São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 2000

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Banco Central anunciou que poderia lançar papéis no mercado para cobrir rombo previdenciário do banco
BC anima bancos com medida de última hora

DAVID FRIEDLANDER
VANESSA ADACHI


DA REPORTAGEM LOCAL

O governo fez uma mudança de última hora para animar os bancos que, há três dias do leilão, não sabiam se deviam ir até o fim na disputa. Na tarde da última sexta-feira o Banco Central avisou que tinha resolvido um dos problemas que mais assustava os candidatos à compra do Banespa: a dívida bilionária do seu fundo de pensão.
O BC comunicou que o Tesouro Nacional não via problemas em lançar no mercado papéis da dívida feitos na medida para cobrir o rombo previdenciário do banco paulista.
Ou seja, um papel de 20 anos com rendimento garantido de 12% ao ano. Essa oferta não será exclusiva para o vencedor do leilão. Será colocada no mercado para quem quiser comprar.
"Essa decisão não foi tomada por causa do leilão. É política do Tesouro Nacional", afirmou Carlos Eduardo de Freitas, diretor de dívida pública do BC.
Essa era uma reivindicação antiga dos candidatos, que até agora não sabem direito qual é o tamanho do buraco previdenciário do Banespa. Conforme os critérios de avaliação, a necessidade de dinheiro extra no fundo de pensão dos funcionários poderia variar de R$ 1 bilhão a R$ 4 bilhões - na estimativa mais apavorada.
A mudança, anunciada aos 44 minutos do 2º tempo, foi uma providência tomada para evitar um vexame naquele que deveria ser um dos eventos mais brilhantes do programa brasileiro de privatização.
Até sexta-feira passada, os estrangeiros BankBoston, Citibank, Bilbao Vizcaya e HSBC, e o banco Safra, do Brasil, já tinham desistido oficialmente da disputa - uma taxa de abandono de mais de 50%.
Se a decisão tivesse sido tomada antes, alguns dos candidatos que abandonaram a disputa talvez tivessem continuado até o fim.
Para Freitas, do BC, os desistentes agiram por outros motivos. "Muitos candidatos que desistiram disseram que o banco estava redondinho. Ficaram com pena de ter saído."
Um dos bancos que participou ontem do leilão confirmou à Folha que estava quase desistindo quando recebeu a ligação do Banco Central.
Ao lado da dificuldade em avaliar a qualidade dos empréstimos do Banespa, essa era a dúvida que mais tirava o sono dos responsáveis pela avaliação da instituição.
O problema é que, diferentemente de outros fundos, o do Banespa foi calculado de tal forma que o dinheiro depositado hoje tem de render 12% ao ano.
A taxa é muito alta considerando-se que trata de um investimento de longo prazo, ainda mais quando se pensa em um cenário econômico de estabilização.
Os demais fundos de pensão, mesmo os dos outros bancos públicos, têm de render 6% ao ano, ou seja, metade.
Cerca de 60% da dívida previdenciária do Banespa já está coberta por títulos especiais do Tesouro que rendem 12% ao ano. Esses papéis foram emitidos na ocasião da renegociação da dívida do Estado de São Paulo, que levou à federalização do Banespa.
O que preocupava os bancos eram os outros 40%, que equivalem a um buraco de R$ 1,8 bilhão.
O BC disse aos bancos que consultou o Tesouro Nacional sobre a possibilidade de lançar uma nova série especial com essas características. Segundo o BC disse aos bancos, o Tesouro deu sinal positivo para a operação.
Se por um lado essa operação ajuda o governo a alongar o perfil da sua dívida, por outro, amarra o governo a uma taxa de juro muito alta, independentemente do cenário futuro da economia.
Em relatório publicado em maio deste ano, o Santander, vencedor do leilão, anunciou que considerava esse o principal rombo potencial do Banespa. Pelos cálculos do banco, seria preciso injetar R$ 3 bilhões no Banespa para fechar o buraco.


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