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FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL
Após declaração do Tesouro americano pedindo medidas para a economia brasileira crescer, economista do Morgan Stanley faz o mesmo
Banco também cobra crescimento do Brasil
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
Vinte e quatro horas depois de
o subsecretário norte-americano
do Tesouro, John Taylor, ter cobrado do Brasil "medidas que façam a economia crescer, com empregos e de forma sustentada", foi
a vez de o setor privado global tocar
a mesma música.
Stephen Roach, economista-chefe do banco Morgan Stanley,
disse ontem em Davos que tanto o
Brasil como a América Latina carecem de "demanda doméstica".
É uma outra forma de dizer que
falta a economia crescer, com empregos e de forma sustentada, na
boca do economista-chefe de
uma portentosa firma de serviços
financeiros globais.
Sem demanda doméstica firme,
acha Roach, o Brasil fica dependendo demais do que ocorre com
a economia dos EUA. "Se esta tiver problemas, a América Latina
terá sérios problemas", disse.
A questão óbvia seguinte é se a
economia americana está ou não
em uma fase de crescimento sustentável e por quanto tempo.
Essa dúvida foi o eixo do debate
sobre a economia mundial, na
manhã de ontem, na abertura do
encontro anual 2004 do Fórum
Econômico Mundial, uma Organização Não-Governamental com
status de consultora da ONU (Organização das Nações Unidas),
que, todo janeiro, reúne na cidadezinha suíça de Davos um milhar de líderes governamentais,
empresariais e da academia.
A dúvida sobre a economia norte-americana não foi desfeita no
debate, que oscilou entre dois extremos. De um lado, o pessimismo já clássico de Roach, o primeiro a soar o alarme sobre a desaceleração nos Estados Unidos, há
três anos. De outro, o otimismo
de Jacob Frenkel, presidente de
outra gigante das finanças, a Merrill Lynch International.
Razões para o otimismo, na visão de Frenkel: a flexibilidade, a
competitividade e a desregulamentação da economia norte-americana, mas, acima de tudo, o
"espetacular" ganho de produtividade (1,5% ao ano, entre 1972 e
95, 2,7% de 1998 a 2002).
Razões para pessimismo, segundo Roach: endividamento recorde dos EUA, falta de poupança
interna, não geração de empregos, "com o que falta o combustível representado pela renda".
Crescimento do Brasil
No meio desses extremos e de
avaliações sobre as economias européia, japonesa e chinesa, não
sobrou para o Brasil. Nos 75 minutos que durou a discussão, a
palavra Brasil nem foi mencionada. Só depois é que os jornalistas
brasileiros que cobrem o encontro introduziram o assunto.
Aí, vieram os elogios já habituais do mundo financeiro ao desempenho do governo Lula no
seu primeiro ano.
"Tenho uma avaliação muito
positiva", afirma Frenkel (Merrill
Lynch), "pelos sérios esforços realizados na área orçamentária e na
reforma do sistema de pensões".
Reforça Fred Bergsten, que é diretor do Instituto para a Economia Internacional (Washington):
"Foi muito bem. Recuperou um
alto grau de estabilidade na economia".
Mas Bergsten, especialista em
comércio, também tem sua cobrança: quer que o Brasil ponha
bem alto na sua agenda as negociações comerciais tanto para a
Área de Livre Comércio das Américas (Alca) como na Organização
Mundial de Comércio (OMC).
A tese do economista é que agora que os EUA e a União Européia
acabam de fazer acenos de liberalização na área agrícola, o Brasil
tem que "atuar agressivamente
para revigorar as negociações".
Bergsten compra a tese, comum
entre autoridades norte-americanas, de que o governo brasileiro
tratou de levantar empecilhos, especialmente na Alca, em vez de
abraçar com todo o ardor a liberalização comercial.
A satisfação com o desempenho
do governo Lula é exposta também por Charles Dallara, diretor-gerente do Instituto das Finanças
Internacionais, que reúne os
grandes bancos globais.
Cobrança
Mas ele também tem suas cobranças: as reformas microeconômicas (como a Lei de Falências), prometidas no ano passado
em Davos pelo ministro Antonio
Palocci Filho (Fazenda), e um sistema tributário realmente eficaz.
Dallara é outro que condiciona
um crescimento mais sólido do
Brasil ao desempenho da economia norte-americana. Sem ser tão
pessimista como Roach, Dallara
acha que o crescimento atual não
terá longa duração. "Os EUA têm
que encarar seu déficit fiscal."
A questão do déficit fiscal foi o
outro eixo do debate sobre a economia norte-americano, casada
com um segundo déficit, o das
contas externas. Nesse ponto,
uma segunda pergunta ficou sem
resposta: até quando é sustentável
o que os economistas chamam de
"déficits gêmeos" dos EUA (o orçamentário e o externo)?
A única tentativa de resposta foi
dada pelo moderador do debate,
Martin Wolf, principal colunista
econômico do jornal britânico
"Financial Times":
"Conduzo esse debate em Davos há seis anos e uma questão
volta sempre: a economia mundial continua dependendo de
uma situação insustentável nos
Estados Unidos".
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