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Setor mais atendido por BNDES lidera cortes
Recordista em demissões no final do ano, indústria de alimentos e bebidas recebeu 11% dos desembolsos do banco em 2008
Ministro do Trabalho defende punição a empresas que demitem após receber recursos de bancos públicos; companhias criticam
JULIANA ROCHA
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O setor da indústria que mais
demitiu nos dois últimos meses
de 2008, o de alimentos e bebidas, foi também o que recebeu
mais recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) entre janeiro e novembro.
O recordista de demissões
formais tomou R$ 8,6 bilhões
em crédito no BNDES ao longo
do ano -11% do desembolso total da instituição no período.
Um cruzamento feito pela
Folha a partir de dados do
BNDES e do Ministério do Trabalho apontou que os cinco setores que mais fecharam postos
de trabalho com carteira assinada no fim do ano receberam
R$ 16,9 bilhões em financiamento do banco, ou seja, 21%
do total de desembolsos entre
janeiro e novembro de 2008.
Nesse período, o banco concedeu R$ 78,5 bilhões para empresas investirem, com os juros
mais baixos cobrados no sistema financeiro brasileiro.
Ao longo do ano, o setor de
alimentos e bebidas foi também o que mais contratou. O
saldo de 2008 mostrou que foram criados 57.529 postos de
trabalho formais a mais do que
o número de demissões. Mas
no fim do ano, com os efeitos da
crise mundial, as indústrias do
setor fecharam 123,2 mil vagas.
Procurada, a Abia (Associação Brasileira das Indústrias de
Alimentação) informou que
não tinha dados suficientes sobre as empresas associadas para que pudesse comentar.
Segunda colocada no ranking
de setores que mais demitiram
no fim do ano, com menos 29
mil vagas formais, a indústria
têxtil tomou empréstimos de
R$ 1,2 bilhão no BNDES.
O diretor-superintendente
da Abit (Associação Brasileira
da Indústria Têxtil), Fernando
Pimentel, disse que o desembolso do banco com o setor ainda é pequeno se comparado
com o tamanho desta indústria
na economia brasileira. Ele diz
que os recursos oferecidos pelo
BNDES não podem ser considerados ajuda do governo.
"Não tem ajuda nenhuma. O
desembolso do BNDES passa
por crivo técnico. Não tivemos
isenção de impostos, dinheiro a
fundo perdido. O juro é barato
porque este é um banco de desenvolvimento. Esta deveria
ser a taxa de juros do país."
Os juros do BNDES são de
6,25% ao ano, mais a taxa de administração que repassa os recursos. Em média, os juros finais ficam em torno de 9%
anuais. A taxa média para empresas que tomam empréstimos no país é de 31,2% (último
dado do Banco Central).
O terceiro setor que mais demitiu em dezembro, o de calçados, recebeu R$ 643 milhões
em financiamento do banco em
2008. A indústria calçadista foi
uma das três que fecharam o
ano com saldo de demissões
(além da indústria de borracha
e couro e moveleira) negativo,
com 8.703 postos formais fechados. A Abicalçados não quis
comentar os dados, também
por falta de informações.
Nesta semana, o ministro
Carlos Lupi (Trabalho) afirmou que o BNDES vem cumprindo as cláusulas dos contratos com as empresas que preveem punições em casos de demissão. "Caso um projeto financiado resulte em redução
de pessoal da empresa beneficiada, o banco exige programa
de treinamento ou recolocação
dos trabalhadores", disse.
Segundo ele, tudo precisa ser
acordado com os representantes dos trabalhadores e o não-cumprimento pode ser penalizado com o vencimento antecipado do contrato, o pagamento
imediato dos recursos desembolsados e a suspensão de desembolsos pendentes. O
BNDES informou, porém, que
as demissões precisam ter sido
causadas pelo próprio projeto
financiado para que as punições sejam aplicadas, como no
caso de compras de máquinas
que resultam em demissões.
Para o professor da Unicamp
Anselmo Luiz dos Santos, é
"justo" o governo fazer cobranças das empresas beneficiadas
com recursos públicos. "Elas
precisam esperar mais um pouco antes de demitir", declarou.
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