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São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 2003

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ANÁLISE

Agora, governo Lula admite que eleição precipitou crise

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um documento oficial do governo Luiz Inácio Lula da Silva acaba por reconhecer algo que o PT contestou durante toda a campanha eleitoral: o temor de uma vitória da oposição contribuiu para a crise financeira iniciada no ano passado.
"Internamente, as incertezas quanto à evolução da economia brasileira, decorrentes, em parte, do processo eleitoral, conduziram ao aumento da aversão ao risco", relata a carta aberta do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) para explicar o descumprimento das metas de inflação.
Simbolicamente, a manutenção do regime de metas de inflação, aceita por Lula ainda na campanha, é um dos melhores exemplos de como o governo, no esforço diário para aplacar as mencionadas incertezas do mercado, sacrifica as promessas de mudança do candidato.
O compromisso significa muito mais que fixar periodicamente uma taxa desejada para o IPCA anual. Por trás do regime, existem princípios, procedimentos, teoria e -para usar uma palavra que é tabu- ideologia.
Logo de início, o governo Lula sancionou o entendimento ortodoxo de que a única função do BC é preservar a estabilidade da moeda, com autonomia para decidir como pretende fazê-lo.
Não interessa mais, por exemplo, se o Ministério do Desenvolvimento avalia que há um nível ideal de taxa de câmbio para a obtenção do superávit comercial almejado; ou se o Ministério do Planejamento trabalha com determinadas taxas de crescimento econômico para suas metas de longo prazo.
As expectativas de crescimento, redução do desemprego e ampliação dos gastos sociais são apenas isso -expectativas. Meta, de fato, é não deixar a inflação passar de 8,5% neste ano e 5,5% em 2004.

Previsível e confiável
Documentos com as explicações do Banco Central para as medidas destinadas a atingir esses objetivos e relatórios minuciosos sobre a evolução dos preços serão divulgados, regularmente, ao governo, à sociedade e, claro, ao mercado.
Tudo se afina com o objetivo de tornar a política econômica previsível, institucionalizada e confiável, que também conduz as insistentes declarações de Palocci negando choques, mágicas, surpresas e heterodoxia.
Assim, calcula-se, serão aplacados aos poucos os temores dos investidores, o que já foi conseguido em parte. O dólar, se o cenário internacional ajudar, pode voltar a cair, afastando o risco de descontrole da inflação e, no futuro, abrindo caminho para a recuperação da economia.

Incômodo
Louváveis pela transparência, as regras do regime de metas de inflação são capazes de levar muito incômodo à retórica política. Como na carta de Meirelles, trata-se de admitir que, mesmo vencido pela esperança como prega a frase-símbolo de Lula, o medo ainda é perigoso.


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