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Lula leva mínimo a R$ 380 e adia pacote
Presidente prioriza salário, que deve trazer gasto extra de R$ 1 bi e ameaça desonerações feitas com mínimo a R$ 375
Novo valor do mínimo implicaria redução de
R$ 600 mi nos cortes de impostos previstos para "destravar" a economia
VALDO CRUZ
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva adiou para o próximo
ano o anúncio do pacote econômico encomendado para destravar o crescimento do PIB e
ontem, na véspera da divulgação oficial das medidas, definiu
o novo salário mínimo de R$
380 para 2007.
O novo valor, que era rejeitado pela equipe econômica, acabou sendo o principal motivo
para o adiamento das medidas,
provocando divergências dentro do governo na formatação
final do pacote econômico.
Sem recursos para compensar o novo valor acordado com
as centrais sindicais, a equipe
econômica propôs reduzir o tamanho dos cortes de tributos
negociado pelo ministro Luiz
Fernando Furlan (Desenvolvimento). A idéia era diminuir a
desoneração em R$ 600 milhões, atingindo principalmente produtos da construção civil
que teriam imposto reduzido.
A proposta da equipe de Guido Mantega (Fazenda) irritou
Furlan, que ainda não definiu
sua permanência no governo e
conta com as medidas de desoneração para montar uma
eventual agenda de trabalho
para o segundo mandato. Ele
manifestou sua contrariedade
diretamente a Lula e Mantega.
A equipe econômica argumentou que o novo valor do mínimo significaria um custo extra de cerca de R$ 1 bilhão em
2007, já que as contas do pacote
vinham sendo feitas com um
mínimo de R$ 375. Para evitar
mudanças nas desonerações de
impostos, a saída seria romper
o acordo fechado na noite de
terça-feira com as centrais sindicais em torno dos R$ 380.
O desentendimento dentro
do governo ficou público quando Mantega chegou, ontem à
tarde, ao Senado para um depoimento no plenário. Indagado sobre o mínimo de R$ 380,
ele disse que ainda não havia
nenhum acordo. "É uma proposta que ele [Luiz Marinho,
ministro do Trabalho] discutiu
com as centrais sindicais, mas
ainda não é uma proposta do
governo. Tem que ser discutida. A minha [proposta] tem sido em aumentar para R$ 367."
No início da noite, porém,
Lula contrariou sua equipe
econômica e autorizou Marinho a divulgar os R$ 380 para
2007. Com isso, a equipe econômica não conseguiu fechar
as contas do pacote, já que sua
proposta de reduzir o tamanho
dos cortes de tributos foi bombardeada por Furlan.
Diante da indefinição, Lula
decidiu pelo adiamento das
medidas. Com isso, espera negociar uma nova proposta que
agrade a Furlan para convencê-lo a permanecer no governo.
Sem as medidas de desoneração, Furlan dificilmente ficará.
Lula chegou a cogitar transferir o anúncio das medidas para a próxima semana.
Foi desaconselhado por seus ministros,
sob o argumento de que o pacote seria anunciado logo depois
do Natal e teria pouca repercussão na imprensa. O anúncio
das medidas estava previsto para hoje. O próprio Planalto informou segunda-feira que o
Conselho Político se reuniria
hoje, quando seria informado
do pacote. Em seguida, as medidas seriam divulgadas. Essa
reunião também foi adiada.
Não é o primeiro adiamento
das medidas. Encomendadas
por Lula tão logo se reelegeu,
para "destravar" a economia, a
equipe econômica passou 40
dias estudando as propostas.
A decisão de adiar o pacote
para 2007 foi informada em
primeira mão à bancada do PP,
reunida com o presidente ontem à tarde. "O pacote ficou
pronto, mas é preciso maturar
mais o processo e amadurecer
melhor todas as medidas", disse o presidente a cerca de 30
parlamentares do PP, segundo
apurou a Folha.
Na mesma reunião, no Palácio do Planalto, o presidente
petista fez uma brincadeira sobre o adiamento do anúncio do
pacote.
"Agora não é a data ideal para
anunciar isso [pacote], pois as
pessoas só estão pensando no
Natal e no Ano Novo. Vamos
deixar pro ano que vem mesmo", afirmou, segundo relato
de participantes.
Colaboraram EDUARDO SCOLESE e PEDRO DIAS LEITE, da Sucursal de Brasília
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