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ANÁLISE
Agora, governo Lula admite que eleição precipitou crise
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um documento oficial do governo Luiz Inácio Lula da Silva
acaba por reconhecer algo que o
PT contestou durante toda a campanha eleitoral: o temor de uma
vitória da oposição contribuiu para a crise financeira iniciada no
ano passado.
"Internamente, as incertezas
quanto à evolução da economia
brasileira, decorrentes, em parte,
do processo eleitoral, conduziram
ao aumento da aversão ao risco",
relata a carta aberta do presidente
do Banco Central, Henrique Meirelles, ao ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) para explicar o
descumprimento das metas de inflação.
Simbolicamente, a manutenção
do regime de metas de inflação,
aceita por Lula ainda na campanha, é um dos melhores exemplos
de como o governo, no esforço
diário para aplacar as mencionadas incertezas do mercado, sacrifica as promessas de mudança do
candidato.
O compromisso significa muito
mais que fixar periodicamente
uma taxa desejada para o IPCA
anual. Por trás do regime, existem
princípios, procedimentos, teoria
e -para usar uma palavra que é
tabu- ideologia.
Logo de início, o governo Lula
sancionou o entendimento ortodoxo de que a única função do BC
é preservar a estabilidade da moeda, com autonomia para decidir
como pretende fazê-lo.
Não interessa mais, por exemplo, se o Ministério do Desenvolvimento avalia que há um nível
ideal de taxa de câmbio para a obtenção do superávit comercial almejado; ou se o Ministério do Planejamento trabalha com determinadas taxas de crescimento econômico para suas metas de longo
prazo.
As expectativas de crescimento,
redução do desemprego e ampliação dos gastos sociais são apenas
isso -expectativas. Meta, de fato,
é não deixar a inflação passar de
8,5% neste ano e 5,5% em 2004.
Previsível e confiável
Documentos com as explicações do Banco Central para as medidas destinadas a atingir esses
objetivos e relatórios minuciosos
sobre a evolução dos preços serão
divulgados, regularmente, ao governo, à sociedade e, claro, ao
mercado.
Tudo se afina com o objetivo de
tornar a política econômica previsível, institucionalizada e confiável, que também conduz as insistentes declarações de Palocci negando choques, mágicas, surpresas e heterodoxia.
Assim, calcula-se, serão aplacados aos poucos os temores dos investidores, o que já foi conseguido
em parte. O dólar, se o cenário internacional ajudar, pode voltar a
cair, afastando o risco de descontrole da inflação e, no futuro,
abrindo caminho para a recuperação da economia.
Incômodo
Louváveis pela transparência, as
regras do regime de metas de inflação são capazes de levar muito
incômodo à retórica política. Como na carta de Meirelles, trata-se
de admitir que, mesmo vencido
pela esperança como prega a frase-símbolo de Lula, o medo ainda
é perigoso.
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