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Governo prepara lei para retaliar EUA com tarifa sobre royalties
Além de taxar bens, país quer impor cobrança punitiva sobre
importação de serviços para compensar subsídios no algodão
Legislação necessária para
aplicar punições está na
Casa Civil; nesta semana,
OMC deu decisão final
sobre direito de retaliação
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a decisão final da OMC
(Organização Mundial do Comércio), nesta semana, de autorizar o Brasil a retaliar os Estados Unidos por causa dos
subsídios concedidos aos produtores de algodão, o governo
prepara uma lei para colocar
em prática as sanções discutidas nos últimos anos.
O objetivo é abrir caminho
para, além da taxação de bens,
instituir também uma cobrança punitiva sobre a importação
de serviços e royalties pagos a
empresas norte-americanas
pelo uso de marcas, patentes e
direitos autorais (classificados
como propriedade intelectual).
Segundo a Folha apurou, o
texto já está pronto, mas o governo não sabe se irá encaminhá-lo ao Congresso na forma
de projeto de lei, medida provisória ou de um substituto a um
outro projeto em tramitação
na Câmara, de autoria do deputado Paulo Teixeira (PT-SP).
Dentro do governo, defende-se, ainda, uma reação mais dura por parte do Brasil, autorizando também a suspensão de
alguns direitos de propriedade
intelectual, o que afetaria a importação de medicamentos genéricos, barateando o valor para os brasileiros.
A estratégia da diplomacia
brasileira, no momento, é deixar claro aos Estados Unidos
que a recusa deles em rever
subsídios dados na produção e
na exportação de algodão afetará áreas sensíveis na relação
comercial com o Brasil. Isso na
expectativa de que o governo
norte-americano reveja sua
posição a favor dos benefícios
concedidos internamente.
Na verdade, o governo brasileiro gostaria de evitar a retaliação por acreditar que o processo pode atingir, mesmo que
indiretamente, a cadeia produtiva nacional. Por isso, os produtos e serviços-alvo das punições estão sendo escolhidos a
dedo, de forma a prejudicar as
importações dos Estados Unidos com a menor repercussão
possível sobre setores da indústria brasileira que usam
componentes importados.
Disputa em duas etapas
O primeiro alerta do Brasil
aos EUA veio com a divulgação,
no início deste mês, de uma lista de 222 produtos que podem
ter as tarifas de importação elevadas drasticamente. Os itens,
que foram colocados em consulta pública pela Camex (Câmara de Comércio Exterior)
até o final do mês, poderão gerar uma retaliação de cerca de
US$ 450 milhões ao ano, nas
estimativas do governo brasileiro, e excluem, por exemplo,
bens de capital como máquinas
e equipamentos usados na indústria brasileira. Isso corresponde à primeira fase do processo de retaliação.
Pelas regras estabelecidas,
após atingir esse valor previsto
para retaliação de bens, o Brasil
pode criar punições sobre a importação de serviços, o que inclui propriedade intelectual. O
valor nessa área está estimado
em mais US$ 450 milhões por
ano.
O problema é que, para aplicar as punições que quer nesse
setor, o Brasil precisa aprovar
legislação que está em análise
na Casa Civil. Na prática, é essa
lei que regulamentará o uso
desse instrumento. Há cerca de
dois anos, o Itamaraty trabalha
nesse texto, já na expectativa
de uma decisão favorável ao
Brasil na OMC.
Segundo a Folha apurou, o
governo brasileiro quer estar
pronto para adotar efetivamente as retaliações necessárias até o início de fevereiro do
ano que vem. Por isso, a dúvida
sobre qual instrumento legal
utilizar: MP ou projeto de lei.
Na prática, esse é o prazo que
os EUA teriam para reverter a
situação e evitar as sanções que
seriam implementadas pela
primeira vez pelo Brasil.
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