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Banco Central anunciou que poderia lançar papéis no mercado para cobrir rombo previdenciário do banco
BC anima bancos com medida de última hora
DAVID FRIEDLANDER
VANESSA ADACHI
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo fez uma mudança de
última hora para animar os bancos que, há três dias do leilão, não
sabiam se deviam ir até o fim na
disputa. Na tarde da última sexta-feira o Banco Central avisou que
tinha resolvido um dos problemas que mais assustava os candidatos à compra do Banespa: a dívida bilionária do seu fundo de
pensão.
O BC comunicou que o Tesouro
Nacional não via problemas em
lançar no mercado papéis da dívida feitos na medida para cobrir o
rombo previdenciário do banco
paulista.
Ou seja, um papel de 20 anos
com rendimento garantido de
12% ao ano. Essa oferta não será
exclusiva para o vencedor do leilão. Será colocada no mercado para quem quiser comprar.
"Essa decisão não foi tomada
por causa do leilão. É política do
Tesouro Nacional", afirmou Carlos Eduardo de Freitas, diretor de
dívida pública do BC.
Essa era uma reivindicação antiga dos candidatos, que até agora
não sabem direito qual é o tamanho do buraco previdenciário do
Banespa. Conforme os critérios
de avaliação, a necessidade de dinheiro extra no fundo de pensão
dos funcionários poderia variar
de R$ 1 bilhão a R$ 4 bilhões - na
estimativa mais apavorada.
A mudança, anunciada aos 44
minutos do 2º tempo, foi uma
providência tomada para evitar
um vexame naquele que deveria
ser um dos eventos mais brilhantes do programa brasileiro de privatização.
Até sexta-feira passada, os estrangeiros BankBoston, Citibank,
Bilbao Vizcaya e HSBC, e o banco
Safra, do Brasil, já tinham desistido oficialmente da disputa -
uma taxa de abandono de mais de
50%.
Se a decisão tivesse sido tomada
antes, alguns dos candidatos que
abandonaram a disputa talvez tivessem continuado até o fim.
Para Freitas, do BC, os desistentes agiram por outros motivos.
"Muitos candidatos que desistiram disseram que o banco estava
redondinho. Ficaram com pena
de ter saído."
Um dos bancos que participou
ontem do leilão confirmou à Folha que estava quase desistindo
quando recebeu a ligação do Banco Central.
Ao lado da dificuldade em avaliar a qualidade dos empréstimos
do Banespa, essa era a dúvida que
mais tirava o sono dos responsáveis pela avaliação da instituição.
O problema é que, diferentemente de outros fundos, o do Banespa foi calculado de tal forma
que o dinheiro depositado hoje
tem de render 12% ao ano.
A taxa é muito alta considerando-se que trata de um investimento de longo prazo, ainda mais
quando se pensa em um cenário
econômico de estabilização.
Os demais fundos de pensão,
mesmo os dos outros bancos públicos, têm de render 6% ao ano,
ou seja, metade.
Cerca de 60% da dívida previdenciária do Banespa já está coberta por títulos especiais do Tesouro que rendem 12% ao ano.
Esses papéis foram emitidos na
ocasião da renegociação da dívida
do Estado de São Paulo, que levou
à federalização do Banespa.
O que preocupava os bancos
eram os outros 40%, que equivalem a um buraco de R$ 1,8 bilhão.
O BC disse aos bancos que consultou o Tesouro Nacional sobre a
possibilidade de lançar uma nova
série especial com essas características. Segundo o BC disse aos
bancos, o Tesouro deu sinal positivo para a operação.
Se por um lado essa operação
ajuda o governo a alongar o perfil
da sua dívida, por outro, amarra o
governo a uma taxa de juro muito
alta, independentemente do cenário futuro da economia.
Em relatório publicado em
maio deste ano, o Santander, vencedor do leilão, anunciou que
considerava esse o principal rombo potencial do Banespa. Pelos
cálculos do banco, seria preciso
injetar R$ 3 bilhões no Banespa
para fechar o buraco.
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