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Busca por eficiência faz banco público parecer com privado
DA REPORTAGEM LOCAL
Com resultados historicamente atrás dos concorrentes
privados, os bancos públicos
mostraram neste ano fortes ganhos de eficiência e se preparam para ocupar o vácuo deixado no mercado de crédito pelas
instituições privadas que "empoçaram" os financiamentos.
A maior dúvida apontada por
analistas é quanto ao uso político dessas instituições, que podem ser forçadas a assumir um
risco incompatível com taxas e
exigências usuais de garantia,
política que levou, no passado,
a sucessivos socorros.
Por outro lado, sob comando
público o governo impeliu seus
bancos a emprestarem durante
os piores momentos da crise
atual e colocou uma pressão
adicional nas instituições privadas, cujo conservadorismo
pode levar a perder mercado.
Os ganhos de instituições estatais como Banco do Brasil e
Caixa Econômica Federal já
chegam próximo de Itaú-Unibanco, Bradesco e Santander.
No ano, o BB acumula lucro de
R$ 5,9 bilhões - pouco atrás
dos R$ 6,015 bilhões do Bradesco e de R$ 5,932 bilhões do Itaú.
Mesmo a paulista Nossa Caixa já soma um ganho de R$ 596
milhões no ano. O Unibanco,
que é três vezes maior, lucrou
no período R$ 2,201 bilhões.
"Isso é um elemento novo,
que mostra uma convergência
do BB para não ficar tão longe
[dos concorrentes]. Agora os
bancos públicos estão aí aproveitando o momento [de aperto
no crédito] para crescer", disse
Luis Miguel Santacreu, analista
da Austin Ratings.
Com o controle nas mãos do
Estado, os bancos públicos
mostram uma tendência maior
de assumir risco e alavancar
sua posição de crédito a partir
de um capital próprio menor.
Por exemplo, o BB tem alavancagem de crédito (dinheiro emprestado em relação ao patrimônio) da ordem de 7,25 vezes
e a Caixa, de 5,6 vezes. Já o Bradesco e o Santander-Real estão
com alavancagem menor, de
4,7 vezes e 5,3 vezes.
Um dos indicadores mais utilizados para medir a produtividade dos bancos, o índice de cobertura da folha de pagamento
com as receitas de serviço, sempre ficou abaixo de 100% nos
bancos públicos. Na divulgação
do terceiro trimestre, o BB destacou que conseguiu chegar a
uma cobertura de 124,8% dos
salários com a receita de serviços no acumulado do ano. Já a
Caixa ainda tem uma cobertura
de 90,2% e a Nossa Caixa, de
84,2%. Bradesco e Unibanco lideram a cobertura com 154,5%
e 132,8% da folha.
Para Ceres Lisboa, analista
da Moody's, mais importante
do que os recentes ganhos de
eficiência dos bancos estatais
está a discussão da ingerência
política e a transparência na tomada de decisões. "O principal
desafio dos bancos estatais
sempre foi essa questão de eles
serem um braço do governo, terem a governança corporativa
mais complicada e uma influência política na gestão. Tem
[peso na avaliação] muito mais
essa ingerência política do que
a competitividade", disse.
Armando Castelar, professor
da UFRJ, afirma que não é mais
verdade que o banco público
desempenhe um papel complementar ao dos privados, atuando em segmentos que não interessam para o setor privado. Isso porque a bancarização levou
os bancos privados a todas as
localidades do país. Castelar diz
que a discussão de que banco
público não quebra perdeu a
relevância por não se questionar a solidez dos grandes bancos. "O banco público faz a
mesma coisa que o banco privado. Será que vale a pena o Estado subsidiar o banco público
para fazer o que o banco privado também faz?"
Castelar lembra que o saneamento dos bancos estatais consumiu nos anos 90 quase R$ 90
bilhões -quatro vezes mais do
que os R$ 20 bilhões do saneamento dos bancos privados.
O economista diz que tanto o
Banco do Brasil quanto a Caixa
foram socorridos no início da
década, sendo que o BB já quebrou quatro vezes em seus 200
anos de história.
(TONI SCIARRETTA)
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