|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo Obama defende mudar a ajuda aos bancos
Indicado ao Tesouro quer "reformas fundamentais" no resgate a instituições
Mercado vive apreensão
de que novo presidente radicalize e estatize bancos mais afetados pela maior crise desde os anos 1930
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
Em meio à forte apreensão
de que o governo Barack Obama possa radicalizar e nacionalizar os bancos mais afetados
pela maior crise desde os anos
1930, Timothy Geithner, indicado pelo novo presidente para
o Departamento do Tesouro,
disse ontem serem necessárias
"reformas fundamentais" no
programa de socorro ao sistema financeiro.
"Em uma crise dessa magnitude, o caminho mais prudente
é tomar as decisões mais poderosas (...) para colocar a economia nos trilhos e fazer tudo para que os bancos voltem a ativar
o crédito", disse Geithner, presidente do escritório regional
do Fed (banco central dos
EUA) de Nova York.
Geithner prestou depoimento ao Comitê de Finanças do
Senado, quando também foi
questionado sobre problemas
em declaração ao fisco de 2001
(leia texto nesta página). Ao fim
da audiência, democratas e republicanos disseram que seu
nome deve ser aprovado.
O Congresso já deu sinal verde a uma segunda linha de
US$ 350 bilhões para que o Tesouro socorra o sistema bancário, mas ela ainda não foi usada.
Outros US$ 350 bilhões já foram empregados, sendo que
257 bancos tiveram injeções de
quase US$ 200 bilhões (61% só
em sete grandes bancos).
Embora a nacionalização
apareça como uma saída radical, há a chance de o Tesouro
absorver os ativos "tóxicos" dos
bancos (resultado de empréstimos feitos sem garantias reais
suficientes) e transformá-los
em títulos que possam ser convertidos mais à frente em ações
das instituições.
Isso deixaria o governo norte-americano na posição de se
tornar o maior acionista de alguns bancos.
Antes da hipótese da nacionalização, a ideia que vazou seria a criação de um banco estatal que assumiria grande parte
dos títulos "tóxicos". Seria uma
espécie de "lata de lixo" em que
os bancos jogariam esses papéis, limpando seus balanços.
Ideia com fôlego
Mas a ideia da nacionalização, mesmo que não venha a ser
exercida, é discutida e ganha fôlego por dois motivos:
1) Tendo na manga a possibilidade de controlar definitivamente os bancos se quiser, o
Tesouro terá mais peso para
forçar as instituições a recolocar no mercado, na forma de
empréstimos, os recursos estatais já recebidos e que foram
simplesmente "entesourados"
nos caixas dos bancos;
2) Do ponto de vista do contribuinte, que está pagando a
conta do socorro, a nacionalização tiraria o poder dos maiores acionistas e dos administradores, que não seriam recompensados com dinheiro público
pela má gestão do banco. No limite, a instituição poderia ser
tomada pelo governo e revendida depois de "limpa".
Apesar das resistências dos
liberais e da ojeriza ao termo
"nacionalização", algo parecido
ocorreu no fim dos anos 1980.
Na época, o governo criou a
RTC (Resolution Trust Corporation), que absorveu a totalidade das carteiras de poupança
e empréstimos dos chamados
"bancos zumbis". Eles eram
menores e menos numerosos,
mas estavam virtualmente
quebrados como muitos agora.
Depois de assumir a administração dos bancos, impondo
perdas aos acionistas e afastando os controladores, a RTC injetou dinheiro suficiente para
torná-los solventes e os revendeu no mercado.
Tanto nos Estados Unidos
quanto no Reino Unido, as
ações dos principais bancos
afetados pela crise despencaram nos últimos dias em decorrência dos rumores de que os
dois governos vêm considerando a alternativa extrema de nacionalizar as instituições mais
problemáticas.
Em seu depoimento, mas
sem dar mais detalhes, Geithner afirmou que o novo governo deverá apresentar um "plano econômico abrangente" nas
próximas semanas.
LEIA MAIS sobre o governo
Obama no Caderno Mundo
Texto Anterior: Petrobras pode reduzir preço de combustíveis Próximo Texto: Geithner pede desculpas por erro há 7 anos Índice
|