São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2008

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Mercado Aberto

GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br

Braskem vai adiar 30% do investimento previsto para 2009

A Braskem, a maior companhia petroquímica da América Latina, decidiu adiar 30% dos investimentos programados para 2009. A empresa planejava investir R$ 1,3 bilhão no ano que vem, mas, em razão da crise, tomou a decisão de suspender R$ 300 milhões até o mercado se recuperar.
A informação é do presidente da companhia, Bernardo Gradin, ao comentar os efeitos da crise econômica. Na semana passada, a empresa divulgou o balanço referente ao terceiro trimestre deste ano. A companhia registrou um prejuízo de R$ 849 milhões em decorrência do impacto da valorização do dólar: 72% do endividamento da Braskem está atrelado à moeda norte-americana.
Além de adiar investimentos, a Braskem também pisou no freio no ritmo da produção. A empresa reduziu em 20% a produção neste mês para se adequar à retração da demanda por produtos petroquímicos em outubro e novembro. Em dezembro, a empresa dará férias compulsórias a todos os funcionários, o que sempre ocorre tradicionalmente no último mês do ano.
De acordo com Gradin, a crise atingiu a empresa fortemente nas exportações. A Braskem exporta cerca de 25% do que produz. A empresa deixou de exportar mais da metade desse montante, principalmente para a Ásia, que foi a primeira a cancelar os pedidos de compras. A companhia calcula ter deixado de vender US$ 400 milhões ao exterior nos últimos dois meses.
Já o mercado interno, segundo Gradin, continua aquecido, exceto para alguns poucos setores, que começam a mostrar sinais de desaquecimento. Entre eles, o automobilístico. Já o setor de embalagens de comida, por exemplo, se manteve no mesmo ritmo.
Para Gradin, o mercado doméstico não foi abalado por dois motivos. Em primeiro lugar, por não ter ocorrido ainda no Brasil uma queda muito grande no consumo. Além disso, já se observa um processo de substituição de importações no país para compensar a valorização do dólar.
Apesar de todo esse cenário, e das incertezas a respeito do primeiro trimestre do ano que vem, Gradin afirma que está otimista. O que o deixa animado são o fato de o mercado interno continuar aquecido e o movimento de substituição de importações.
O que o assusta, no entanto, é a velocidade desta crise. "Tudo acontece muito rápido."

NO BRASIL
Larry Summers, ex-secretário de Tesouro de Bill Clinton e um dos cotados para ser o próximo secretário do Tesouro dos EUA, deve vir ao Brasil em dezembro. Summers se reúne entre os dias 3 e 5, no Rio, com nomes como Vicente Foz, ex-presidente do México, Isabel Aguilera, presidente da GE na Espanha e em Portugal e Joseph Stiglitz, Nobel de economia, em reunião da Waipa (Associação Mundial das Agências de Promoção de Investimentos).

CARTEIRA ASSINADA

EMPREGO FORMAL SÓ SUPERARÁ INFORMAL EM 2015, DIZ FIRJAN
O percentual de trabalhadores informais e desempregados só será menor que o de formalizados em 2015, quando será de 49,6% da PEA (População Economicamente Ativa). As informações são do Sistema Firjan, com base nos dados da Pnad 2007. Hoje, apenas 42% da PEA tem registro formal. "A rigidez da lei trabalhista, que visa proteger o trabalhador, também é um entrave para a formalização", diz Luciana de Sá, diretora da Firjan. A pesquisa, no entanto, não ajusta as projeções de emprego para a conjuntura de crise econômica.

REFLEXOS
O escritório Gantus Advogados, que atua na área trabalhista empresarial, registrou crescimento na demanda de clientes à procura de assessoria para planejar demissões, após o aprofundamento da crise global. "As empresas estão reduzindo drasticamente seus quadros funcionais", afirma Guilherme Gantus, sócio do escritório.
A busca pelo serviço de planejamento de rescisões foi maior por parte de empresas que prestam serviços a bancos.
De acordo com Gantus, estas companhias estão preparando cortes de cerca de 25% em suas folhas de pagamento. Uma de suas clientes, que possui 800 funcionários, prevê demissões na casa das 200 vagas. Uma outra, que oferece mão-de-obra para bancos com serviços como manutenção, limpeza e vigilância, deve cortar até 20%. A demissões devem começar a ocorrer a partir de janeiro, segundo Gantus. "Como a crise estourou perto do final do ano, algumas empresas conseguirão fechar 2008 com seus funcionários e promover as demissões só no início de 2009. Mas o aviso já vem neste ano."

VELÓRIO
Um dia antes de anunciar os resultados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que mede a criação de vagas com carteira assinada no país, o clima era de velório na sala do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, em Brasília. Em reunião com seis centrais sindicais, o ambiente foi ficando cada vez mais pesado quando os sindicalistas começaram a informar sobre as demissões e as férias coletivas que já acontecem em empresas de todo o Brasil.

GARANTIA
Welber Barral, secretário de Comércio Exterior, tem se reunido com representantes de bancos, como Banco do Brasil e Bradesco, para saber das condições de crédito aos exportadores. Segundo ele, a informação que recebeu do sistema financeiro é que as ações do BC para dar liquidez à economia garantem crédito para a exportação até o fim do ano. Para 2009, não há previsão.

LIGA GAÚCHA
O setor de autopeças já começou a se concentrar. A Borrachas Vipal, fabricante de produtos para reparo de pneus, adquiriu 49% de participação na também gaúcha Duroline, fabricante de lona e pastilhas de freio. A parceria permitirá à Vipal a atuação em um segmento complementar a sua atividade.

ÀS COMPRAS
Ivan Zurita, presidente da Nestlé está analisando quatro empresas do segmento de alimentos para adquirir ainda este ano. Zurita disse isso a João Dória no programa "Show Business", que vai ao ar no final de semana.

Executivos não querem restrição aos bônus, afirma pesquisa

Na opinião de executivos do mundo todo, os bônus e as remunerações não deveriam sofrer restrições, mesmo após a crise, que tem ameaçado a cultura dos bônus estratosféricos. A conclusão é de pesquisa do escritório Allen & Overy. Foram abordados mais de 700 homens de negócios de 4 a 6 de novembro para conhecer suas opiniões sobre a atual regulamentação do mercado -alguns deles estiveram na reunião do G20 no último fim de semana.
Cerca de 57% discordam de que os bônus devam ser restringidos. Entre executivos do Reino Unido, 73% discordam da adoção de mudanças para reduzir os benefícios.
Cerca de 60%, também acha que devia haver um padrão global para a regulação de liquidez. Segundo Bob Kartheiser, diretor do grupo na América Latina, algumas regiões pesquisadas têm diferenças de opiniões devido às variações culturais. "Certas regiões requerem mais freios no capitalismo." Há um consenso geral de que devia ser criada uma convenção global para tratar de insolvência internacional -o modelo seriam diretrizes da União Européia.

com JOANA CUNHA, MARINA GAZZONI e CLÁUDIA ROLLI


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