São Paulo, terça-feira, 22 de janeiro de 2008

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CRISE NOS MERCADOS/ GOVERNO BRASILEIRO

EUA precisam impedir crise global, diz Lula

Para ele, economia nunca esteve tão sólida; Mantega vê "quase pânico" nos mercados, mas descarta ação emergencial

Para Meirelles, economia brasileira está "preparada" para a crise, mas deve sofrer impacto com piora da situação nos Estados Unidos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o Brasil está "tranqüilo" em relação à crise, mas que poderá, "se for necessário, tomar as medidas que a situação exigir". Para ele, as turbulências foram provocadas por "frustração" em relação às medidas anunciadas na semana passada pelo presidente George W. Bush.
"Nós vamos ficar tranqüilos, acompanhar, e vamos, se for necessário, tomar as medidas que a situação exigir. Mas posso dizer para vocês que há tranqüilidade, tanto do meu ministro da Fazenda quanto do presidente do Banco Central, estamos apenas acompanhando. O Brasil nunca teve a solidez que tem hoje", disse Lula antes de dar posse a Edison Lobão no Ministério de Minas e Energia.
Lula voltou a falar que "os Estados Unidos precisam assumir a responsabilidade de evitar que esse crise se alastre e crie uma crise mundial". Disse que essa crise não deverá afetar os investimentos no Brasil nem o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). "Eu estou convencido de que nós vamos continuar no caminho certo."
Depois, durante discurso, Lula disse que ficou triste ao "ler artigos de de pessoas que parece que estão torcendo para que a crise americana crie algum problema para o Brasil", um "tipo de gente que não se conforma das coisas estarem dando certo neste país, que não se conforma que as coisas andem bem, que o povo esteja vivendo um momento de otimismo que há muito não vivia".
Apesar de falar em tranqüilidade, Lula disse que iria se reunir com os ministro Guido Mantega (Fazenda) e Henrique Meirelles (BC) para discutir a crise econômica.
Mantega classificou o dia de ontem como "de quase pânico" nos mercados internacionais e atribuiu o nervosismo a uma possível frustração dos agentes econômicos quanto ao efeito das medidas do pacote americano. Ele descartou a adoção de medidas de reforço para o enfrentamento da crise.
"Não podemos tomar um dia como representativo. Hoje [ontem] foi um dia de quase pânico porque as Bolsas caíram muito no mundo todo e isso traz contágio, o que não quer dizer que amanhã e depois de amanhã será assim", avaliou. A exemplo de Lula, ele disse que as autoridades americanas deveriam adotar novas medidas destinadas a acalmar os mercados.
Mantega disse ainda que, se a crise na economia americana piorar e se alastrar, confirmando o diagnóstico de retração internacional, as cotações das commodities (produtos agrícolas e minerais) serão atingidas, com efeito negativo na expansão das exportações brasileiras.
Já Meirelles tentou tranqüilizar o mercado financeiro. Disse que o Brasil está preparado para a crise, mas deixou clara a possibilidade de o BC aumentar os juros básicos no futuro, caso seja necessário.
"Minha mensagem é uma só: estamos preparados", afirmou Meirelles no final do discurso na cerimônia de posse da nova diretora de Assuntos Internacionais do BC, Maria Celina Arraes. Ele lembrou os principais indicadores do Brasil, principalmente na área externa. Citou que há cinco anos o país precisava de três anos de exportações para resgatar toda a dívida externa líquida. Hoje, um mês de vendas ao exterior já liquidariam esta conta.
Durante o discurso, o presidente do BC disse não ter a ilusão de que o Brasil esteja imune à crise nos EUA, que, para ele, podem entrar em recessão. Mas lembrou que o BC já havia alertado para a possibilidade de crise externa.
A mais recente ata do Copom (Comitê de Política Monetária, que define os juros básicos da economia) já indicava que a turbulência externa poderia impedir a queda dos juros nas reuniões seguintes.
"O Banco Central, sempre que necessário, tomará medidas preventivas para evitar problemas futuros. O BC vem trabalhando consistentemente para reduzir a vulnerabilidade da economia brasileira a choques externos", disse Meirelles.
O presidente do BC disse que o país já passou por "experimentalismos" e que o melhor arcabouço para a economia é a responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e compromisso com as metas de inflação.


Com a Reuters


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