|
Texto Anterior | Índice
Setor de leite pode voltar a ter saldo negativo neste ano
Após dois anos de superávit, gastos devem superar receitas;
exportações de US$ 300 milhões no ano não serão alcançadas
Câmbio desfavorável inibe
avanços em mercados já
conquistados e preocupa
setor, que vai fechar 2006 sem exportar o previsto
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Após conviver com um quadro crônico desfavorável na balança comercial, os produtores
de leite conseguiram reverter
essa situação a partir de 2004.
Animado por essa reversão e
com a abertura de novos mercados, o setor esperava receitas
externas de pelo menos US$
300 milhões neste ano.
O balanço de 2006 não deve
mostrar um cenário tão favorável, e o setor pode voltar a ser
negativo. As exportações estão
fracas e atingem apenas metade do previsto. Já as importações crescem.
Os dados da Companhia Nacional de Abastecimento e da
Secretaria de Comércio Exterior indicam que as exportações e as importações acumuladas até outubro estão empatadas em US$ 122 milhões.
Rodrigo Alvim, da Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil, diz que o cenário de
2006 já é diferente do de 2005.
Os preços atuais estão com
queda de 15% em relação aos de
há um ano, e a produção deve
crescer apenas de 2,5% a 3%,
contra 12% no ano passado.
Praticamente definidos os
números de 2006, Alvim diz
que o cenário de 2007 também
não é bom. "O aumento de 10%
nos preços das commodities
como soja e milho vai gerar custo de 4% para os produtores".
Para ele, milho e soja têm forte
participação na formação da
ração, que pesa 40% nos custos
totais dos produtores.
Neste momento em que o
produtor está ampliando a produção, mas o consumo interno
não responde e o externo está
limitado devido à perda de
competitividade do produto
brasileiro, a elevação de custos
é complicada, diz.
Apesar do aumento de produção e do avanço da qualidade
do leite, os produtores estão
conscientes de que ainda têm
problemas para resolver tanto
dentro como fora da porteira.
Dentro da porteira, um dos
maiores problemas ainda é o de
gestão. Muitos produtores são
eficientes, mas não estão preparados para gerir os negócios,
diz o veterinário Edilson José
Vieira. A mudança climática
também passa a ser um problema para os produtores porque
diminui a produção de forrageiras e eleva os custos.
Vieira destaca, ainda, a dificuldade na manutenção de
mão-de-obra nas propriedades.
Além de custos elevados, as leis
restringem a participação dos
funcionários até nas ordenhas
diárias necessárias.
Além dos problemas dentro
da porteira, o produtor Ronei
Volpi destaca vários outros fora
das propriedades. No momento, um dos principais é o câmbio. Além de tornar menos
competitivo o produto brasileiro no mercado externo, o real
valorizado facilita as importações, disse em encontro da Associação de Jornalistas de
Agronegócio do Paraná, na semana passada.
Os problemas passam, ainda,
por uma guerra fiscal entre os
Estados e a necessidade de o
governo gerenciar as políticas
de defesa sanitária e de rastreabilidade. Compete ainda ao governo e ao setor a busca de
acordos sanitários com novos
importadores. Ele cita o exemplo bem-sucedido das negociações com o México, grande importador de leite.
Mário Zoni, da Milkonsult,
diz que ficam no mercado os
que se preocupam com gestão.
Na propriedade de Reni Vriesman, para quem dá assistência,
na região de Ponta Grossa (PR),
Zoni aponta para o gado leiteiro no barracão e diz que as receitas anuais na propriedade
(incluindo descartes) são de R$
0,56 por litro, 27% a mais do
que os custos totais de R$ 0,44
(inclui terra e pró-labore). Para
ele, vão ficar no mercado apenas os profissionais.
Para um técnico do Ministério da Agricultura, mesmo com
tantos problemas, o setor de
leite foi um dos que mais cresceram em produtividade nos
últimos 30 anos. O câmbio, um
dos problemas apontados por
inibir as exportações, é um dos
propulsores do setor, diz ele.
O real valorizado dá renda ao
consumidor interno, que é
quem garante o setor, e reduz
os custos de produção do pecuarista, praticamente determinados pelo dólar. "No futuro,
o Brasil será um grande exportador de leite, mas, por ora, as
exportações são apenas marginais, e não o foco principal."
Texto Anterior: Negócios 2: BofA adquire US Trust por US$ 3,3 bilhões Índice
|