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CRISE NOS MERCADOS
Mercado reavalia preços em dia de pânico
Sem referência das Bolsas nos EUA, mercados europeus têm maiores perdas desde 11 de Setembro; Bovespa cai 6,6%
Economistas temem contaminação da China e falam em reavaliação nos preços de ações, dívidas, commodities e moedas
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os mercados globais viveram
ontem um dia de pânico. As
principais Bolsas da Ásia, da
Europa e das Américas desabaram por conta do pessimismo
de que uma recessão nos Estados Unidos contamine todas as
economias do planeta, preocupação que até o ano passado era
atenuada pelo forte crescimento da China e de demais países
emergentes.
Com o mercado americano
fechado devido ao feriado de
Martin Luther King, os investidores perderam ainda mais a
referência dos negócios. Na dúvida, preferiram vender ontem
ações, commodities, títulos e
moedas de maior risco a apostar em uma melhora que pode
não se confirmar nos próximos
dias. Desde a sexta-feira, os
mercados recuam por conta da
decepção com o pacote de corte
nos impostos nos EUA. A visão
é que terá pouca força para evitar uma recessão no país.
Na Ásia, a Bolsa de Xangai
caiu 5,14%, enquanto a de Hong
Kong recuou 5,49%. Em Tóquio, a baixa foi de 3,86%, a
maior em dois anos. Na Europa, as perdas foram as maiores
em um único dia desde os atentados de 11 de Setembro: 7,16%
em Frankfurt, 6,83% em Paris e
5,48% em Londres. Nas Américas, a Bovespa recuou 6,6% e
voltou a 53.709 pontos, também uma das piores baixas desde o 11 de Setembro. No México, a baixa foi de 5,35%, e, em
Buenos Aires, de 6,27%. Para
hoje, é forte a expectativa em
torno da abertura das Bolsas
americanas. Se abrirem em forte baixa, podem alimentar uma
nova rodada de venda de papéis
nos mercados.
Anunciada em diversos momentos de 2007, a crise nos
mercados globais dá sinais de
que chegou e de que pode demorar a passar. Para economistas, a derrocada ontem está ligada a um recálculo geral de
preços com base em uma nova
realidade: a de um mundo em
desaceleração econômica, que
consome menos.
O motor da desaceleração é o
crédito menor nos EUA. Como
os bancos tiveram de reconhecer perdas contábeis, diminuiu
o montante que estavam autorizados a emprestar. Para não
ficar com o nível de crédito acima de suas possibilidades, emprestam menos e ainda precisaram de injeção de capital de
fundos de países do Oriente
Médio e da Ásia. Sem crédito, o
americano consome menos, e
os empresários seguram os investimentos. Um dos resultados é o aumento do desemprego, que acontece desde dezembro. Nos EUA, 70% do PIB vem
do consumo. É dessa forma que
a crise no sistema financeiro
chega ao resto da economia e
afeta outros setores.
Com as economias cada vez
mais interligadas, a desaceleração americana traz menor demanda por produtos chineses,
europeus e do restante do
mundo. A demanda menor dever derrubar preços de commodities, em sua maioria de países
emergentes como o Brasil.
Para o professor Marcio Holland, da FGV (Fundação Getulio Vargas), a economia americana deve viver um ano de forte
ajuste em 2008, com reflexos se
estendendo até em 2009. "A
crise do "subprime" [hipotecas
de alto risco] é apenas a "ponta
do iceberg". O mercado de crédito deve sentir grandes correções, que implicam redução de
liquidez. A Europa não ocupa o
lugar dos EUA nas finanças internacionais nem a China tem
sistema financeiro desenvolvido para isso."
"O que está acontecendo é o
reflexo dessa crise que vem se
arrastando desde agosto do ano
passado. Na virada de ano, os
bancos tiveram de reconhecer
o prejuízo de 2007. Menos crédito significa menos consumo e
lucros menores. Há uma expectativa de reavaliação completa
nos preços da economia", afirmou Alexandre Jorge Chaia,
professor de avaliação de riscos
do Ibmec-SP.
Fator China
Até o ano passado, a China
era vista como motor capaz de
segurar a demanda mundial em
caso de desaceleração nos EUA.
Nos últimos dias, porém, começaram também especulações
sobre o grau de exposição dos
bancos chineses aos títulos
ruins do mercado imobiliário
americano. Mesmo as exportações chinesas começam a desacelerar para os EUA. Tudo isso
pode levar a um estouro no otimismo com a Bolsa de Xangai,
que subiu 96,14% em 2007.
"Não dá para dizer que esse
cenário [negativo] é definitivo.
Só vai saber se veio para ficar se
a China for contaminada também", disse Marcelo Ribeiro, da
Pentágono Asset.
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