São Paulo, segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

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Investimento de montadoras terá 1ª queda em seis anos

Em 2010, porém, aporte no setor deve chegar a US$ 3 bi, maior volume da história

Neste ano, investimentos terão queda de até 24% em relação a 2008, por conta do impacto da crise global, segundo associação do setor

PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As montadoras vão encerrar este ano com a primeira redução no nível de investimentos desde 2003. Mas essa baixa, provocada pela crise global, será sucedida por uma retomada em 2010, com o maior volume já investido pelo setor no país.
Dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) obtidos pela Folha mostram que os aportes das montadoras em 2009 vão fechar entre US$ 2,2 bilhões e US$ 2,3 bilhões, um decréscimo de até 24% em relação a 2008. No ano que vem, entretanto, o valor chegará a cerca de US$ 3 bilhões, o maior em toda a história.
"A crise enxugou os investimentos no primeiro semestre deste ano. A decisão de voltar a investir ocorreu no segundo semestre, em razão da retomada do mercado. E o reflexo disso nós veremos em 2010", afirma o presidente da Anfavea, Jackson Schneider.
Segundo ele, mesmo que as empresas não tenham determinado cortes definitivos, parte dos investimentos planejados foi adiada.
"Houve um reposicionamento ao longo do tempo por conta da desconfiança que a crise trouxe", afirma.
Mas, recentemente, passada a fase mais aguda da crise, a indústria automotiva apresentou planos bilionários para os próximos anos.
A Volkswagen anunciou que irá investir R$ 6,2 bilhões no país entre 2010 e 2014. Trata-se do maior aporte da empresa já realizado no Brasil em reais. A Ford anunciou plano de investimento de R$ 4 bilhões para o período 2011-2015, também o maior valor investido pela montadora desde sua chegada ao país, há 90 anos.
A GM (General Motors) já informou que até 2012 irá investir uma média de R$ 1 bilhão por ano. Na semana retrasada, foi a vez de a Renault anunciar investimento -R$ 1 bilhão até 2012.
"Sem dúvida, esse é um ciclo de investimentos muito importante. Estamos falando em cerca de R$ 15 bilhões nos próximos anos. E novos anúncios virão em 2010", diz Schneider.
De acordo com o presidente da Anfavea, esse montante será aplicado não só em ampliação da capacidade produtiva, mas também em engenharia e desenvolvimento de produtos. A indústria automotiva trabalha com a meta de ampliar sua capacidade instalada de 4 milhões de veículos por ano para 5 milhões até 2013.
"Mas não será só isso. O Brasil entrou em uma fase em que não é mais possível deixar uma dessas dimensões para trás. Por isso, o perfil de investimentos desta vez é mais amplo do que no passado."

Geração de recursos
O Brasil estará nos próximos anos entre os países que mais receberão investimentos da indústria automotiva no mundo, de acordo com Letícia Costa, vice-presidente da consultoria Booz & Company Brasil.
"O Brasil é o quinto maior mercado e o sexto maior produtor de veículos. Tirando a China, é provavelmente um dos países mais atraentes para investir. Já está comprovado que o país tem um potencial relevante, e todos tentarão aproveitar", afirmou.
Mas, com o impacto que as matrizes sofreram por conta da crise global, as montadoras terão de levantar a maior parte dos recursos internamente.
A General Motors do Brasil, subsidiária de uma das empresas que mais sofreram com a crise nos Estados Unidos, por exemplo, já anunciou que seus investimentos serão fruto de geração própria de caixa.
Segundo executivos do mercado ouvidos pela reportagem, a dificuldade maior será para as montadoras que se instalaram no país mais recentemente e cujos volumes de vendas são menores.
Nesse caso, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) desempenhará papel importante. Além da General Motors, a Renault já anunciou que "boa parte" dos recursos aplicados nos próximos anos será financiada pelo banco de fomento.
Dados dos BNDES mostram que foram desembolsados neste ano -até a última sexta-feira- R$ 450,6 milhões para projetos de montadoras. No ano passado, o valor foi ainda mais alto -R$ 633,8 milhões.


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