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LUÍS NASSIF
Cadê o economista?
Em que se transformou o estudo de economia no Brasil
nas últimas décadas? Autor de
um pequeno clássico sobre o
pensamento da escola de economia da PUC-Rio, o consultor
André Araújo sustenta: o Brasil
não tem mais pensadores de economia, "tem papagaios repetidores e copistas-detalhistas de
subteses vindas de fora".
Basta ver os incríveis "Working Paper Series" (assim mesmo, em inglês) do site do Banco
Central. É um deserto de pensamento econômico, diz ele, completamente diferente da matriz
intelectual deles, os Estados Unidos, onde o debate entre escolas
é intenso e enriquecedor.
Essa escola de economistas está no poder há 13 anos, desde o
ministro Marcílio Marques Moreira, no governo Collor. Nesse
período, não conseguiu emplacar um único economista brasileiro no segundo ou terceiro escalões do FMI. O máximo que
conseguiram (e estufam o currículo com isso, diz Araújo) é figurar no banco de consultores pagos por trabalho, uma vala comum de milhares de nomes de
terceira categoria.
Enquanto argentinos e chilenos se revezam nos melhores
postos do Departamento do Hemisfério Ocidental, que jurisdiciona o Brasil -o melhor cliente
devedor do Fundo desde a criação deste, em 1945-, os professores-doutores brasileiros nem
chegam perto desse importante
centro de decisões, pago pelo
Brasil. Desde 2002 a fatura apresentada ao caixa do Tesouro em
Brasília pelo FMI paga a totalidade das despesas administrativas do Fundo, inclusive sua folha de bons salários para 2.000
servidores, dos quais 1.000 são
economistas. São US$ 800 milhões que o Brasil paga de encargos ao FMI e são US$ 800 milhões que o Fundo gasta por ano
com despesas.
Mesmo assim, não há um único economista brasileiro que tenha apresentado qualquer trabalho original, de repercussão
no exterior, que dissesse respeito
às grandes questões que interessam ao Brasil. A razão disso é a
ausência de debate público sobre a economia brasileira. Há
uma torre de marfim, onde os
grão-vizires desse pensamento
cabeça-de-planilha desfilam
platitudes e obviedades, com
ares de sábios, reduzindo a economia a duas ou três variáveis,
como poetastros que discutem
métricas e filigranas em tertúlias
literárias.
A discussão econômica se restringe, nesses centros, a discutir
fórmulas vagas, se perder em detalhes estatísticos, sem nenhuma
visão do todo. Como as teses originais são mais difíceis de serem
apreendidas, a cobertura acaba
se fixando em clichês e lugares-comuns. Há a elegia permanente da mediocrização.
Nos EUA -insiste Araújo-,
o debate econômico está longe
de ser exclusivo de economistas.
Todo mundo fala, economia
tem muito de arte e bom senso,
não é preciso ser acadêmico para ter boa cabeça econômica.
Dentro do próprio mercado,
há uma safra de economistas
que não entrou nesse jogo marqueteiro dos cabeças-de-planilha. Faltam apenas uma articulação maior e um maior esforço
da cobertura para captar as
boas idéias que circulam.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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