São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2008

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Busca por eficiência faz banco público parecer com privado

DA REPORTAGEM LOCAL

Com resultados historicamente atrás dos concorrentes privados, os bancos públicos mostraram neste ano fortes ganhos de eficiência e se preparam para ocupar o vácuo deixado no mercado de crédito pelas instituições privadas que "empoçaram" os financiamentos.
A maior dúvida apontada por analistas é quanto ao uso político dessas instituições, que podem ser forçadas a assumir um risco incompatível com taxas e exigências usuais de garantia, política que levou, no passado, a sucessivos socorros.
Por outro lado, sob comando público o governo impeliu seus bancos a emprestarem durante os piores momentos da crise atual e colocou uma pressão adicional nas instituições privadas, cujo conservadorismo pode levar a perder mercado.
Os ganhos de instituições estatais como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal já chegam próximo de Itaú-Unibanco, Bradesco e Santander. No ano, o BB acumula lucro de R$ 5,9 bilhões - pouco atrás dos R$ 6,015 bilhões do Bradesco e de R$ 5,932 bilhões do Itaú.
Mesmo a paulista Nossa Caixa já soma um ganho de R$ 596 milhões no ano. O Unibanco, que é três vezes maior, lucrou no período R$ 2,201 bilhões.
"Isso é um elemento novo, que mostra uma convergência do BB para não ficar tão longe [dos concorrentes]. Agora os bancos públicos estão aí aproveitando o momento [de aperto no crédito] para crescer", disse Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Ratings.
Com o controle nas mãos do Estado, os bancos públicos mostram uma tendência maior de assumir risco e alavancar sua posição de crédito a partir de um capital próprio menor. Por exemplo, o BB tem alavancagem de crédito (dinheiro emprestado em relação ao patrimônio) da ordem de 7,25 vezes e a Caixa, de 5,6 vezes. Já o Bradesco e o Santander-Real estão com alavancagem menor, de 4,7 vezes e 5,3 vezes.
Um dos indicadores mais utilizados para medir a produtividade dos bancos, o índice de cobertura da folha de pagamento com as receitas de serviço, sempre ficou abaixo de 100% nos bancos públicos. Na divulgação do terceiro trimestre, o BB destacou que conseguiu chegar a uma cobertura de 124,8% dos salários com a receita de serviços no acumulado do ano. Já a Caixa ainda tem uma cobertura de 90,2% e a Nossa Caixa, de 84,2%. Bradesco e Unibanco lideram a cobertura com 154,5% e 132,8% da folha.
Para Ceres Lisboa, analista da Moody's, mais importante do que os recentes ganhos de eficiência dos bancos estatais está a discussão da ingerência política e a transparência na tomada de decisões. "O principal desafio dos bancos estatais sempre foi essa questão de eles serem um braço do governo, terem a governança corporativa mais complicada e uma influência política na gestão. Tem [peso na avaliação] muito mais essa ingerência política do que a competitividade", disse.
Armando Castelar, professor da UFRJ, afirma que não é mais verdade que o banco público desempenhe um papel complementar ao dos privados, atuando em segmentos que não interessam para o setor privado. Isso porque a bancarização levou os bancos privados a todas as localidades do país. Castelar diz que a discussão de que banco público não quebra perdeu a relevância por não se questionar a solidez dos grandes bancos. "O banco público faz a mesma coisa que o banco privado. Será que vale a pena o Estado subsidiar o banco público para fazer o que o banco privado também faz?"
Castelar lembra que o saneamento dos bancos estatais consumiu nos anos 90 quase R$ 90 bilhões -quatro vezes mais do que os R$ 20 bilhões do saneamento dos bancos privados.
O economista diz que tanto o Banco do Brasil quanto a Caixa foram socorridos no início da década, sendo que o BB já quebrou quatro vezes em seus 200 anos de história. (TONI SCIARRETTA)


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