São Paulo, sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

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Juro sobe com expectativa de alta da Selic

Maioria das modalidades de crédito registra alta em dezembro; para mercado, taxa básica subirá de 8,75% para 11,25% até o fim do ano

BC diz que juro e "spread" para pessoas físicas estão perto de menores níveis e recuo da inadimplência pode atenuar uma alta da Selic


EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A expectativa de aumento da taxa básica de juros a partir de abril já afeta o custo do crédito ao consumidor. As taxas das principais modalidades (crédito pessoal, consignado, veículos e aquisição de bens) subiram em dois dos últimos três meses, segundo dados do Banco Central. Em dezembro, só a taxa do cheque especial caiu, devido a uma procura menor.
Em outubro, quando os juros bancários deram o primeiro sinal de alta, o BC afirmava que era "um ponto fora da curva". No mês passado, no entanto, a maioria das taxas voltou a subir, inclusive no crédito com desconto em folha. Uma das explicações para essa mudança é o movimento de antecipação do mercado financeiro diante das previsões de que o BC aumentará os juros dos atuais 8,75% ao ano para 11,25% até o fim de 2010.
Desde setembro, o custo de captação dos bancos vem subindo. No caso das pessoas físicas, já voltou aos níveis do começo do ano passado. No último trimestre, esse aumento anulou metade da queda do "spread" bancário -parcela dos juros que embute o ganho dos bancos, custos, impostos e inadimplência- nesse período.
Apesar da alta recente nas principais linhas, o BC destaca que tanto juros como "spread" para pessoa física estão próximos dos menores níveis da história. Outro fato importante é a inadimplência, que segue em queda e pode amenizar o efeito do aumento da taxa básica.
Além disso, quando se pega a taxa média de juros, o indicador do BC mostra queda em dezembro, distorção causada pela diferença entre o custo das linhas mais baratas (44,4% no crédito pessoal), que aumentaram sua participação no total, e as mais caras (159% no cheque especial).
O economista-chefe da CNC (Confederação Nacional do Comércio), Carlos Thadeu de Freitas, diz que o comportamento futuro dos juros ao consumidor vai depender, principalmente, da diferença entre as expectativas do mercado e as decisões do BC. "Se a taxa Selic subir menos que o esperado, e o aumento for mais para o final do ano, as taxas que os bancos cobram podem cair. Além disso, o "spread" pode recuar, se a inadimplência mantiver a tendência de baixa", afirmou.
Para o economista Alexandre Andrade, da Tendências, os juros bancários podem cair ao longo deste ano, mas devem voltar a subir assim que o BC mexer na taxa básica. "O impacto maior [nos juros bancários] deve ficar para 2011. Mas, se esse movimento de alta da Selic for antecipado, pode acontecer antes."
Os dois economistas avaliam que ainda há espaço para redução do "spread" bancário, influenciado, principalmente, pelo recuo no percentual de crédito com prestações em atraso, que em novembro estavam em 5,8%.
No mês passado, a inadimplência voltou a cair para pessoa física e jurídica, mas fechou o ano em alta -5,6% dos empréstimos tinham atraso superior a 90 dias, período usado como referência-, ante 4,4% em dezembro de 2008.
Algumas linhas de crédito para pessoa jurídica também registraram alta em dezembro, como "hot money", desconto de promissórias e aquisição de bens.


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