São Paulo, quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

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Lula leva mínimo a R$ 380 e adia pacote

Presidente prioriza salário, que deve trazer gasto extra de R$ 1 bi e ameaça desonerações feitas com mínimo a R$ 375

Novo valor do mínimo implicaria redução de R$ 600 mi nos cortes de impostos previstos para "destravar" a economia


VALDO CRUZ
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva adiou para o próximo ano o anúncio do pacote econômico encomendado para destravar o crescimento do PIB e ontem, na véspera da divulgação oficial das medidas, definiu o novo salário mínimo de R$ 380 para 2007.
O novo valor, que era rejeitado pela equipe econômica, acabou sendo o principal motivo para o adiamento das medidas, provocando divergências dentro do governo na formatação final do pacote econômico.
Sem recursos para compensar o novo valor acordado com as centrais sindicais, a equipe econômica propôs reduzir o tamanho dos cortes de tributos negociado pelo ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento). A idéia era diminuir a desoneração em R$ 600 milhões, atingindo principalmente produtos da construção civil que teriam imposto reduzido.
A proposta da equipe de Guido Mantega (Fazenda) irritou Furlan, que ainda não definiu sua permanência no governo e conta com as medidas de desoneração para montar uma eventual agenda de trabalho para o segundo mandato. Ele manifestou sua contrariedade diretamente a Lula e Mantega.
A equipe econômica argumentou que o novo valor do mínimo significaria um custo extra de cerca de R$ 1 bilhão em 2007, já que as contas do pacote vinham sendo feitas com um mínimo de R$ 375. Para evitar mudanças nas desonerações de impostos, a saída seria romper o acordo fechado na noite de terça-feira com as centrais sindicais em torno dos R$ 380.
O desentendimento dentro do governo ficou público quando Mantega chegou, ontem à tarde, ao Senado para um depoimento no plenário. Indagado sobre o mínimo de R$ 380, ele disse que ainda não havia nenhum acordo. "É uma proposta que ele [Luiz Marinho, ministro do Trabalho] discutiu com as centrais sindicais, mas ainda não é uma proposta do governo. Tem que ser discutida. A minha [proposta] tem sido em aumentar para R$ 367."
No início da noite, porém, Lula contrariou sua equipe econômica e autorizou Marinho a divulgar os R$ 380 para 2007. Com isso, a equipe econômica não conseguiu fechar as contas do pacote, já que sua proposta de reduzir o tamanho dos cortes de tributos foi bombardeada por Furlan.
Diante da indefinição, Lula decidiu pelo adiamento das medidas. Com isso, espera negociar uma nova proposta que agrade a Furlan para convencê-lo a permanecer no governo.
Sem as medidas de desoneração, Furlan dificilmente ficará. Lula chegou a cogitar transferir o anúncio das medidas para a próxima semana.
Foi desaconselhado por seus ministros, sob o argumento de que o pacote seria anunciado logo depois do Natal e teria pouca repercussão na imprensa. O anúncio das medidas estava previsto para hoje. O próprio Planalto informou segunda-feira que o Conselho Político se reuniria hoje, quando seria informado do pacote. Em seguida, as medidas seriam divulgadas. Essa reunião também foi adiada.
Não é o primeiro adiamento das medidas. Encomendadas por Lula tão logo se reelegeu, para "destravar" a economia, a equipe econômica passou 40 dias estudando as propostas.
A decisão de adiar o pacote para 2007 foi informada em primeira mão à bancada do PP, reunida com o presidente ontem à tarde. "O pacote ficou pronto, mas é preciso maturar mais o processo e amadurecer melhor todas as medidas", disse o presidente a cerca de 30 parlamentares do PP, segundo apurou a Folha.
Na mesma reunião, no Palácio do Planalto, o presidente petista fez uma brincadeira sobre o adiamento do anúncio do pacote.
"Agora não é a data ideal para anunciar isso [pacote], pois as pessoas só estão pensando no Natal e no Ano Novo. Vamos deixar pro ano que vem mesmo", afirmou, segundo relato de participantes.


Colaboraram EDUARDO SCOLESE e PEDRO DIAS LEITE, da Sucursal de Brasília

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