São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2008

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Fiesp promete reagir contra reajuste do gás

Entidade afirma que aumento vem na pior hora, quando a desaceleração da produção já provoca demissões na indústria

Para industriais, reajuste é "perfeitamente evitável", pois preço do gás deve cair já em janeiro, considerando a desvalorização do petróleo

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) promete reagir à decisão da Arsesp (Agência Reguladora de Saneamento e Energia de São Paulo) de conceder um reajuste extraordinário à Comgás no momento em que a indústria começa a acusar efeitos da crise sobre a produção.
Na semana passada, a federação anunciou o corte de 34 mil empregos na indústria paulista em novembro, efeito direto da redução da atividade industrial. Para Carlos Antônio Cavalcante, diretor de energia da Fiesp, ouvido pela Folha na última sexta-feira, antes da confirmação do aumento, o reajuste pode atingir vários setores, como as indústrias cerâmica, química, têxtil e vidreira e os fabricante de fertilizantes.
A publicação de uma resolução da Arsesp com o reajuste já havia sido tentada no final de novembro, mas foi suspensa depois de uma mobilização da Fiesp junto a autoridades do governo de São Paulo, ao governo federal e a executivos da Petrobras.

Sobe e desce
Segundo a Fiesp, o despacho com a autorização do aumento deveria ter sido publicado no "Diário Oficial" do Estado no dia 28 de novembro e passaria a vigorar em 1º de dezembro.
O reajuste não seria pequeno. De acordo com a federação, o preço do gás natural consumido pelo setor industrial subiria entre 18% e 33%. A variação dependeria do volume de consumo de cada cliente. Os reajustes também alcançariam o mercado de GNV (Gás Natural Veicular), com alta de 40%, e o consumidor residencial, que seria obrigado a pagar 10% mais pelo produto.
"Essa resolução acabou não sendo publicada, mas a Fiesp não acha que o risco de um novo reajuste está completamente afastado. Há grandes chances de um anúncio entre o Natal e o Ano Novo", afirmou.
A declaração foi feita antes de a reportagem ter a confirmação do reajuste.
A Fiesp deve sustentar que o reajuste é "perfeitamente evitável". Segundo Carlos Antônio Cavalcante, o preço do gás boliviano deve registrar um recuo a partir de janeiro, quando acontece uma revisão trimestral já prevista em contrato.
O gás boliviano é responsável por abastecer 75% dos contratos de venda da Comgás. A cada três meses, o preço do combustível é ajustado conforme a variação de uma cesta de óleos no mercado internacional, atrelada ao petróleo.
De acordo com a federação das indústrias, conforme o cálculo de barateamento do petróleo nos últimos meses, o preço do gás deve baixar de US$ 9 para US$ 7,50 por milhão de BTUs (medida britânica usada para medir o poder calorífico do combustível).
Cavalcante afirma que isso ocorrerá devido à redução do preço médio do petróleo no último trimestre de 2008. "O valor médio do barril de petróleo de julho a setembro foi de US$ 135, mas depois caiu para US$ 48 entre outubro e dezembro. Vão dar um aumento agora para depois reduzir adiante, quando o contrato da Comgás for reajustado", afirmou.
O diretor da Fiesp criticou a atitude da Petrobras, que avaliou como "irredutível". Segundo ele, a estatal poderia negociar com a Comgás a redução do preço do gás natural para a distribuidora e permitir que o contrato volte a ter equilíbrio econômico-financeiro sem a necessidade de reajuste para os consumidores.
"A Petrobras sabe que o preço do gás boliviano vai cair, então poderia antecipar isso e evitar um repasse para o consumidor de São Paulo", disse.
A reportagem tentou repercutir as declarações com a diretoria de gás e energia da Petrobras, mas não obteve retorno.


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