimenta dúvidas quanto
ao ano eleitoral de 2010 e apostas na alta da inflação e da taxa
de juros.
Divulgada ontem, a arrecadação tributária de setembro
mostrou queda pelo 11º mês
consecutivo, embora a economia nacional tenha iniciado sua
recuperação no segundo trimestre do ano.
Em relação ao mesmo mês
do ano passado, a queda, considerada a variação da inflação,
foi de 11,3%, a maior no ano.
Considerado o período de janeiro a setembro, a queda real é
7,8%, ou mais de R$ 40 bilhões
-quase toda a verba anual destinada para o Ministério da
Educação.
A piora do mês passado supera a média de perdas do ano
porque os resultados de setembro de 2008 foram excepcionalmente bons.
Sem dividendos
Além dos impostos e das contribuições sociais, o resultado
do Tesouro considera também
outras fontes de receita, como
as decorrentes de concessões
de serviços ao setor privado e a
participação nos lucros das empresas controladas pela União.
Em razão do mau desempenho dos tributos, os dividendos
pagos pelas estatais já são equivalentes a dois terços do superavit acumulado no ano e tornaram possível o saldo positivo
em agosto, quando bateram recorde histórico. Em setembro,
porém, o governo não pôde voltar a se valer do expediente, e os
dividendos caíram de R$ 7,8 bilhões, no mês anterior, para
apenas R$ 38 milhões, segundo
a Folha apurou.
O único tributo cuja arrecadação vinha crescendo de forma consistente no ano perdeu
fôlego em setembro: a receita
da contribuição previdenciária,
que acumulava uma alta de
5,2% até agosto, cresceu apenas 0,9% acima da inflação no
mês passado. Já as despesas da
Previdência se mantêm em alta
em razão do reajuste do salário
mínimo no início do ano.
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