São Paulo, sábado, 21 de dezembro de 2002

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FINANÇAS

Aumento dos juros bancários em novembro foi maior do que a elevação registrada pela taxa Selic, definida pelo BC

Consumidor paga juro mais alto em 2 anos

Matuiti Mayezo/Folha Imagem
Luiz Fernando Figueiredo (esq.), Armínio Fraga (meio) e Ilan Goldfajn, todos do BC, conversam durante evento sobre juros, em SP


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os juros cobrados pelos bancos no cheque especial atingiram, no mês passado, o nível mais elevado desde junho de 2000, segundo levantamento divulgado ontem pelo Banco Central. Em novembro, a taxa chegou a 160,9% ao ano -o equivalente a cerca de 8,3% ao mês.
A alta nos juros do cheque especial foi acompanhada pela alta das taxas cobradas em todas as operações de crédito realizadas pelos bancos. No mês passado, os juros médios praticados nos empréstimos concedidos a pessoas físicas chegaram a 82,9% ao ano, a mais alta desde fevereiro de 2000.
Entre as empresas, também houve um forte aumento nos juros: eles passaram, em média, de 23% ao ano para 27,9% ao ano.
Um dos motivos para o encarecimento do crédito é o aumento dos juros básicos da economia promovido pelo BC nos últimos meses. Entre outubro e novembro, a taxa Selic passou de 18% ao ano para 22% ao ano. Essa taxa serve de referência para as demais praticadas no mercado.
O aumento dos juros bancários ocorrido no mês passado, porém, foi maior do que a elevação registrada pela taxa Selic. Isso pode ser percebido no crescimento do chamado "spread" bancário, que é a diferença entre aquilo que os bancos pagam para captar dinheiro no mercado e o que é cobrado de seus clientes na hora dos empréstimos.
O "spread" subiu de 51,5 pontos percentuais para 53,6 pontos entre outubro e novembro. Isso significa que, dos 82,9% de juros anuais cobrados nos empréstimos para pessoas físicas em novembro, 53,6 pontos representam a parcela de dinheiro que fica efetivamente com os bancos. Esse "spread" é o mais elevado desde outubro do ano passado.

"Decisão dos bancos"
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, não quis comentar os motivos que teriam levado os juros bancários a subirem mais do que a taxa Selic entre outubro e novembro. "Por que [os bancos" elevaram as taxas? Não sei. Isso é uma decisão tomada pela instituição financeira", afirmou.
Lopes disse que "a taxa de "spread" está muito alta" e que os juros bancários devem continuar a subir. "Não dá para achar que essa taxa vá cair", afirmou o funcionário do BC. A recente elevação da taxa Selic deve, novamente, puxar para cima os juros cobrados pelos bancos neste mês.
A inadimplência, um dos fatores citados com frequência como sendo responsável pelos elevados juros praticados, segue estável. Do total de empréstimos concedidos pelos bancos, 8% estão com seu pagamento atrasado há pelo menos 15 dias. Em janeiro último, essa proporção estava em 8,8%.
De acordo com Lopes, uma interpretação possível para a alta dos juros seria a de que os bancos aumentam as taxas para se prevenir de eventuais elevações da Selic que venham a ocorrer no futuro.
"Mesmo com a inadimplência estável, as instituições financeiras costumam ter essa posição mais conservadora", disse Lopes.
Nesta semana, o BC aumentou a taxa Selic em três pontos percentuais, na tentativa de conter a alta da inflação. Os juros básicos da economia passaram de 22% ao ano para 25% ao ano, atingindo o nível mais elevado desde maio de 1999.


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