São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

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Governo Obama defende mudar a ajuda aos bancos

Indicado ao Tesouro quer "reformas fundamentais" no resgate a instituições

Mercado vive apreensão de que novo presidente radicalize e estatize bancos mais afetados pela maior crise desde os anos 1930

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Em meio à forte apreensão de que o governo Barack Obama possa radicalizar e nacionalizar os bancos mais afetados pela maior crise desde os anos 1930, Timothy Geithner, indicado pelo novo presidente para o Departamento do Tesouro, disse ontem serem necessárias "reformas fundamentais" no programa de socorro ao sistema financeiro.
"Em uma crise dessa magnitude, o caminho mais prudente é tomar as decisões mais poderosas (...) para colocar a economia nos trilhos e fazer tudo para que os bancos voltem a ativar o crédito", disse Geithner, presidente do escritório regional do Fed (banco central dos EUA) de Nova York.
Geithner prestou depoimento ao Comitê de Finanças do Senado, quando também foi questionado sobre problemas em declaração ao fisco de 2001 (leia texto nesta página). Ao fim da audiência, democratas e republicanos disseram que seu nome deve ser aprovado.
O Congresso já deu sinal verde a uma segunda linha de US$ 350 bilhões para que o Tesouro socorra o sistema bancário, mas ela ainda não foi usada. Outros US$ 350 bilhões já foram empregados, sendo que 257 bancos tiveram injeções de quase US$ 200 bilhões (61% só em sete grandes bancos).
Embora a nacionalização apareça como uma saída radical, há a chance de o Tesouro absorver os ativos "tóxicos" dos bancos (resultado de empréstimos feitos sem garantias reais suficientes) e transformá-los em títulos que possam ser convertidos mais à frente em ações das instituições.
Isso deixaria o governo norte-americano na posição de se tornar o maior acionista de alguns bancos.
Antes da hipótese da nacionalização, a ideia que vazou seria a criação de um banco estatal que assumiria grande parte dos títulos "tóxicos". Seria uma espécie de "lata de lixo" em que os bancos jogariam esses papéis, limpando seus balanços.

Ideia com fôlego
Mas a ideia da nacionalização, mesmo que não venha a ser exercida, é discutida e ganha fôlego por dois motivos:
1) Tendo na manga a possibilidade de controlar definitivamente os bancos se quiser, o Tesouro terá mais peso para forçar as instituições a recolocar no mercado, na forma de empréstimos, os recursos estatais já recebidos e que foram simplesmente "entesourados" nos caixas dos bancos;
2) Do ponto de vista do contribuinte, que está pagando a conta do socorro, a nacionalização tiraria o poder dos maiores acionistas e dos administradores, que não seriam recompensados com dinheiro público pela má gestão do banco. No limite, a instituição poderia ser tomada pelo governo e revendida depois de "limpa".
Apesar das resistências dos liberais e da ojeriza ao termo "nacionalização", algo parecido ocorreu no fim dos anos 1980.
Na época, o governo criou a RTC (Resolution Trust Corporation), que absorveu a totalidade das carteiras de poupança e empréstimos dos chamados "bancos zumbis". Eles eram menores e menos numerosos, mas estavam virtualmente quebrados como muitos agora.
Depois de assumir a administração dos bancos, impondo perdas aos acionistas e afastando os controladores, a RTC injetou dinheiro suficiente para torná-los solventes e os revendeu no mercado.
Tanto nos Estados Unidos quanto no Reino Unido, as ações dos principais bancos afetados pela crise despencaram nos últimos dias em decorrência dos rumores de que os dois governos vêm considerando a alternativa extrema de nacionalizar as instituições mais problemáticas.
Em seu depoimento, mas sem dar mais detalhes, Geithner afirmou que o novo governo deverá apresentar um "plano econômico abrangente" nas próximas semanas.


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